sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Casta política brasileira


“Chega sempre a hora em que não basta apenas protestar: após a filosofia, a ação é indispensável.”
(Victor Hugo)

Por Armando Soares


                Hermann Hesse, em seu livro “O Jogo das Contas de Vidro” construiu uma utopia na forma de uma comunidade no futuro que atende a uma atividade lúdica puramente intelectual. Hesse imagina um pequeno Estado totalmente espiritual que denomina Castália (País da Castidade). Nessa região uma elite de jovens se dedica à música, à astronomia, à matemática... O herói é José Servo que ensina aos beneditinos o jogo das pérolas de vidro, pois a ordem laica que representa deve estabelecer relações com a ordem religiosa dirigida pelo Padre Jacobus, um historiador. Por seu intermédio Servo, escolhido para o importante posto de “magister ludi”, mestre do jogo, descobre o valor da ciência histórica. Estudando História percebe que Castália e o jogo das contas de vidro são perecível, tão grande é a oposição entre o mundo exterior móvel e aquele universo perfeito, mas fixo. É preciso unir Castália ao mundo, assim o “magister” pede desligamento de suas funções. Para Hesse o sentido da vida é a constante regeneração. O livro é extraordinário e de grande profundidade.


                No Brasil não há regeneração, há cinismo, devassa, mentira e corrupção cada vez mais profundas. O perfil do Brasil é de castas políticas, de privilégios e de especialistas em se aproveitar do poder do Estado para obter vantagens. Os três poderes, Executivo, Legislativo e Judiciário não passam de castas vivendo num mundo rico sustentado por um povo sem rosto e dignidade, simplesmente servos que se deixam intimidar por uma elite institucional podre e sem compromisso com um projeto de nação. O povo brasileiro nesse Brasil de castas privilegiadas é apenas um detalhe sem expressão, coragem e alma. Qualquer reação desses servos, a casta brasileira põe em execução a estratégia de pão e circo muito usada pelos romanos para conter a fome e a revolta do povo. O pão é representado por bolsas famílias e outros presentes comprados com o dinheiro do trabalho dos servos. Na distribuição do pão o beneficiado é todo o brasileiro ignorante, aqueles que desprezaram os estudos, a aprendizagem e se tornam servos, escravos, massa de manobra eleitoreira. Educação para essa elite que comanda as instituições soa com libertação dos servos, um veneno para a saúde das castas políticas podres. A classe média é a grande responsável pela ascensão de Lula, Dilma e PT ao poder, hipnotizada que foi pelo falso discurso, e promessas mentirosas de uma vida melhor. Num voo cego aceitaram colocar no poder toda a sujeira política que se escondia atrás de uma de outra elite, a dos coronéis e ditadores. Agora, estão pagando com seus salários e renda a corrupção e o desvio do dinheiro público e submetidos a um torniquete de políticas insanas e desconfortáveis instrumentos que vai rebaixar ainda mais a qualidade de vida. Melhoria de vida nem pensar, pois depende de dinheiro grande e concorre com o enriquecimento criminoso das castas. O espetáculo do circo pode ser assistido diariamente na televisão. Os atores são os três poderes, onde são expostas, sem nenhum pudor as “jogadas” políticas, toda a vergonha nacional dos poderes que perderam a razão de existir dado seu distanciamento do povo. A ordem moral e ética deixou de existir a muito tempo e o caos social está instalado. A regra de sobrevivência é salve quem puder. O judiciário, com raríssima exceção é apenas uma peça institucional decorativa. Quem a ela recorrer, salvo os interesses das castas políticas, perde tempo, morre sem conseguir nenhum resultado, perde seu patrimônio, sua saúde e ainda enriquece advogados, juízes e servidores.  


                Nicholas Hagger, no prólogo de seu livro A Corporação ressalta que a história atual e os fatos históricos que nos ensinam nas escolas, ou lemos nos jornais e nos livros, direcionam o foco da nossa atenção para as figuras e instituições públicas – reis, primeiros-ministros, nações – e enfatizam aqueles eventos visíveis. No entanto, existem tendências que determinam esses eventos e outras figuras escondidas da vista do público que os manipulam. Pode ser difícil distinguir claramente essas figuras, bem como decifrar e esclarecer a sequência correta dos eventos. No Brasil o cenário está tão depravado que toda a velhacaria política está exposta para todos os brasileiros diariamente pela televisão. Se havia algo escondido nos porões da política suja, Dilma, Lula e o PT a tornaram público para todos os brasileiros. Ninguém no Brasil em sã consciência desconhece como funciona o Executivo, o Legislativo, o Judiciário e a política. Toda a podridão política, todas as “jogadas” tramadas para favorecer o político e administrador A ou B já é do conhecimento público graças à televisão e o apego do PT ao poder, do vale-tudo para a conquista e permanência no poder. Se depois de toda a sujeira política ser exposta na televisão o brasileiro ainda tem dúvida sobre o caminho a tomar, então não há salvação para o Brasil. Impressiona assistir na televisão o descaramento e a mentira feita de maneira cínica, como por exemplo, a encenação realizada pela presidente do Brasil e de Lula afirmando que não existe ninguém com moral para denunciá-los e afastar do governo a presidente. Simplesmente a presidente do Brasil esqueceu que existem milhões de brasileiros com moral que querem a sua saída da presidência. Não é um político qualquer que quer a sua saída, e nem a justiça, quem quer a sua saída é a grande maioria de brasileiros.


                Infelizmente não podemos dissociar a questão ambiental da política suja, pois são irmãos gêmeos da mesma mãe. Pascal Bernadin, escreveu há 14 anos com detalhes, o que chamou de Império Ecológico ou a Subversão da Ecologia pelo Globalismo, onde, nas 606 páginas mostra toda a mentira ambiental que desafia a idiotice brasileira que acha a política ambiental brasileira uma coisa boa e necessária. Alguns trechos da conclusão do trabalho de Bernardin: ... O papel dos meios de comunicação, a característica normativa do seu discurso, que apenas os inconscientes ousam por em dúvida. ... A revolução ecológica efetua a síntese de todas as forças progressivas, revolucionárias e anticristãs. Comunismo, terceiro-mundismo, capitalismo revolucionário, socialismo Fabiano e Maçonaria se reencontram aqui em seu lugar geométrico. O comunismo, renascido das cinzas, vivificado e revigorado pela Perestróica. A luta de classe permite ao Estado dividir e dominar a sociedade – criando um Estado mais forte do que a sociedade. Em um momento dialético anterior, a ideologia mundialista, ecologista, enfatizou os problemas globais, que permitiram uma grande síntese sistêmica das sociedades previamente desarticuladas, e amplificam o processo totalitário de concentração de poder. Na prática, o Estado desaparece em face às instituições internacionais... Essa é uma radiografia verdadeira que os insensatos recusaram ver e diagnosticar a doença. A doença é o subdesenvolvimento, o atraso que caracteriza o cenário econômico paraense e amazônico.

                Termino este artigo citando trecho do livro “O jogo das contas de vidro”, de Hermann Hesse, que serve para várias interpretações e é muito propício para o momento político, moral e ético brasileiro: “... Esses meninos que partiram tem para mim, apesar de tudo, alguma coisa de imponente, assim como o anjo rebelde Lúcifer tem certa grandiosidade. Talvez tenham feito uma coisa errada, podemos admitir que cometeram um erro mas, seja como for, fizeram alguma coisa, realizaram algo, ousaram dar um salto e é preciso coragem para isso. Nós que fomos aplicados, pacientes e ajuizados, não fizemos nada, não demos salto nenhum.”    

Fugit irreparabile tempus

Armando Soares – economista

e-mail: teixeira.soares@uol.com.br


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