terça-feira, 20 de outubro de 2015

O perigoso momento em que Dilma acertou na veia ao insuflar seus militantes e as razões pelas quais os republicanos deveriam se preocupar


Mais do que pelos ataques à Cunha, esta semana deve ficar marcada por uma mudança de tom da presidente Dilma Rousseff. Politicamente, é um acerto dos mais espetaculares. Ao utilizar um discurso potente, ela insuflou seus militantes. A transição abaixo, vista no site no Planalto, dá uma ideia do tom:
Estamos vivendo um momento de dificuldades políticas, vou chamar de crise política séria. Neste exato momento, setores da oposição tentam uma variante de golpe, um golpe disfarçado. Um golpe que tem tudo de golpe: cara de golpe, pé de golpe, mão de golpe, mas que tenta passar como sendo uma manifestação oposicionista. Na verdade, o que eles querem? Querem um atalho, querem um atalho para o poder. Querem um atalho para chegar mais rápido em 2018. Nós não vamos permitir que eles golpeiem o mandato que nós conquistamos nas urnas, os 54 milhões de votos.
Eles usam argumentos dos mais artificiais. Eles jogam no chamado quanto pior melhor. O jogo do quanto pior melhor é assim: quanto melhor para eles, quanto pior para o povo brasileiro. Sempre jogaram esse jogo assim, a regra do jogo é uma regra viciada. Primeiro os interesses deles, depois muito depois os interesses do Brasil e do povo brasileiro.
Eu quero dizer para vocês que esse golpe não é contra mim, é contra o projeto que eu represento. Eu disse isso ontem, lá na CUT e vou repetir aqui: é contra o projeto que fez do Brasil, uma coisa que vocês ajudaram, e que eu disse no início, fez o Brasil sair do mapa da fome e superar a pobreza extrema. É contra o Brasil que complementa a renda daqueles que mais precisam. É contra um projeto de desenvolvimento que deu prioridade àquelas populações que antes não tinham voz nem vez. Um projeto que criou uma das classes médias maiores do mundo, um projeto que colocou as pessoas de pé, com autoestima.
É um discurso golpista, contra as conquistas históricas dos trabalhadores ao longo de toda a vida deste País. Não se iludam, é contra a reforma agrária, sim. É contra as políticas de sustentação da agricultura familiar, porque acham que nós gastamos muito com subsídios. Aliás, as questões das chamadas “pedaladas” nada mais são do que uma crítica às formas pelas quais nós pagamos tanto o Minha Casa Minha Vida como o Bolsa Família.
Quero dizer que também é uma tentativa de golpe, também, contra algo fundamental, contra a soberania nacional, contra o modelo de partilha do pré-sal, contra a política de conteúdo nacional. É contra, também, o mais longo período, o mais extenso período de distribuição de renda, de inclusão social e de redução das desigualdades que este País, desde o seu descobrimento, desenvolveu.”
(…)
“É legítimo que façam a nós as mais duras criticas. Podem fazer, isso é legítimo, faz parte da democracia. Mas é golpe e irresponsabilidade querer interromper o curso democrático natural do País. Nós estamos hoje trabalhando com toda energia para enfrentar a crise. E quero dizer para vocês que o Brasil é forte suficiente para sair dela o mais rápido possível. O Brasil não vai retroceder. Com o empenho e a mobilização de cada um de vocês nós vamos dar uma volta por cima na crise. E vamos dar também um basta no golpismo. Eu tenho certeza que a minha força vem de vocês. Vem da luta por um Brasil mais justo, mais igual. Uma luta por um Brasil realmente democrático.
Eu quero dizer para vocês que eu me defendo com muita serenidade. Até porque não cometi nenhum desvio de conduta. Jamais utilizei em meu proveito a atividade que eu exerci dignamente como presidente da República. Eu tenho certeza, e eu tenho certeza que eles tentaram, eles buscaram encontrar alguma coisa contra mim, mas nunca vão encontrar, porque jamais cometi um malfeito na minha vida política e pessoal. Eu desconheço, entre os que se movem contra meu mandato, quem tenha a força moral, reputação ilibada e biografa limpa suficiente para atacar minha honra, desconheço.
Finalmente eu queria dar aqui uma palavra final. Eu conto com cada um de vocês para que possamos avançar no nosso projeto de um Brasil democrático, com oportunidades para todos os brasileiros e as brasileiras”.
Se utilizarmos o Word para fazer a contagem de vezes em que a expressão golpe apareceu, vemos que ela ultrapassa uma dezena. No jogo de rotulagem em geral, o desempenho foi impecável. Outro momento onde ela usou as armas certas foi no apontamento de seus oponentes não como “pessoas enganadas”, mas como pessoas que intencionalmente querem o pior para seu público. Daí, indo para o ataque em ritmo invejável, aproveitou para anexar-se ao coração da plateia.
Neste domingo, o petista Ricardo Kotscho demonstrou preocupação com as críticas de Rui Falcão a Joaquim Levy. O presidente do PT disse: “Levy deve sair se não quiser mudar a política econômica”.
Para ele, isso seria um “autogolpe”. Conclui ele: “Isto certamente não ajuda a presidente Dilma Rousseff a superar as imensas dificuldades que vem enfrentando para vencer a crise político-econômica do seu segundo mandato. Ao contrário, as declarações de Falcão se destinam a aprofundá-la ainda mais”.
A análise de Kotscho é simplória. A crise econômica não é o maior problema no momento para o PT, mas se manter no poder. A rejeição pública de Levy não é nada além de outra ação na direção de aumentar as chances de Dilma abraçar seus grupos militantes, que andavam desanimados. Junto a declarações cada vez mais incisiva exigidas de Dilma pelos próprios formadores de opinião da extrema esquerda, isto deve servir como combustível para animar suas tropas a lutar pelo seu mandato.
O duelo do PT agora não é pela melhoria econômica, mas pelo controle da narrativa. Será assim nos próximos meses. Resta saber como oposições, de vários tipos, reagirão.

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