Ernesto Caruso
O governo do Paraguai ao reverenciar os seus heróis e mortos na Guerra da Tríplice Aliança em 1º de março deste ano, reivindica, e o faz “com respeito, mas com firmeza”, a devolução do canhão El Cristiano trazido pelas tropas brasileiras após o conflito. Guerra de iniciativa do então presidente daquela república, Marechal Solano Lopes, que invadiu a Província do Mato Grosso atingindo Uruguaiana/RS, desafiando de roldão a República da Argentina. O referido canhão e outros tantos armamentos feriram, mutilaram e mataram militares, bem como civis das localidades hostilizadas que abandonaram as suas propriedades, sofreram na pele os horrores da guerra, sem contar o esforço e sacrifício exigidos da família brasileira de todos os rincões do Império; logística distante e dispendiosa.
Situação imposta pelo Paraguai que se preparara com fins expansionistas, tanto que combateu por longo período as forças do Brasil, Argentina e Uruguai de 1864 até 1º de março de 1870, com a morte de Solano Lopez em Cerro Corá.
Não há porque nessa manifestação se falar em holocausto proporcionado pela Tríplice Aliança em nome de uma pretensa paz já consagrada faz tanto tempo. Discurso político para efeitos internos que reabrem cicatrizes.
O Paraguai é uma nação amiga, recentemente ferida pelo canhão ideológico da tríplice trapalhada conduzida pelos governos Dilma/Brasil, Cristina/Argentina e Mujica/Uruguai a expulsá-la do MERCOSUL para incluir a Venezuela de Chávez.
Militares paraguaios frequentam nossos estabelecimentos de ensino em perfeita integração, além da Missão Militar Brasileira de Instrução no Paraguai, mantendo bom relacionamento, sem antagonismos por conta dos antecedentes históricos. Os heróis de ambos são reverenciados nas cerimônias, lá como cá, com a presença de militares que lhes prestam continência. Solano Lopes e Caxias são exemplos para as suas pátrias e se enfrentaram na guerra.
A História não se apaga. As batalhas marcam épocas, mortos, feridos, sofrimentos, mutilados, conquistas e insucessos que emergem dos campos de batalha. Alguns escreveram as suas epopéias, granadas e baionetas sangraram corpos, sepultaram combatentes, forjaram heróis contra o invasor. O sofrimento da Retirada da Laguna, registrada por Taunay, lancetou mais a alma do que o corpo atingido pelos projéteis inimigos e a cólera mortal semeando cruzes onde os combatentes se exauriram e cerraram os olhos.
A natureza humana impõe a preparação para guerra e o mundo de ontem de hoje e de sempre demonstra tal evidência. A cada dia as armas surgem mais aperfeiçoadas para matar o inimigo com menor perda para quem a emprega.
Assim, o sentimento patriótico precisa ser despertado, ensinado. Os Símbolos Nacionais são o esteio dessa formação, mantendo acesa a necessidade de uma estrutura para defesa do território. Os troféus de guerra fazem parte da História, demonstram fisicamente o sangue derramado pelos antepassados como lição vista, sentida e admirada, não com menosprezo ao povo que empunhou armas contra o Brasil em qualquer tempo.
O canhão El Cristiano da Fortaleza de Humaitá é um marco que com toda a força transmite às novas gerações o valor do soldado brasileiro, dentre outras peças que repousam nos museus e ilustram os compêndios de História.
São propriedades da Nação, enriquecidas por acervos doados por descendentes de ex-combatentes de todos os tempos. O Paraguai já recebeu com elevada deferência a devolução de objetos pessoais de Solano Lopes, numa demonstração de boa vontade, amizade e respeito. Mas, que não se estenda aos demais símbolos e nem signifique um arrependimento, a confissão de um erro ou o pedido de perdão pelas ações de guerra em defesa do território invadido, afrontado por quem estava pacificamente guardando e produzindo nas fronteiras.
Colônia Militar de Dourados, Mato Grosso, 29 de dezembro de 1864, Tenente Antonio João Ribeiro, hoje Patrono do Quadro Auxiliar de Oficiais, no comando de uma guarnição isolada com um punhado de bravos, incluindo quatro civis e uma mulher, não se rendeu diante da força inimiga. Tombaram sob os tiros de 200 bocas de fogo. Deixou uma lição que se deve guardar no peito, escrita na simplicidade das letras e na grandeza do sentimento: “Sei que morro, mas o meu sangue e o de meus companheiros servirão de protesto solene contra a invasão do solo de minha Pátria.”
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