Por Klauber Cristofen Pires
As manifestações de junho de 2013
indicaram o clamor da sociedade por uma autêntica oposição. Esta é a sua maior
virtude e que precisa ser amplamente divulgada. Se DEM e PSDB foram incluídos
no desagrado geral, é porque sempre se comportaram como partidos governistas.
Tendo retornado do benfazejo descanso das férias,
ponho-me a transmitir as minhas impressões sobre as históricas manifestações
populares havidas em junho.
Creio que de mim isto se faz necessário
pelo fato de que não tenho conseguido me encaixar plenamente nem no grupo dos
entusiasmados, nem tampouco no dos que enxergaram nos acontecimentos a
oportunidade para a solução final da implementação da revolução comunista.
O que vi foi uma espécie de ponto de
fulgor, genuinamente espontâneo, tanto que surpreendeu completamente tanto a
esquerda quanto a direita, esta, claro, politicamente inexistente, a ponto de
tornar hilárias ou cínicas – escolham (!) – as declarações de figurões do PT e
da mídia esquerdista que têm atribuído como causa para tais eventos a extremosa
habilidade da direita em planejá-la e executá-la. Se fosse mesmo possível
prover uma mobilização de tão gigantesco vulto, não haveria partidos somente de
esquerda no Brasil, e nem sequer o PT estaria comemorando dez anos de poder.
Quem compareceu, que não pertencesse às
ong’s bate-paus criadas e mantidas pelo PT com verbas públicas para praticarem
seus atos de terrorismo, foi às ruas tendo por combustível a inflação e as
vicissitudes diárias provocadas por serviços públicos desumanos e humilhantes,
por comburente a corrupção e a impunidade reinante, inclusive a incrível dolce
vita dos mensaleiros condenados, e como a temperatura os dispêndios
nababescos com a construção de estádios para a Copa das Confederações e a Copa
do Mundo de 2014. A faísca deflagradora, como se sabe, foi a tripla vaia na
inauguração da Copa daS Confederações.
Foi um fulgor, eu disse, e não ainda
propriamente uma ignição, capaz de promover uma reação violenta de resultados
imprevisíveis. Representou um grito de desespero, e claro, protagonizado pela
classe média. Porém, ao contrário de alguns jornalistas, não vejo nada de
estranho nem de ilegítimo nisto, uma vez entendido que esta é parcela da
população que de baixo para cima é logo a mais bem educada, a quem mais tem
sentido na carne a deterioração de seu padrão de vida, e por ser a que mais
sente o peso da excruciante carga tributária.
Se há um fato distintivo entre as
classes média e pobre é que a primeira luta arduamente para fugir dos serviços
estatais, e se vê aflita, como alguém imerso em areia movediça, por ter de
começar a matricular seus filhos em escolas públicas, pegar ônibus e abandonar
o plano de saúde privado. A classe pobre, por sua vez, já se vê completamente
dependente do estado, e autenticamente acometida da síndrome de Estocolmo,
põe-se até a agradecer pelos serviços públicos, por mais miseráveis que sejam,
e por migalhas tais como o salário-família. A visão de mundo dessa gente é
absolutamente imediatista, isto é, essa gente foca exclusivamente na
sobrevivência diária, estranhando-lhe quaisquer considerações sobre moralidade,
política, e a relação custo x benefício de impostos e serviços públicos.
Durante os acontecimentos, li muitos
bons e até excelentes artigos nos quais seus autores repudiaram tais
manifestações porque estariam desprendidas de liderança e de reivindicações
uniformes e enfim, porque estariam dando cobertura às arruaças e vandalismos.
Não obstante, não comungo de suas conclusões, em primeiro lugar porque as
pessoas comuns que bradaram seus gritos de protesto expressaram-se por si
próprias, eventualmente agregando-se aqui e ali uns e outros indivíduos que se
descobriam possuir as mesmas reclamações e reivindicações.
Essas pessoas têm o direito de fazer
isto, e se não dependem da iniciativa e consentimento da esquerda, como
demonstraram quando mandaram os militantes vermelhos baixarem suas bandeiras,
provaram igualmente que também não da direita, a esperar como rapunzéis por alguma
suposta liderança oposicionista que ainda não deu as caras, até porque esta não
se fez ainda capaz de mobilizar sequer pequenos contingentes. Portanto, resta
ridícula tal alegação.
Quanto aos casos de vandalismo, se os
milhões de brasileiros que engrossaram as hostes em protesto se dispusessem a
participar deles, estaríamos já testemunhando uma guerra civil. Quem praticou
atos de vandalismo foram as ong’s ciborgs e militantes de partidos da
esquerda, e sabemos que entre suas táticas, estará sempre presente a da
infiltração. Ora, a população foi mesmo muito sábia, ao ter percebido tais
artimanhas e separado-se dos meliantes. Então, jamais faremos protestos de rua
porque os sabotadores irão aparecer?
Outra crítica levantada foi a de que as
manifestações provocaram como reação
por parte do governo de Dilma Roussef e da cúpula do PT, uma “inflexão à
esquerda”. Ora, ora! Desde quando o PT foi cor-de-rosa? Antes mesmo de iniciar
seu primeiro mandato, o Sr Lula em pessoa desmentiu tal tese, afirmando em alto
som que nunca antes as cores do PT foram tão vermelhas! Como poderia ser
diferente com o protagonista que fundou o Foro de São Paulo conjuntamente com
Fidel Castro, para, segundo palavras deste último, “reconstruir na América
Latina o que se perdeu no Leste Europeu”?
Pode, sim, ter havido um apressamento
de uma agenda que já existia há muito tempo e que haveria de ser implementada
quando a cúpula petista entendesse ser mais conveniente, mas se houve alguma
precipitação, esta se deu justamente por medo do PT de perder sua hegemonia, o
que já pode estar significando um sinal de fraqueza. No entanto, como bolo
tirado do forno antes do tempo certo, o que parece é que está solando: a tal
constituinte exclusiva foi um completo fiasco e o programa “Mais Médicos”, tendo
conseguido desagradar a gregos e troianos, enfrenta forte oposição. A população
em geral já entendeu que se trata de um pretexto para instalar agentes cubanos,
de modo que ambas as propostas resultaram em um vultoso ônus eleitoral.
Por fim, há quem tenha visto na queda
de popularidade de Dilma Roussef a grande chance para o retorno triunfal de
Lula ou, não menos pior, para a
ascensão de Marina Silva, com sua “Rede Sustentabilidade”. Porca
miséria! Por acaso, antes das manifestações contávamos com alguma outra
alternativa? Ainda assim, como os leitores puderem verificar, as vitórias do PT
desde 2002 foram obtidas sempre em segundo turno e com uma maioria cada vez
mais apertada. Por que raios agora, quando grande parte da população está
plenamente desiludida com o PT, seria pior do que já foi, quando os ventos
graciosamente lhes sopravam as velas?
De minha parte, poderia mesmo afirmar
que jamais torceria tanto para que o Sr. Lula vencesse a próxima eleição. Vejam
bem, não estou dizendo que vou votar nele. O que digo é que torço por sua
vitória, mesmo com meu voto nulo. Torço, para que ele enfim enfrente uma
verdadeira herança maldita, isto é, aquela que ele próprio a criou. E
acreditem, meus amigos, tempestades virão à frente.
Desconfio que, esperto como ele é,
passará ao largo de tal hipótese, preferindo repousar por oito anos em uma das
sossegadas cadeiras do Senado, para de lá prosseguir sua vidinha torpe, a
difamar seus adversários.
Ora, se há de prevalecer o medo de
denunciar as falcatruas petistas e a péssima gestão do atual mandato de Dilma
Roussef por medo de relativamente alçar as candidaturas de Lula e Marina Silva,
então é porque estamos no melhor dos mundos, não é mesmo?
Concluindo...
As manifestações ocorridas em junho de
2013 despertaram um clamor por uma nova classe política, que necessariamente há
de oferecer um discurso oposicionista. Eis sua grande virtude, tão pouco
exaltada em todos os textos que li até hoje. A maior prova disso foi o absoluto
desprezo da população àquela que o PT prometia ser a maior mobilização popular
de todos os tempos. Compareceram os militantes à custa de setenta reais per
capita, provocaram os mesmos atos de vandalismo de sempre e mais ninguém
lhes deu crédito.
Quando a população exclamou não se
sentir representada por nenhum político ou partido, não é que excluiu a
democracia ou o sistema partidário, mas sim que partidos tais como o PSDB e
principalmente o DEM preferiram se confundir entre os partidos de esquerda, ao
invés de assumirem a liderança em defesa daquela gente que trabalha e paga a
conta.
Se alguma diferença neste sentido
aconteceu, o que percebi foi por parte da imprensa. Estou falando daquela mesma
que até há pouco escrevia “presidenta”. Acreditem se quiserem, mas já tenho
lido até mesmo de Eugênio Bucci textos francamente desairosos sobre o governo e
o PT. Como diz o ditado, os ratos são os primeiros a abandonar o barco.
A visita do Papa Francisco e a Copa do
Mundo prometem afetar ainda mais a reputação petista. Urge agora a todos os
colunistas liberais e conservadores fazer o que em linguagem militar se diz
“aproveitamento do êxito”: precisamos intensificar as denúncias contra Dilma
Roussef, Lula, o PT, o Foro de São Paulo e as ligações entre estas duas
entidades e outras como as FARC, sem descuidar de dar atenção a Marina Silva e
a Eduardo Campos, eis que são farinha do mesmo saco. Vamos educar a população
para que os cidadãos entendam o que está acontecendo e que valorizem a
diminuição do estado em prol de uma menor carga tributária e conseqüentemente,
de um melhor acesso a bens e serviços privados.
Quanto mais isto ficar claro, mais cedo
aparecerão novos políticos que se proponham a verdadeiramente nos representar.
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