Rodrigo Constantino: a fadiga do governo abriu espaço para o liberalismo!
O economista carioca Rodrigo Constantino foi um dos grandes responsáveis por popularizar nomes de autores liberais na mídia mainstreamatravés de suas análises e artigos nos últimos anos. Autor de oito livros, entre eles Economia do Indivíduo: O Legado da Escola Austríaca[1], Privatize Já![2], e Esquerda Caviar[3], o Presidente do Conselho do Instituto Liberal fala sobre sua saída da Veja, sua preocupação com a doutrinação ideológica nas escolas, analisa o conturbado momento político e econômico do país e expõe projetos futuros.
Em 2014, ao final da entrevista com Tom Martins[4] você menciona que há algumas coisas em sua obra “Privatize Já”[5], de 2012, que questiona atualmente. Em que mudou de opinião?
Nada ligado à economia, e sim às liberdades individuais. A venda de órgãos, por exemplo. Sei que o rim me pertence, mas será que por conta disso deve haver um mercado de órgãos humanos liberado no país? Será que isso não tem efeitos morais delicados não previstos pelos economistas libertários? A própria legalização das drogas: já fui mais convicto de sua necessidade, e hoje tenho ressalvas. No mínimo acho que está longe de ser uma prioridade no nosso país, com tantas coisas mais urgentes deixadas de lado. No dia em que formos um Canadá ou uma Austrália pensamos em levar adiante tais bandeiras mais radicais. É meu lado conservador falando mais alto. Ou apenas meu lado mais pragmático mesmo.
Você é um crítico feroz da doutrinação ideológica nas escolas brasileiras e atualmente está vivendo em Miami com sua família. O que você percebeu de diferente na educação que sua filha está tendo nos Estados Unidos? Há doutrinação nas escolas americanas também?
A diferença foi gritante no começo. Enquanto minha filha tinha que ficar escutando professores defendendo o PT em sala de aula no Brasil, em uma (boa) escola particular, nos Estados Unidos ela estuda os “pais fundadores”, numa escola pública. Mas não me engano: por aqui também há muito doutrinador, especialmente nas universidades. O que mais pega é a praga do politicamente correto. Essa “marcha dos oprimidos” tomou conta do mundo pós-moderno. É um saco e quase ninguém escapa!
Primeiro você e depois Joice Hasselmann[6]saíram da Veja, mesmo com a enorme quantidade de leitores e expectadores de ambos. No final de outubro a revista, inclusive, publicou editorial a favor da campanha do desarmamento. O que está acontecendo com a Veja? A sua saída do veículo lhe surpreendeu?
Sim, fui pego de surpresa. Sabia que a situação financeira não era das melhores, mas não esperava tantos cortes, ainda mais de um blog com milhões de visitas mensais. Prefiro evitar teorias conspiratórias, e busquei em erros meus o fator decisivo da saída, como uma foto portando uma arma dias antes. Mas quando Joice também saiu logo depois, o editorial defendeu o desarmamento, as páginas amarelas vieram com o socialista Randolfe Rodrigues e anúncios do Banco do Brasil de suas páginas voltaram a ocupar a revista; confesso que fiquei com a pulga atrás da orelha sim. Há algo de estranho no ar…
Como avalia a sua gestão à frente do Instituto Liberal[7]?
Eu assumi o IL e um mês depois fui convidado pela Veja. Logo, não tive tempo de me dedicar ao instituto, cuja gestão efetiva foi transferida para o Bernardo Santoro, para eu me dedicar “full time” aos textos. Passei para o Conselho Deliberativo depois, cargo que na prática já era o efetivo desde o começo. Minha função tem sido nortear as decisões do Santoro e divulgar a marca, o que tem sido feito por intermédio de meus artigos e dos artigos de colaboradores do IL publicados em meu blog. Sem recurso algum extra, o IL já tem quase 50 mil seguidores no Facebook e tem feito um bom trabalho na divulgação dos ideais liberais de forma mais elevada, sem cair nas baixarias das redes sociais ou se limitar apenas ao cotidiano político.
Há apenas 5 anos diversos autores (apenas para citar alguns: Mises, Hayek, Friedman e Sowell) eram desconhecidos no Brasil e hoje vemos centenas de grupos de estudos no país para estudar as obras deles. A que se deve a efervescência do movimento liberal no Brasil atual?
Creio que a alguns fatores convergentes. Em primeiro lugar, as redes sociais. Sem elas não teríamos o mesmo alcance, pois não conseguimos ocupar tanto a mídia “mainstream”. Em segundo lugar, ao esforço de alguns institutos e indivíduos que passaram a se dedicar mais a essa batalha no campo das ideias. Eu mesmo larguei o mercado financeiro para isso, e outros tomaram decisões similares. Por fim, a própria fadiga do PT no poder abriu enorme espaço aos liberais, pois a esquerda intervencionista ficou totalmente chamuscada com tanta incompetência e corrupção. O público está ávido por uma mensagem alternativa, por algo novo.
Durante as eleições presidenciais do ano passado muitos defenderam que era melhor o PT vencer as eleições para que ele “herdasse a crise que causou”. À época, você sustentou que era contra o posicionamento de “quanto pior melhor”. Tendo em vista tudo que ocorreu esse ano, mudou de opinião?
Se Aécio Neves tivesse vencido, a situação não estaria tão ruim. Sem dúvida haveria um enorme abacaxi a ser digerido, e o PT tomaria proveito disso na oposição. Mesmo com Dilma no poder, eles ensaiam uma migração à oposição, atacando o bode expiatório do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, símbolo da suposta guinada de Dilma ao “neoliberalismo” (uma piada de mau gosto). Muito do que estamos vivendo de caos hoje se deve à reeleição de Dilma e sua completa perda de credibilidade. Mas meu ponto principal continua válido: mesmo com a crise econômica, não há garantias de que o PT sairá do poder, apesar de isso parecer mais próximo hoje. O caso argentino era prova disso, até Macri derrotar o candidato de Kirchner. Se o “pior” servir mesmo para apear o lulopetismo do poder, então sim, eu admito que estava errado ao torcer pela vitória do PSDB.
Quais suas expectativas para 2016 no panorama econômico? Qual o caminho mais curto para sairmos dessa crise?
O caminho mais curto para o fim da guerra é a derrota, dizia George Orwell. O caminho curto não necessariamente é o melhor, eis o ponto. O mais curto poderia ser, por exemplo, um acordo entre PT e PSDB, como querem vários empresários, os que pedem que Lula e FHC se fechem numa sala para conversar. Acho isso temerário. Não há possibilidade de conversa com Lula. Ele deve ir preso, isso sim! Mas os tucanos são pusilânimes, isso já sabemos. Então tivemos que contar com o nosso “malvado favorito”, Eduardo Cunha. Só que ele foi pego com a conta na Suíça e preferiu acordo com o PT. Restam poucas alternativas então (a entrevista foi realizada antes da aceitação, por parte de Cunha, de um dos pedidos de impeachment de Dilma). Mas uma coisa é certa: manter Dilma até 2018 é loucura, e o custo será alto demais. Em 2016 teremos uma queda do PIB acentuada, depois de um 2015 já catastrófico. Estamos falando de mais de 5% de queda na atividade, mesmo com uma inflação de 10% ao ano. É um espanto! A única saída estrutural é partir para reformas liberais. Mas com o PT no governo, esquece!
Por fim, quais seus projetos futuros? Podemos esperar um novo livro?
RC: Sim, sempre. Tenho dois no forno, na verdade. Um deles em parceria com Miguel Nagib, da ONG Escola Sem Partido, justamente sobre doutrinação ideológica nas escolas e universidades. Outro projeto que tenho em mente é criar um portal novo em parceria com alguém de peso, para substituir o papel que cabia à revista Veja, mas que agora encontra-se vago. Pergunto: onde está a Fox News do Brasil?
[1] www.mises.org.br/Ebook.aspx?id=26
[2] Disponível em: www.buscape.com.br/privatize-ja-rodrigo-constantino-8580446414.html
[3] www.buscape.com.br/esquerda-caviar-rodrigo-constantino-8501404705.html
[4] Disponível em: www.youtube.com/watch?v=qFWha1EFm6A
[6] Joice Hasselmann deu a seguinte declaração sobre sua saída da Veja: www.youtube.com/watch?v=1ja_XiFBtM0
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