quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Torre de Babel


Por Armando Soares

                A Rússia estabeleceu uma posição que conflita com a posição de outros países que usam o meio ambiente para destruir a soberania de países vulneráveis como o Brasil e que resulta em travas para o desenvolvimento da Amazônia. A Rússia propõe trocar a mentalidade de confrontação por uma estratégia de cooperação para o desenvolvimento. Abandonar de vez a mentalidade de blocos da Guerra Fria e as ambições de expansão geopolítica, que resultam em políticas baseadas na arrogância e nas ideias de excepcionalismo e na impunidade. Restabelecer o primado da soberania dos Estados nacionais, em casos como os conflitos que incendeiam o Oriente Médio. Organizar uma coalizão internacional para a luta contra o terrorismo do Estado Islâmico, semelhante à formada para a luta contra o nazifascismo na II Guerra Mundial, com o devido respaldo do Conselho de Segurança das Nações Unidas, seguida pela reconstrução econômica de toda a região afetada. Em essência, esses foram os pontos chave do discurso do presidente russo Vladimir Putin, na abertura da 70ª Assembleia Geral das Nações Unidas, na segunda-feira 28 de setembro. Discurso que, para o jornalista Pepe Escobar, correspondente itinerante de vários meios eletrônicos, propôs os lineamentos de uma Nova Ordem Mundial, “o artigo genuíno, não aquela ‘coisa’ concatenada por Papai Bush, no período pós-colapso da União Soviética”. Para ele, “seria uma ordem mundial equitativa e justa – onde a soberania dos Estados seja respeitada, as sanções não teriam sentido, a OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte] deixaria de se expandir ad infinitum e o excepcionalismo não se aplicaria (Sputnik News, 30/09/2015)”. Em passagens particularmente relevantes, o líder do Kremlin disparou contra o excepcionalismo estadunidense: Todos nós sabemos que, após o fim da Guerra Fria, o mundo ficou com um único centro de dominação e aqueles que se encontraram no topo da pirâmide ficaram tentados a pensar que, uma vez que eram tão poderosos e excepcionais, eles sabiam melhor o que precisa ser feito e, assim sendo, não precisam se preocupar com a ONU, que, em vez de carimbar as decisões de que eles precisam, com frequência, fica em seu caminho.   É por isso que dizem que a ONU se esgotou e, agora, é obsoleta e ultrapassada. É claro que o mundo muda e que a ONU também deveria passar por transformações naturais. A Rússia está pronta para trabalhar junto com os seus parceiros, para desenvolver a ONU com base em um amplo consenso, mas nós consideramos como extremamente perigosas quaisquer tentativas de se diminuir a legitimidade das Nações Unidas. Elas podem resultar no colapso de toda a arquitetura de relações internacionais e, depois, não haverá regras, exceto a da força. O mundo será dominado pelo egoísmo, em vez de por um esforço coletivo, por ditames, em vez de equidade e liberdade e, em vez de Estados verdadeiramente independentes, haverá protetorados controlados do exterior. Qual é o significado da soberania dos Estados, o termo que tem sido mencionado aqui por nossos colegas? Basicamente, ele significa liberdade, com cada pessoa e cada Estado sendo livre para escolher o seu futuro. Até mesmo a rede estadunidense CNN se viu forçada a admitir que “a mensagem de Putin no pódio da ONU, na segunda-feira, foi simples: as intervenções e o unilateralismo dos EUA deram para trás no Oriente Médio, e é hora de se tentar algo novo (CNN, 29/09/2015)”.


                Em 04 de agosto de 2015, Vladimir Putin, dirigiu-se à Duma, (Parlamento russo), e fez um discurso sobre as tensões com as minorias na Rússia. Na Rússia, afirmou Putin, as pessoas tem que viver como os russos. Qualquer minoria, de qualquer lugar, se quer viver na Rússia, trabalhar e comer deve falar russo, e deve respeitar as leis russas. Se eles preferem a Lei Sharia dos muçulmanos, então nós os aconselhamos a ir a esses lugares onde existe essa lei. A Rússia não precisa de minorias muçulmanas. A Rússia precisa de minorias russas, e por isso não vamos conceder-lhes privilégios especiais, ou tentar mudar as nossas leis para atender seus interesses, não importa quão alto eles possam gritar "discriminação". Nós não vamos tolerar desrespeito a nossa cultura russa. É melhor aprender com os suicídios da América, Inglaterra, Holanda e França, se quisermos sobreviver como nação. Os muçulmanos estão assumindo esses países e eles não vão tomar a Rússia. Os costumes e tradições russas não são compatíveis com a falta de cultura ou as formas primitivas de Lei Sharia e dos muçulmanos. Essa maneira de pensar de Putin, que nos apoiamos e consideramos sensata, contraria a filosofia mundialista que não quer que seja mantida a soberania dos estados, quer a subserviência, a escravidão de países como o Brasil para servir aos seus interesses. Entretanto, a posição política da Rússia em favor da manutenção da soberania das nações não garante que ela não irá participar da divisão do bolo mundialista ambiental, do “Império Econômico” formado para distribuir o saque. Porém, a postura da Rússia valorizando a soberania para nós amazônicos é muito importantes para despertar a consciência e mostrar verdades.


 A manutenção da soberania dos Estados tem sido a nossa luta contra a política ambiental brasileira que está toda impregnada de instrumentos que a destroem. Soberania como bem ressalta Putin significa liberdade, com cada pessoa e cada Estado sendo livre para escolher o seu futuro. O que estamos assistindo no Brasil, no Pará e na Amazônia é a perda da liberdade e da livre escolha de cada pessoa escolher o seu futuro imposto por leis ambientais nazifascistas através de organismos estaduais e federais policialescos. A mais recente tentativa de impor uma filosofia social e econômica é a da ecologia subvertida para servir ao globalismo. A nova ideologia contida nessa “filosofia” busca fazer a sociedade acreditar na necessidade de se adotar um princípio central e unificador em torno do qual a sociedade mundial poderá se construir e se definir. Esse princípio deverá formá-la por inteiro, permiti-la definir tanto os objetivos sociais quanto as normas de comportamento individual, ser aceito pelos povos do Ocidente e do Oriente, do Norte e do Sul. Ele deverá evitar confrontar qualquer sensibilidade religiosa ou “filosófica”, mas, ao contrário, fazer avançar a causa sincretista (unificação de ideias) e a aparição de uma religião mundial.

                No cenário brasileiro de debilidade institucional, o risco maior é o de que a preocupação quase exclusiva do governo com a sua autopreservação o leve a ampliar o leque de concessões àqueles poderes supranacionais, ampliando os numerosos flancos já abertos em outras áreas, a exemplo da ambiental e da indígena, as quais oferecem um vasto campo de oportunidades ao aparato internacional que as manipula como instrumentos políticos contra o desenvolvimento nacional. A vindoura conferência climática das Nações Unidas (COP-21), em Paris, em dezembro, da qual se espera o estabelecimento de metas vinculantes para a redução das emissões de carbono (alegadamente responsáveis pelo chamado “aquecimento global”), oferece a oportunidade para uma escalada da vinculação entre meio ambiente e finanças, que tem caracterizado a agenda ambiental internacional estabelecida para o Brasil, desde o final da década de 1980, quando várias das suas etapas foram vinculadas às negociações de bastidores em torno da dívida externa brasileira, então, a maior vulnerabilidade do País.


                O cenário municipal, estadual paraense e nacional é mais sério do que se pensa. Enquanto os paraenses dormem e se preocupam com coisas banais e seus pequenos interesses, as suas vidas estão sendo decididas na Torre de Babel internacional.

Armando Soares – economista



Soares é articulista de LIBERTATUM

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Olá! Seja benvindo! Se você deseja comunicar-se, use o formulário de contato, no alto do blog. Não seja mal-educado.