Torre de
Babel
Por Armando
Soares
A Rússia estabeleceu uma posição
que conflita com a posição de outros países que usam o meio ambiente para
destruir a soberania de países vulneráveis como o Brasil e que resulta em
travas para o desenvolvimento da Amazônia. A Rússia propõe trocar a mentalidade
de confrontação por uma estratégia de cooperação para o desenvolvimento.
Abandonar de vez a mentalidade de blocos da Guerra Fria e as ambições de
expansão geopolítica, que resultam em políticas baseadas na arrogância e nas
ideias de excepcionalismo e na impunidade. Restabelecer o primado da soberania
dos Estados nacionais, em casos como os conflitos que incendeiam o Oriente
Médio. Organizar uma coalizão internacional para a luta contra o terrorismo do
Estado Islâmico, semelhante à formada para a luta contra o nazifascismo na II
Guerra Mundial, com o devido respaldo do Conselho de Segurança das Nações
Unidas, seguida pela reconstrução econômica de toda a região afetada. Em
essência, esses foram os pontos chave do discurso do presidente russo Vladimir
Putin, na abertura da 70ª Assembleia Geral das Nações Unidas, na segunda-feira
28 de setembro. Discurso que, para o jornalista Pepe Escobar, correspondente
itinerante de vários meios eletrônicos, propôs os lineamentos de uma Nova Ordem
Mundial, “o artigo genuíno, não aquela ‘coisa’ concatenada por Papai Bush, no
período pós-colapso da União Soviética”. Para ele, “seria uma ordem mundial
equitativa e justa – onde a soberania
dos Estados seja respeitada, as sanções não teriam sentido, a OTAN [Organização
do Tratado do Atlântico Norte] deixaria de se expandir ad infinitum e o
excepcionalismo não se aplicaria (Sputnik News, 30/09/2015)”. Em passagens
particularmente relevantes, o líder do Kremlin disparou contra o
excepcionalismo estadunidense: Todos nós sabemos que, após o fim da Guerra
Fria, o mundo ficou com um único centro de dominação e aqueles que se
encontraram no topo da pirâmide ficaram tentados a pensar que, uma vez que eram
tão poderosos e excepcionais, eles sabiam melhor o que precisa ser feito e,
assim sendo, não precisam se preocupar com a ONU, que, em vez de carimbar as
decisões de que eles precisam, com frequência, fica em seu caminho. É por isso que dizem que a ONU se esgotou e,
agora, é obsoleta e ultrapassada. É claro que o mundo muda e que a ONU também
deveria passar por transformações naturais. A Rússia está pronta para trabalhar
junto com os seus parceiros, para desenvolver a ONU com base em um amplo
consenso, mas nós consideramos como extremamente perigosas quaisquer tentativas
de se diminuir a legitimidade das Nações Unidas. Elas podem resultar no colapso
de toda a arquitetura de relações internacionais e, depois, não haverá regras,
exceto a da força. O mundo será dominado pelo egoísmo, em vez de por um esforço
coletivo, por ditames, em vez de equidade e liberdade e, em vez de Estados
verdadeiramente independentes, haverá protetorados controlados do exterior.
Qual é o significado da soberania dos Estados, o termo que tem sido mencionado
aqui por nossos colegas? Basicamente, ele significa liberdade, com cada pessoa
e cada Estado sendo livre para escolher o seu futuro. Até mesmo a rede
estadunidense CNN se viu forçada a admitir que “a mensagem de Putin no pódio da
ONU, na segunda-feira, foi simples: as intervenções e o unilateralismo dos EUA
deram para trás no Oriente Médio, e é hora de se tentar algo novo (CNN,
29/09/2015)”.
Em 04 de
agosto de 2015, Vladimir Putin, dirigiu-se à Duma, (Parlamento russo), e fez um
discurso sobre as tensões com as minorias na Rússia. Na Rússia, afirmou Putin,
as pessoas tem que viver como os russos. Qualquer minoria, de qualquer lugar,
se quer viver na Rússia, trabalhar e comer deve falar russo, e deve respeitar
as leis russas. Se eles preferem a Lei Sharia dos muçulmanos, então nós os
aconselhamos a ir a esses lugares onde existe essa lei. A Rússia não precisa de minorias muçulmanas. A Rússia precisa de minorias russas, e por isso não vamos
conceder-lhes privilégios especiais, ou tentar mudar as nossas leis para
atender seus interesses, não importa quão alto eles possam gritar
"discriminação". Nós não vamos tolerar desrespeito a nossa cultura
russa. É melhor aprender com os suicídios da América, Inglaterra, Holanda e
França, se quisermos sobreviver como nação. Os muçulmanos estão assumindo esses
países e eles não vão tomar a Rússia. Os costumes e tradições russas não são
compatíveis com a falta de cultura ou as formas primitivas de Lei Sharia e dos
muçulmanos. Essa maneira de pensar de Putin, que nos apoiamos e consideramos
sensata, contraria a filosofia mundialista que não quer que seja mantida a
soberania dos estados, quer a subserviência, a escravidão de países como o
Brasil para servir aos seus interesses. Entretanto, a posição política da
Rússia em favor da manutenção da soberania das nações não garante que ela não irá
participar da divisão do bolo mundialista ambiental, do “Império Econômico”
formado para distribuir o saque. Porém, a postura da Rússia valorizando a
soberania para nós amazônicos é muito importantes para despertar a consciência
e mostrar verdades.
A manutenção da soberania
dos Estados tem sido a nossa luta contra a política ambiental brasileira que
está toda impregnada de instrumentos que a destroem. Soberania como bem
ressalta Putin significa liberdade, com cada pessoa e cada Estado sendo livre
para escolher o seu futuro. O que estamos assistindo no Brasil, no Pará e na
Amazônia é a perda da liberdade e da livre escolha de cada pessoa escolher o seu
futuro imposto por leis ambientais nazifascistas através de organismos
estaduais e federais policialescos. A mais recente tentativa de impor uma
filosofia social e econômica é a da ecologia subvertida para servir ao
globalismo. A nova ideologia contida nessa “filosofia” busca fazer a sociedade
acreditar na necessidade de se adotar um princípio central e unificador em
torno do qual a sociedade mundial poderá se construir e se definir. Esse
princípio deverá formá-la por inteiro, permiti-la definir tanto os objetivos
sociais quanto as normas de comportamento individual, ser aceito pelos povos do
Ocidente e do Oriente, do Norte e do Sul. Ele deverá evitar confrontar qualquer
sensibilidade religiosa ou “filosófica”, mas, ao contrário, fazer avançar a
causa sincretista (unificação de ideias) e a aparição de uma religião mundial.
No
cenário brasileiro de debilidade institucional, o risco maior é o de que a
preocupação quase exclusiva do governo com a sua autopreservação o leve a
ampliar o leque de concessões àqueles poderes supranacionais, ampliando os
numerosos flancos já abertos em outras áreas, a exemplo da ambiental e da
indígena, as quais oferecem um vasto campo de oportunidades ao aparato
internacional que as manipula como instrumentos políticos contra o
desenvolvimento nacional. A vindoura conferência climática das Nações Unidas
(COP-21), em Paris, em dezembro, da qual se espera o estabelecimento de metas
vinculantes para a redução das emissões de carbono (alegadamente responsáveis
pelo chamado “aquecimento global”), oferece a oportunidade para uma escalada da
vinculação entre meio ambiente e finanças, que tem caracterizado a agenda
ambiental internacional estabelecida para o Brasil, desde o final da década de
1980, quando várias das suas etapas foram vinculadas às negociações de
bastidores em torno da dívida externa brasileira, então, a maior vulnerabilidade
do País.
O
cenário municipal, estadual paraense e nacional é mais sério do que se pensa.
Enquanto os paraenses dormem e se preocupam com coisas banais e seus pequenos
interesses, as suas vidas estão sendo decididas na Torre de Babel internacional.
Armando Soares – economista
e-mail: teixeira.soares@uol.com.br
Soares é articulista de LIBERTATUM
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