sexta-feira, 10 de junho de 2016

O Primeiro Grande Saque Amazônico (II)

Por Armando Soares

                BORRACHA – INVENTO DO PROCESSO DE VULCANIZAÇÃO, DA RODA PNEUMÁTICA E DO AVIÃO – OCUPAÇÃO EFETIVA DA AMAZÔNIA MONTAGEM DA CIVILIZAÇÃO AMAZÔNICA – ENGENHARIA DE TRANSFERÊNCIA DA SERINGUEIRA PARA O SUDESTE ASIÁTICO – ADVERTÊNCIAS IGNORADAS – ESTAGNAÇÃO ECONÔMICA.

Texto explicativo 2 (ênfase): Amazônia                A Amazônia foi ocupada através da atividade econômica da borracha, que também montou a civilização, tendo como elemento preponderante o nordestino, principalmente o “cearense”.  O mapa das Zonas fitogeográficas da borracha amazônica abaixo é a prova da montagem da civilização (municípios, estados, etc.).

                



            A borracha só teve valor econômico em razão de um conjunto de fatores: a descoberta do processo da vulcanização por Charles Goodyear, o invento do pneu, do automóvel e do avião. Sem a borracha nenhum desses inventos poderiam ter viabilidade, seriam invenções sem utilidade. A Amazônia, não só a brasileira, mas a boliviana e a peruana, era a única região no mundo que tinha em sua floresta a Hevea brasilienses (seringueira). O mundo desenvolvido e pobre dependia do cavalo para se locomover e vencer grandes distâncias. Era, portanto, um mundo “lento”. Com o automóvel e o avião pode se realizar uma “revolução” no sistema de transportes no mundo, substituindo o cavalo, o motor animal. Qual o item mais importante para realizar essa transformação, essa “revolução”? A borracha, originária de uma árvore até então sem valor econômico, a seringueira. Daí em diante a Amazônia, floresta inóspita, passou a ser de grande importância no cenário econômico do mundo desenvolvido, tendo a frente a Inglaterra, “a senhora do mundo”. A condição primeira de domínio econômico capitalista é se possível, ter o domínio da produção e consumo de matéria-prima estratégica. A borracha e a Amazônia, portanto, considerando sua importância como única fornecedora da matéria-prima que iria promover a “revolução” no sistema de transporte no mundo e criar condições para a criação de um gigantesco e diversificado parque industrial, daí em diante mereceria todas as atenções do mundo desenvolvido, nascendo em consequência toda uma engenharia de dominação, da produção e consumo dessa extraordinária célula econômica, a qual o Brasil preferiu trocá-la pelo café, o que define historicamente a limitada inteligência brasileira. Confirma-se assim o inusitado interesse do francês Condamine pela borracha, assim como outros cientistas e pesquisadores, que prefiro classifica-los como cabeças-de-ponte para facilitar o saque que viria a se concretizar no tempo, o que considero a demonstração inequívoca da estupidez brasileira.

                2)            Vamos transcrever um trabalho realizado por Mário Barroso Ramos, neto de Manuel Lopes, seringalista e produtor de borracha, falecido em 1876, às margens do Rio Beni (Alto Madeira), que mostra, com propriedade, a realidade sócio produtiva da borracha, trabalho que recupera a imagem do seringueiro como escravo do “patrão”, expressão tendenciosa, realizado por outros historiadores, sem o conhecimento da realidade amazônica de quando do início da atividade econômica da borracha nativa.

                A produção de borracha na Amazônia foi sempre e continua a ser tema para romances e exageros, distorcendo uma realidade prejudicial aos interesses da região. Sem maiores exames, muitos conceitos foram emitidos sem conhecimento direto dos problemas, como por exemplo, o tema da exploração do homem pelo homem, tema indefectível da maioria das discussões e trabalhos produzidos sobre  o problema da borracha na Amazônia. Para melhor esclarecimento da questão foram tomados emprestados os depoimentos de Garibaldo Dantas, da Comissão dos Acordos de Washington e Comissão de Encaminhamento de Trabalhadores para a Amazônia e das aulas ministradas por Mário Barroso Lima no Instituto de Pesquisas Tecnológicas da Escola Politécnica de São Paulo, sob a iniciativa do Sindicato da Indústria de Artefatos de Borracha no Estado de São Paulo, em 1948. A lenda e fantasia começam com o nome Amazônia, segundo a fantasia, derivado das Amazonas, guerreiras femininas que o descobridor espanhol disse haver encontrado e com elas pelejado. Jamais alguém depois dele – até hoje – viu ou teve notícia dessas amazonas famosas. Cresceu e vive como nasceu a Amazônia, terra da lenda: do El-Dourado, das Amazonas, das incamiábas, da cobra-grande, do curupira e de várias outras; terra da fantasia: do boto, do tajá-panema, da matinta-pereira e outras sem conta; terra dos extremos: do “inferno verde” e do “paraíso verde”, da riqueza fácil e da miséria abundante, da liberdade e da escravidão. Nascendo daí os temas de exageros, de fantasias e de lendas, que, começando com Euclides da Cunha e seguindo pelo palavreado ora bom, ora mau, de uma interminável bibliografia, se vão copiando ou decalcando uns sobre os outros e se repetindo numa desfiguração impressionante do quadro real que pretendem interpretar. 



Esses exageros deu margem para a história da exploração do homem pelo homem, nos trabalhos de produção da borracha nativa e tornou-se de tal forma lendária, que é impossível esquece-la quando se fala de borracha amazônica. Foi tão poderoso esse processo de desfigurar a realidade para encobrir o crime da transferência da seringueira para o sudeste asiático com o consentimento e conivência de maus brasileiros, então mobilizados para espalhar pelos quatro cantos do mundo, toda uma vasta literatura impressionante que feriu indelevelmente, pelas cores carregadas de seus quadros, a “alma das multidões”, criando e generalizando um estado de latente revolta de todo o mundo, ao que se chamou de “exploração desumana dos seringueiros”.  O mesmo processo usado hoje pelos ambientalistas, nas devidas proporções, para através da mentira e fraude, dominar e esterilizar economicamente a Amazônia. 

Se for verdade que houve exploração desumana de seringueiros, isso é apenas uma exceção e não a regra geral ou a maneira usual nas relações entre seringalistas e seringueiros. Em contraposição da fantasia da exploração do homem pelo homem, é importante ressaltar e afirmar com provas que a Amazônia é a terra, por excelência, da liberdade. Na época da colonização lusa a preagem de índios para a escravidão nunca produziu, na Amazônia, os frutos que deu, em outros recantos do Brasil. O selvícola reagiu contra sua escravização tentada pelos portugueses e mamelucos. O ambiente ajudava a essa resistência e, por isso, o aborígene lutou, preferindo, em alguns casos, morrer a se entregar escravo, explica Mario Barroso Lima. Outros exemplos do espírito de liberdade amazônico, hoje ausente do povo: a Cabanagem, as lutas de Batista Campos e as de frei José dos Inocentes. A própria escravidão negra não medrou na Amazônia. Se no Pará teve alguma expressão, no Amazonas foi insignificante. Foi esse ambiente, adverte Mario Barbosa Lima, nascido e vivido livre que, na intensificação da exploração da borracha, abrigou as hordas sedentas dos flagelados do Nordeste brasileiro, tangidas pelos horrores dos fenômenos climáticos e que não só vinham em fuga como em procura da riqueza que a Hevea, naquelas épocas prodigalizava. Começou esse afluxo, por volta de 1860, tendo suas maiores expressões nos anos das grandes secas, os de 1870, 1877, 1888, 1900 e 1914. Criaram “os cearenses” uma nova civilização na Planície, concentrada especialmente no Acre e nos altos rios afluentes da margem direita do Amazonas. O ambiente àquela época, descrito por Mario Barroso Lima, é indiscutivelmente de liberdades imperativas e absolutas. O nordestino vinha da terra do cangaço, da terra do banditismo, dos jagunços e coiteiros. No entanto, no ambiente libertário da Amazônia, o cangaço não medrou. A nova terra igualava a todos. Se alguns patrões tentaram no Alto Acre, o restabelecimento do cangacerismo foi infeliz na tentativa e vencida pelo novo clima humano. Todos eram iguais e igualmente livres. Isto, entretanto, não importou na abdicação da valentia congênita do sertanejo, por que, quando foi preciso, ele destemerosamente empunhou suas armas na defesa de seus direitos de posse e conquista, não se conformando com a debilidade da nossa política internacional que pretendeu fazer voltar o Acre à Bolívia e ao Peru, debilidade que persegue a política internacional até aos nossos dias em questões ambientais e violação de direitos dos brasileiros em outros países. Os nordestinos chegavam, adverte Mario Barroso Lima, e isso é muito importante para reparar a história mal contada e divulgada, todos iguais e se alguns se faziam mais rapidamente proprietários das terras, mesmo o simples seringueiro era dono, incontestado, da borracha que fabricava, das outras especiarias que colhia e dos produtos da sua caça ou da sua pesca, porque trabalhava por sua conta e não por conta de terceiros. A par dessa independência pessoal e desse direito primitivo de propriedade, ainda tinha o seringueiro, a lhe levantar o natural orgulho íntimo, a sua capacidade de crédito, de que, infelizmente, quase sempre abusava, com graves prejuízos para si próprios. Tal a igualdade reinante, tal o espírito dominante de liberdade que, os princípios de clã, jamais medraram nesse ambiente. Araújo Lima, neste particular relata com precisão absoluta como tais espécies de igualdade e liberdade impediram, ali, a cristalização dessa forma primitiva de agrupamentos humanos. Portanto, a civilização que os flagelados das secas do nordeste fundaram na Amazônia, foi uma civilização de liberdade plenas na sequência natural que o próprio ambiente propiciava fato e verdade, que se contrapõe a fantasia e a literatura impressionista teimou em apresentar como de escravidão dos homens de trabalho pelos seus patrões. Liberdade que não existe nos dias de hoje na Amazônia totalmente engessada para servir aos interesses estrangeiros. 

Enquanto os seringueiros lutavam pela terra brasileira e conquistaram um novo território da Bolívia e Peru, os chamados “povos da floresta”, nome criado por conveniências políticas, nada fizeram para evitar que as terras conquistadas por heróis seringueiros, passassem para as mãos de índios e estrangeiros que querem a Amazônia fora do Brasil. É preciso que fique bem claro a seguinte verdade histórica: os “patrões”, esses que receberam mais tarde a chancela profissional de “seringalistas” e são tão detratados como exploradores dos seringueiros, não foram outros senão os próprios “cearenses”, chegados à Amazônia na mais absoluta das misérias, e que conseguiram vencer e se distinguir dos demais, pelos próprios méritos pessoais e através do mesmo regime de trabalho então existente e que tem sido tão malsinado e caluniado. Isso prova irretorquivelmente, que tal método de produção e o ambiente que ele propiciava eram capazes de permitir, aos que possuíam aqueles méritos, vencer e enriquecer prova maior de que não era um regime de escravidão e de exploração do homem pelo homem. Sobre o regime de trabalho nos seringais, Mario Barroso Lima afirma que não houve forma de trabalho mais livre e mais propiciatório de fácil independência econômica do que o regime da exploração da borracha. O seringueiro nunca foi um trabalhador a jornal, um operário ou um assalariado, ao contrário, sempre foi um produtor pessoal, independente, que trabalhava por si e para si, produzindo quanto e quando queria ou podia, sendo em qualquer circunstância, o proprietário absoluto e incontestado, do fruto total do seu trabalho. A exploração da borracha realizada pelos “cearenses” ou seringueiros, foi a base do progresso e da prosperidade de grande números de seringueiros que se tornaram independentes, ricos e proprietários. A atividade proporcionou fartos lucros à grande maioria, que infelizmente, não souberam aplicar tais proventos convenientemente. Fato curioso e que vem sendo ocultado, é que os seringueiros, além dessa liberdade de que gozavam no trabalho da produção da borracha, por estarem ocupados apenas parte do ano, tinham as entressafras completamente livres para se dedicarem a outras atividades. A caça, a pesca, a pequena lavoura e a apanha (coleta) das castanhas, e outras especiarias para aqueles que queriam prosperar e enriquecer, foram ocupações rendosas. É preciso destacar que, infelizmente, a memória no Brasil e mais particularmente na Amazônia, é muito falha e ausente. A memória do período do início da exploração da borracha, particularmente, quase toda foi apagada, inventada ou criada para encobrir verdades que envergonham brasileiros e amazônidas e, principalmente o saque criminoso realizado por ingleses, europeus e brasileiros do sudeste, época em que reinavam os “barões do café”.  Este trabalho tem mais importância porque recupera a memória verdadeira e mostra a origem do processo de estagnação da Amazônia. Portanto, continuando com as informações de Mario Barroso Lima, diferente do que se propalou e ainda se acredita por pura ignorância, a borracha produzida na Amazônia, pertencia ao seringueiro que a vendia, por sua conta, nas praças de Belém e Manaus, dentro das seguintes condições: se o produto alcançava bons preços, o seringueiro recebia o necessário para saldar seus débitos com o seringalista e este, por sua vez, tinha condições para obter junto aos seus fornecedores, créditos para suas atividades. Se isso não ocorresse, o seringueiro não podia pagar o “patrão” e este não podia satisfazer seus compromissos com as “casas aviadoras”. “Patrão”, como já explicado, é uma designação falaciosa e tendenciosa, para sustentar um cenário mentiroso dos comunistas e historiadores mal intencionados. É, portanto, uma invenção com propósitos de destruir a figura do empresário, que não cabe nesse cenário, porque o empresário verdadeiro a ser atacado não é o brasileiro, mas o Império Britânico. Se houve “patrão” do seringueiro na Amazônia foi o governo brasileiro representado pelo Banco da Borracha (hoje Banco da Amazônia) durante o período do monopólio da borracha, como iremos mostrar e comprovar. O elemento escravizador do seringueiro no início da exploração da borracha amazônica era a política de preço imposta pela Inglaterra e outros europeus que dominavam a cadeia produtiva da borracha, verdade que só pode ser conhecida examinando as relações de produção e troca que definiam a economia amazônica e as forças que impediam toda e qualquer tentativa de transformações de tais relações. A respeito do seringalista se faz necessário mostrar a sua real posição e importância na cadeia produtiva para que justiça se faça do trabalho desse segmento. O seringalista, a bem da verdade, era o fator básico e decisivo do trabalho da produção de borracha nativa. Sem ele, sem sua organização e sem a sua atividade, a produção de borracha não seria possível numa floresta inóspita sem nenhuma infraestrutura de apoio logístico para o seu escoamento. Portanto, sua posição logística de abastecedor de gêneros e materiais e de escoador da produção foi de vital importância para a exploração de borracha nativa. Justo, portanto, que auferisse renda, ganhasse em troca de seu trabalho, dos graves riscos a que se expunha seu capital e dos compromissos que assumia com as “casas aviadoras” de Manaus e Belém. 



Enquanto os débitos dos seringueiros (produtores de borracha) eram de uma aleatória possibilidade de liquidação, já os compromissos dos seringalistas (abastecedores de gêneros e escoadores da produção) para com as “casas aviadoras”, eram de outra classe. Os seringalistas possuíam personalidade comercial e civil que oferecia reais garantias para seus compromissos, exigência dos ingleses para financiar a produção através das “casas aviadoras”, “testas de ferro”. Esse desenho de cadeia produtiva, tendo os ingleses no topo da cadeia com garantias reais, explica o desmoronamento de grandes fortunas na Amazônia, que pareciam sólidas, desmoronaram quando sobreveio o decréscimo dos preços da borracha, controlado pelos ingleses, com o início da produção da borracha cultivada nas colônias inglesas, no sudeste asiático, decréscimo programada para facilitar a entrada no mercado da borracha asiática e destruir a economia amazônica e todo o setor produtivo da borracha nativa. Essa a primeira e fatal ação inglesa para garantir o comando da produção, comércio e consumo da borracha natural. Os primeiros a serem chamados para pagar seus débitos com todos os seus haveres, e, até mesmo com a entrega de joias e móveis de uso pessoal e de suas próprias casas, foram os seringalistas. Quebrado o setor de escoamento da produção, por via de consequência quebrava o seringueiro (produtor). A crise econômica da produção de borracha, nessa primeira fase do processo dessa atividade econômica, tem como causa central, o monopólio inglês da produção e comércio amazônico, a imprevidência e burrice amazônica, a traição de brasileiros do sudeste objetivando favorecer os interesses dos “barões” do café (o Brasil trocou borracha pelo café), processo que atingiu a todos: seringalistas e seringueiros, iguais na abastança, iguais na miséria. Falida a atividade econômica da borracha, ficou a economia amazônica e a civilização montada sem condições de sustentação econômica. Órfã e sem rumo, uma vez que o governo brasileiro virou as costas para a região, como historicamente vem acontecendo esse tipo de comportamento endocolonialista. Vejamos o tamanho da calamidade social através das informações de Mário Barroso Lima. Segundo o Barão de Studart, somente do Ceará, de 1800 a 1910, vieram para a Amazônia, anualmente, uma média de 10.000 indivíduos, o que no período compreendido, de 20 anos, dá, aproximadamente, 200.000 imigrantes, fato que demonstra a maneira como foi construída a civilização amazônica e a importância que teve o nordestino, especialmente o cearense, nessa construção, tudo destruído diante da criminosa irresponsabilidade do governo brasileiro que preferiu desenvolver o país com o café ao invés da borracha, célula econômica que mostrou toda a sua força e importância construindo em regiões selvagens, países ricos, aumentou a riqueza da Inglaterra, de europeus e dos Estados Unidos da América, enquanto a Amazônia empobrecia e a economia brasileira andava de “carroça” com o café desenvolvendo apenas o sudeste e enriquecendo os “barões” do café. Essa questão da borracha exposta através da verdade histórica mostra e comprova a estupidez brasileira e identifica a causa do processo perverso da estagnação econômica da Amazônia, onde a visão míope dos endocolonialistas é fator preponderante, anomalia política que perdura até os nossos dias. Mário Barroso Lima, conclui seu trabalho, de grande valia para a história, a verdadeira, não a fantasiosa e mentirosa, esperando que algum dia se faça inteira justiça, a narrativa verdadeira das relações entre seringueiros e seringalistas, providência sensata para mostrar o que foi realmente o “ciclo do ouro negro” nas terras amazônicas, nunca deixando de lembrar que o “O Ciclo da Borracha” corresponde no tempo à maturação dos seringais cultivados nas colônias europeias no sudeste asiático, ou seja, a economia amazônica teve vida por tempo determinado pelos interesses econômicos ingleses, crime assistido pelo governo brasileiro, o que comprova a troca estúpida da borracha pelo café. 



Relatório produzido por Magalhães Barata, governador do Pará, vai mostrar e provar o tratamento dado pelo governo brasileiro ao Pará. Quem quiser falar ou escrever sobre a exploração da borracha nativa amazônica, tem o dever e obrigação de conhecer a verdade histórica e não produzir falsa história com base na mentira que encobre um processo de lesa-pátria de maus brasileiros. O seringueiro como provado, na primeira fase da exploração da borracha, quando estava em construção a civilização e a ocupação do território amazônico, foi um homem livre, veio à Amazônia atraído pelos ganhos que poderia auferir na produção da borracha, como também sair da miséria, pobreza e fome do nordeste. Como produtor de borracha ficou dono da terra e rico ou no mínimo um produtor vitorioso com patrimônio. Seu esmagamento e retorno à pobreza deveram-se, como já explicado, além das causas mencionadas, também pela imprevidência e burrice dos produtores amazônicos, que conhecedores da montagem no sudeste asiático de um poderoso polo de produção de borracha, acreditando na impossibilidade de adaptação da seringueira em outras regiões, cruzaram os braços e deixaram o desastre acontecer. Diversas e cansativas advertências foram feitas ao setor produtivo, em 1912, 1913, 1914, 1917, mostrando da necessidade de se transformar os métodos produtivos de sangria da seringueira e produção da borracha. De nada adiantou, a crença de que jamais seria possível destruir a hegemonia da produção de borracha amazônica, determinou o cruzar de braços dos governos amazônicos e de toda a  sociedade amazônica e brasileira, esta alienada a respeito da importância da Amazônia. A única preocupação dos governos, federal e estadual, era o imposto arrecadado na produção da borracha, contrapartida nenhuma, apenas para o sudeste brasileiro. Uma das maiores, se não, a maior epopeia de um povo empobrecido de domar e construir uma civilização numa floresta inóspita e maior do mundo sensibilizou o governo, mesmo sabendo da importância econômica da borracha como poderosa célula de desenvolvimento. Interesse apenas na cobrança de Impostos que atingiram 28% do preço da borracha no mercado em Manaus. Se as pessoas mal intencionadas quiserem saber sobre a verdade do esmagamento social do seringueiro, sua escravidão econômica, e só pesquisar o período do chamado “Esforço de Guerra”, de onde resultou o monopólio estatal da atividade econômica da borracha. O seringueiro, o “soldado da borracha”, que contribuiu para a vitória dos exércitos aliados e morreu pobre, produzia borracha financiada pelo Banco da Amazônia, controlador do preço do produto, preço que não permitia ao seringueiro resgatar o financiamento, vendia a borracha a crédito para às indústrias em São Paulo. Só o banco lucrava com o trabalho do seringueiro. O seringueiro ficava sempre devendo ao banco, que crescia em progressão geométrica, o que redundou na venda pelo banco de seringais, transformados no tempo em fazendas para criação de gado. O resultado desse massacre estatal monopolista foi a falência dos poucos sobreviventes da primeira fase produtiva da borracha. Enquanto matava o seringueiro, o que restou da atividade econômica da borracha, o Banco da Amazônia, através de uma transferência de renda dos seringueiros financiava o parque industrial paulista e rio-grandense do sul a juros camaradas. Portanto, o monopólio estatal da borracha nativa amazônica além de não trazer nenhum benefício para a região, ajudou a afundar mais a economia e decretou a escravização do seringueiro, cenário que as pessoas mal intencionadas não querem admitir, preferindo responsabilizar a iniciativa privada amazônica, na verdade “serva” dos interesses estrangeiros, estes intocáveis, porque não se prestam para justificar as ações dos socialistas e a criação de reservas extrativistas, que hoje se mantém criando gado e não produzindo borracha.

Armando Soares – economista

e-mail: armandoteixeirasoares@gmail.com




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