Cheverny: castelo da harmonia, da simetria e da proporção
Cheverny é o castelo de um nobre e, portanto, é incomparavelmente menor que um castelo real.
Ele tem os mesmos elementos ornamentais, embora mais modestamente.
O castelo se divide em uma parte central, que representa o princípio monárquico e, depois, duas partes colaterais compostas elas mesmas de duas partes.
Ele tem harmonias misteriosas. Se o teto de cada parte fosse igual ao das outras partes do castelo estava liquidado.
Ele tem uma série de rampas. Por que essas rampas? Que razão têm?
Com esse equilíbrio do arredondado com o fortemente anguloso dos dois lados, estabelece-se uma simetria. Duas partes bem fortes e bojudas tendo ao centro uma parte muito delicada. Esta termina com uma ponta esguia acentuada por duas chaminés ainda, que está em contraste com as partes fortes.
Está tudo tão bem pensado que não parece pensado.
O sumo bom gosto da arte francesa é de fazer coisas super-pensadas com a naturalidade de um sujeito inteligentíssimo.
Ninguém perdeu a cabeça para fazer isso. É um homem de alto gosto, que passeando por debaixo dessas árvores que são verdadeiras epopeias vegetais, vestido de damascos e de rendas, de sapato de verniz com salto vermelho e brincando com a mão na copa da espada, imaginando coisas agradáveis e se lembrando de uma melodia qualquer tocada ao cravo, desenhou com a ponta da espada, sobre um canteiro, um projeto de castelo. E depois mandou executar.
É o transbordamento de uma harmonia que havia dentro dele. Não é o raciocínio apertado de uma École Politechnique: é uma coisa leve.
Não houve erudição, mas uma coisa muito melhor: talento. Melhor ainda: tem nobreza. Melhor ainda do que nobreza, tradição católica.
O elemento monárquico se afirma de um modo paradoxal, não na parte mais forte, mas na mais débil. O mais delicado do castelo está na parte central.
Sem ser mais alta, ela é mais esguia e dá a ilusão de mais alta. Ela é mais delicada, lembrando que muitas vezes a majestade não se afirma na força, mas no requinte. Daí uma outra forma de apresentar o princípio monárquico: é no quintessenciado, no delicado.
Os canteiros do jardim são muito lisos, mas um liso que não tem nada de indecente ou desagradável.
É um liso que talvez descanse do que esse teto tem de muito movimento. Depois começa a floresta magnífica.
O gramado dá a impressão de uma coisa clara, tranquila. A relva se prolonga para dentro do arvoredo, até encontrar uma floresta próxima, que a gente mais adivinha do que vê.
Se não houvesse esses dois poteaux fariam falta. São dois pingos, duas gotas que dizem: “pare e veja”.
O castelo ficaria desamparado diante da vegetação se não tivesse esses pontos. É o senso da medida do francês.
Se se pusesse duas colunas grandes escangalhava-se tudo.
Cada um dos elementos tem a altura e a largura necessária para ficar perfeito.
É notável a beleza da proporção entre a alameda e o castelo. Ela tão larga, que com um pouquinho mais ela ficaria mal.
Eis o Castelo de Cheverny: aristocrático, distinto, senhorial, modelo não para um rei, mas para um senhor, acolhedor para o povo, oposto firmemente a qualquer forma de vulgaridade.
(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, 15/2/1972. Sem revisão do autor)
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