ANTONIO CELENTE VIDEIRA
Diante
dos Movimentos Sociais, designados também, aqui no Brasil, de “vozes das ruas”,
há quem diga que as lideranças se extinguiram. O líder perdeu a sua razão de
ser.
Esse
raciocínio, para mim, é de extrema estreiteza. O líder não deixou de existir,
mas, nos últimos tempos, passou a ser não identificável.
O
desgaste dos políticos dos últimos 20 anos levou ao encolhimento da figura de lideranças
nacionais. O perfil do homem público, que desempenha cargo eletivo, está
desgastado, ficou atrofiado em conseqüência de suas atitudes interesseiras. É
evasivo, sem personalidade, não mantém posições definidas, uma vez que se rende
à obtenção do voto, aliás, seu único fim. O político de hoje trai a sua ideologia
cultural, renegando valores adquiridos de seus antepassados, não se contrapondo
a movimentos espúrios que ameaçam a raiz da dignidade familiar e da sociedade
em que vive. É covarde em seus posicionamentos, tudo visando estar bem com
todos, não querendo ficar “mal na fotografia”. O apoio de comunidades que
professam os mais vis hábitos como a homoafetividade, o aborto, a liberalização
das drogas, a negação de símbolos religiosos é muito bem vindo para que se
estabeleça em seus cargos políticos. E o pior, denomina tais práticas de progressistas.
“Uma verdadeira piada”!
Todo
um jogo foi concebido, nas duas últimas décadas, em que programas sociais estariam
acima de qualquer estratégia relevante ao País. Nos últimos dez anos, isso foi
acentuado sem pudor. O objetivo era e é “pão e circo”. O pão foi representado
por programas sociais, como por exemplo, bolsa família, bolsa presidiário,
bolsa crack e, por fim, bolsa prostituta em fase de aprovação, tudo dentro do
programa Brasil sem Miséria. Já o circo seria os megaeventos, com destaque para
os Jogos Mundiais Militares de 2011,
a Copa das Confederações de 2013, o Campeonato Mundial de
2014, a
Olimpíada de 2016. Isso sem considerar o Rock in Rio, o carnaval, os grandes
clássicos do futebol. O cenário estava montado para se comandar uma geração de
andróide, massa amorfa apática, atrofiada nas suas reflexões, sem qualquer
interesse pelas coisas públicas, o que asseguraria a esse político e a seu
partido, bem como aos seus aliados a eterna permanência no poder.
A
configuração desse desenho social dava respaldo à vanglória do Governo em dizer
que tinha 70% de aprovação da população. Podia-se até ameaçar quem fazia
oposição com a afirmação de que o “bicho vai pegar”, com clara afronta à
democracia.
Mas
algo novo não se levou em consideração, pois, sorrateiramente, uma nova geração
foi se desenvolvendo e se inserindo no contexto demográfico nacional. Essa geração “gritou” em junho passado e vem “gritando”
por conquistas sociais que lhes foram e estão sendo negadas, mesmo com a
enunciação da tola mentira de que “democracia gera mais desejo de democracia,
qualidade de vida desperta anseio por mais qualidade de vida”.
Acontece
que essa geração é filha da geração das “diretas já” e neta dos que se opuseram
à Revolução de 1964, cujos pais e avós, apesar de reclamarem da ditadura, ainda
presenciaram, naquela época, embates entre oposição e situação. Esses jovens
não sabem o que é ideologia de Direita ou de Esquerda. Falaram para eles que os
poucos partidos opositores ao populismo atual são de Direita, mas desconhecem
que hoje, no Brasil, não existe Direita, pois tanto quem está no Governo ou lhe
fazendo oposição são oriundos da Esquerda dos anos 60. Esses jovens são os
“twiteiros”, os “fecebooquianos”, os “blogueiros” denominados também de Geração
Y ou do milênio. Caracterizam-se pelo ato da “clicagem”, ou seja, ao não se
interessarem por algo virtual, apertam a tecla do mouse e deletam o que lhes é
estampado na “telinha” de suas mídias ou então mudam de assunto procurando
outro “site” ou “blog”. São os “cliqueiros”, pessoas imediatistas, querem
flexibilidade no trabalho, não ficam muito tempo em um emprego, porque têm
dificuldade de encontrar um veterano ou um superior, com mais experiência, que
inspiram confiança para lhes apontar objetivos e caminhos. Lamentavelmente,
alguns partem para o vandalismo, com expressivas cenas de violência, preferindo
o anarquismo, o que pode levar à ruptura da paz social, algo temeroso à Nação.
O Papa FRANCISCO se reportou aos baderneiros, como jovens manipulados por pessoas
maduras, mas radicais que desprezam o diálogo na solução dos problemas sociais.
Porém,
por incrível que pareça, são jovens com certa cultura, mesmo superficial, já
que vivem na sociedade do conhecimento, o que lhes dá condições para perceberem
e interpretarem maracutaias e mutretagens, além de não agüentarem mais a
embolação partidária, em que acordos e negociatas políticas são arquitetados em
prol de interesses escusos. Na verdade, desejam mandar para “lixeira” parlamentares
e mandatários, cuja representatividade tornou-se desacreditada e descredenciada
junto ao povo.
Aí
está a “fornalha” que configura os movimentos sociais sem uma direção definida,
multifacetados nos seus desejos, com total ausência de mentores capazes de
direcionarem a novas causas.
Na
verdade, o líder nunca esteve e nunca estará ausente. Desde os guias dos bandos
dos australopitecus da pré-história, passando pelos capitães que comandaram os
exércitos da antiguidade e da idade média até os estadistas que vivenciaram e
conduziram os ciclópicos eventos do último século, lá estava ele como senhor de
todos os acontecimentos.
Na
verdade, o líder de hoje não é mais o arrogante ou o petulante que se arvora na
sua fala. Mesmo administrando uma massa governamental em franco processo entrópico,
alardeia pelas mudanças dos últimos dez anos, renegando, portanto, contribuições
de ícones do passado que fizeram a história desse País. É possível alguém
acreditar nesse tipo de discurso?
O líder de
hoje é o que muito faz e pouco fala. Sabe que as palavras convencem, mas os
atos arrastam multidões. O seu silêncio encanta, pois ouvir significa respaldar-se
para aplicar as ações planejadas.
Quando o Papa
FRANCISCO pede licença para entrar no País, dirigindo-se ao povo e, em especial
à juventude, “alegando que não tem ouro
nem prata, mas traz o que lhe é mais precioso para si: JESUS CRISTO”,
apresenta um estilo de liderança diferente que extrapola as mais vis propagandas
eleitoreiras e autoritárias. James Hunter, consultor de gestão corporativa, em
seu bestseller, o MONGE E O EXECUTIVO, é providencial nesta afirmação. É ainda
mais feliz, nos seus argumentos sobre o gestor, como modelo de guia corporativo,
ao publicar COMO SE TORNAR UM LÍDER SERVIDOR. Mas James Hunter é enfático ao
considerar que essa atitude é somente válida para o líder com conduta ilibada,
sem qualquer mácula de caráter no seu passado.
Por mais
paradoxal que seja, nesse mundo globalizado e em rede organizacionais, as
instituições que guardam em si, expressivamente, o aspecto da liderança são a
eclesial e a militar, mesmo tendo estruturas verticalizadas. Isso se deve a
dois fatores: a hierarquia e a disciplina. Mesmo sendo banalizados pelos que se
intitulam avançados, tanto a hierarquia como a disciplina são balizadores na
ordenação do regime das relações entre cidadãos. “Ordem e Progresso” é o lema
da Bandeira Nacional, como pendão a nortear nosso povo. A isso, nos últimos
tempos, vem se tentando destruir, à medida que se provoca o desmanche de instituições
seculares, com a inversão de práticas salutares da família, em que condutas
exógenas ao respeitoso convívio entre pessoas, não importando a classe ou raça,
são priorizadas em novo código de conduta. Eis aí a causa das explosões sociais
que eclodem na atualidade.
Por tudo isso,
cabe dizer que a liderança não se esvaiu. Ela está em letargia, como atributo,
no interior dos que têm o privilégio de possuí-la. O silêncio de suas condutas
é impregnante, a altivez de suas percepções, diante dos acontecimentos, é
serena, a honradez de suas ações, dentro do caos estabelecido, cativa os que
lhes estão próximo. Pode estar certo de que o líder, hoje, encontra-se nos mais
distintos locais. Na repartição pública, na empresa, no quartel, no hospital,
na igreja, na universidade, na federação industrial e comercial, enfim, na
posição que melhor lhe facilitará impedir a ruptura da ordem jurídica nacional.
Da mesma forma
que as “vozes das ruas” eclodiram sem que houvesse uma prévia sinalização, o
“líder da última hora” ressurgirá oportunamente, saindo de seus nichos, talvez,
quem sabe, para liderar, dentre outras, as “vozes da rua”, na direção do
entendimento nacional. .
ANTONIO
CELENTE VIDEIRA
Membro
da Academia Brasileira de Defesa (ABD).
acelente@gmail.com
Não sei exatamente como o líder deve proceder para alcançar o
sucesso, porém, com certeza, a sua queda se inicia, quando fica preocupado em
agradar a todos.
(Presidente Kennedy)
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