Belém sem perspectiva
Por Armando Soares

Por Armando Soares
Belém
encolheu e parou no tempo com a falência do setor econômico da borracha e nada
foi feito e programado para soerguer o município. Todas as tentativas da iniciativa
privada para desenvolver a cidade foram sabotadas pelo setor público, o que nos
leva a afirmar que políticos e administradores públicos são as maiores travas
para o seu desenvolvimento. A degradação da João Alfredo, antes uma passarela
comercial dinâmica está reduzida a um amontoado disforme de vendedores
ambulantes retrata fielmente a decomposição social e econômica de Belém. Belém
é hoje uma cidade limitada economicamente e sem cérebros que se apresentem para
tirá-la desse estágio. As doenças econômicas da cidade continuam vivas e são
encobertas por propagandas políticas enganosas. O que foi no passado uma
metrópole vigorosa e rica elogiada dentro e fora do país, hoje é uma célula
doente onde cresce a pobreza, a mediocridade e a criminalidade.
Durante o ciclo da borracha, Belém foi
considerada uma das cidades brasileiras mais desenvolvidas, não só por sua
posição estratégica - próximo ao litoral - mas também porque sediava um maior
número de residências de seringalistas, casas bancárias e importantes
instituições. O apogeu da cidade foi entre 1890 e 1920, quando contava com
tecnologias que as cidades do sul e sudeste brasileiros ainda não possuíam,
como, por exemplo: o Cinema Olympia, o mais antigo do Brasil em funcionamento e
considerado um dos mais luxuosos e modernos da época (inaugurado em 21 de abril
de 1912 auge do cinema mudo); Teatro da Paz, considerado um dos mais belos do
Brasil, inspirado no Teatro Scala de Milão; Mercado Ver-o-Peso, a maior feira
livre da América Latina; Palácio Antônio Lemos, Praça Batista Campos e várias
outras obras realizadas por políticos e administradores, que só puderam
realizar, a bem da verdade, um bom governo porque e exploração da borracha, uma
célula de desenvolvimento poderosa, disponibilizava recursos para os
investimentos públicos. Belém nessa época não precisa de recursos federais para
sustentá-la, pelo contrário, o Pará com as exportações da borracha enchia os
cofres do tesouro nacional, e muitas obras públicas no Rio e São Paulo foram
construídas com recursos gerados pela borracha.


A
degradação política, econômica e social de Belém tem origem na decadência da
atividade econômica da borracha. A força econômica da borracha aconteceu em
razão da Hevea brasilienses
(seringueira) ter seu habitat na Amazônia e ser o único fornecedor de borracha
para o mundo até a década de 1880, o que foi determinante para o
desenvolvimento da cidade. Assim, por mais de sessenta anos, a indústria de
produtos de borracha – setor chave do crescimento econômico das nações
industrializadas – recebia toda a sua matéria-prima da região amazônica. Mesmo
nos períodos em que o comércio de produtos florestais estava no auge de seu
vigor, como durante a expansão do cacau em fins do século XVII, a Amazônia se
colocava, como centro econômico, bem abaixo das áreas de agricultura e de
mineração das regiões nordeste e central do Brasil, o que comprova a
importância da borracha como fator de desenvolvimento econômico. Na verdade,
apesar de suas muitas especiarias, castanhas, óleos e madeiras, a Amazônia
continuou a ser, comercialmente, um lugar atrasado até o momento em que a
inaudita demanda do mundo industrializado pela borracha tornou lucrativa a
produção extrativa em larga escala. O negócio da borracha amazônica suplantou a
pratica desenvolvidas pelos portugueses na era colonial, consolidando modos
tradicionais da extração e troca.




No auge
da expansão, Belém era uma das mais notáveis cidades da América Latina. Depois
do Rio de Janeiro e de Santos, era o porto mais movimentado do Brasil, com uma
população que se aproximava rapidamente do quarto de milhão, em 1910. Possuía
um sistema de bondes elétricos, amplo serviço telefônico, água encanada e
iluminação pública elétrica. As principais vias públicas eram bulevares,
uniformemente pavimentados, margeados de mangueiras, cujas frondes dessas
graciosas árvores protegiam os transeuntes do tórrido sol tropical. Diversas
praças públicas, grandes e vistosamente ajardinadas, exibiam fontes, coretos e
estátuas imponentes, e a Praça da República, localizada no centro da cidade,
apresentava pomposos edifícios, tais como o Palácio do Governo e o Teatro da
Paz. Por toda a cidade espalhavam-se monumentos e palacetes de tamanho e
decoração variados. O resultado da ação conjunta de uma expansão no negócio da
borracha e de uma máquina estadual desejosa de criar um espaço urbano que impressionasse
representou um acréscimo à longa lista das cidades brasileiras que foram fruto
da expansão econômica.




Qual o
projeto atual criado para desenvolver e tirar Belém do buraco, do
subdesenvolvimento? Turismo? Indústria? Serviços? Até o momento tudo não passou
de um oba-oba, de discurso político e eleitoreiro? Como enfrentar no momento a
oferta de mão-de-obra e a que ingressará nos próximos anos na cidade? Como o
município pode se beneficiar do IPTU em uma cidade onde prevalece à pobreza
morando em palafitas e em invasões com renda abaixo do salário mínimo? Com que recursos
o governo da cidade pode garantir segurança digna para uma população ameaçada
por criminosos filhos da pobreza que crescem assustadoramente? Qual o projeto
para sustentar e desenvolver as ilhas agregadas a Belém que acomodam a pobreza?
Questões que o povo gostaria de saber.
Belém
tem a quinta maior favela do país na Estrada Nova e Jurunas, na zona sul de
Belém, que avança pelas margens e cursos de igarapés e rios que desembocam na
Baía de Guajará. Num dos braços da favela, um paredão de barracos margeia um
canal de esgoto e entra quase um quilômetro Rio Guamá adentro. Os casebres são
erguidos em forma de palafita, sobre troncos de madeira a três metros do
espelho de água escura. As paredes costumam ser de tábua, lona ou mesmo tijolo.
Uma tubulação clandestina de água tratada passa por baixo das moradias, com
aberturas controladas. Da bica, a água é puxada por baldes amarrados em cordas.
Dados do último Censo mostram que 66% da população da região metropolitana de
Belém vivem em favelas. O termo mais difundido em outras regiões do País para
definir moradias em situação precária é menos conhecido no Pará. São nas
“invasões” e “baixadas”, termos mais populares, que mora a maior parte dos
habitantes da capital paraense. Esse cenário vem sendo construído desde a
falência da atividade econômica da borracha e nada foi feito por políticos,
prefeitos e governadores para reverter o processo de empobrecimento e
favelização, local preferido para o tráfico de drogas e vícios de toda a
natureza.

A
iniciativa privada bem que tentou mudar esse cenário, principalmente a partir
do governo do presidente Castelo Branco que disponibilizou um programa
extraordinário de incentivos fiscais. Lamentavelmente a burocracia estatal,
políticos e governantes contaminados com o ranço estatizante e desprovidos de
conhecimentos detonaram todos os investimentos industriais montados em Belém impossibilitando
que a cidade acomodasse uma célula que garantiria o seu desenvolvimento,
emprego abundante, renda e qualidade de vida, suprindo a ausência da atividade
econômica da borracha, a única célula de desenvolvimento concreto que fez a
história do Pará e consequentemente construiu a saudosa e rica Belém.

Belém,
sem esgoto, com trânsito caótico mantido em crescimento geométrico para
sustentar um comércio de multas criminosas, cidade das palafitas e da pobreza, subdesenvolvida,
paraíso da bandidagem é a prova maior da incompetência e da ação maléfica de
políticos e administradores públicos. Belém pelo perfil econômico e social que
apresenta é uma cidade sem perspectiva de crescimento, vive apenas do seu passado.
Armando Soares – economista
muito bom.
ResponderExcluir