Insanidade
Por Armando Soares
Mostra a
realidade que o Brasil tem seu desenvolvimento obstaculizado pelo Estado e pelo
povo. Uma verdade insofismável, mas um paradoxo. Ora, se o Estado não atende
efetivamente aos interesses do povo e se presta apenas para servir aos interesses
de poucos brasileiros, qual a utilidade de sustentar um Estado aleijão que
esvazia o bolso do povo? O Brasil está sendo conduzido por piratas políticos o
que o transforma no quintal de nações ricas e poderosas. Enquanto essa anomalia
não for resolvida, seremos sempre um arremedo de civilização. Estado manipulado
por poucos é um ser político deformado, é um monstro. Se o povo passa a ser
escravo de um Estado de poucos brasileiros, então tudo está errado o que
explica todos os problemas brasileiros.
Dentro
desse contexto cabe à visão de Nietzsche contra a existência do Estado, segundo
o filósofo um projeto fracassado por ser um fosso instransponível entre a
realidade social e política. Nietzsche ao examinar qual é a base para a
sustentação da autoridade do Estado, formulou a seguinte questão: “De onde
surge (...) este poder súbito do Estado, cuja meta está além do exame e além do
egoísmo do homem singular?” Ainda segundo Nietzsche, o Estado é a violência que
dá o primeiro direito, e não há nenhum direito que não seja em seu fundamento
arrogância, usurpação, ato de violência.” Assim pensando, Nietzsche supõe haver
não um contrato social, mas sim a supremacia de forças: poderes mais fortes suplanta
e domina poderes mais fracos, através não de um contrato social, mas sim de
imposição de violência, de força. Em Nietzsche, a teoria do direito, com
relação à criação do Estado, baseia-se na ideia das forças dos poderes
envolvidos: o direito é um produto da força na medida em que ele é fruto dos
conflitos que se travam dentro de uma sociedade, prevalecendo à posição dos
mais fortes. Deste modo o filósofo diz: “Assim começa a existir o Estado na
terra: penso haver-se acabado aquele sentimentalismo que o fazia começar com um
contrato.” O Estado na concepção de Nietzsche tem uma origem terrível, sendo
criação da violência e da conquista. Nesse sentido ele considera que os
pensadores modernos têm uma maneira enganosa de entender a origem e o
significado do Estado, fantasiando-o como fruto de um pacto, enquanto que na
verdade ele deveria ser entendido como um processo assustador e terrível,
relacionado a questões como escravidão e sofrimento.
Quando
Nietzsche avalia o Estado em seu tempo parece estar avaliando o Brasil na
atualidade. No Brasil o Estado nada mais é do que uma peça de violência, que
estupra a cidadania, limita a liberdade, saqueia os cofres públicos e se
aproveita de quem é obrigado a trabalhar para sustentar uma máquina
escravocrata impondo obrigações insuportáveis e sequestrando grande parte da
renda do trabalho do brasileiro. A falta de senso ou insanidade é a
característica que domina o governo, os políticos e a sociedade brasileira.
Governo e políticos no Brasil se comportam e agem de acordo como julgam grande
parte do povo brasileiro, ou seja, sabem que o povo acredita em promessas,
sabem que o povo não tem cultura e consciência suficiente para conviver numa
democracia, sabem que grande parte do povo é alienada diante de um trabalho
sufocante e das condições de péssimos serviços públicos, sabem que o povo
admite que o político roube, e sabem que o povo não sabe reagir para conquistar
dias melhores para sua vida. Por saber dessas fraquezas do povo transformam o
Estado num ser terrível, de grande força. A isto se chama insanidade, falta de
senso, desonestidade e imoralidade. Por seu lado o povo apanha e nunca aprende
tornando-se escravo e alienado e a isto também se chama insanidade ou gostar de
sofrer.
Insanos,
insensatos, os brasileiros, mais uma vez estão admitindo, por falta de reação,
pagar uma conta que não é sua, mas de governantes e políticos desonestos e
incapazes. Durante anos seguidos políticos e governantes vêm gastando
irresponsavelmente mais do que arrecadam, numa orgia criminosa, sem qualquer
benefício para a sociedade. Essa coisa ruim, essa brincadeira com o dinheiro
público tem que ter um fim. É absolutamente insano o povo brasileiro trabalhar
e produzir bens e alimentos e o governo gastar o que bem entende, gerando
inflação, recessão, desemprego, doenças econômicas e financeiras próprias da corrupção,
da improvisação e da incompetência. Que democracia é esta que esmaga e
empobrece o povo? Qual o tamanho do sacrifício que o governo e políticos querem
exigir do povo brasileiro? Quantos anos serão necessários para que os
brasileiros paguem com o seu trabalho a dívida pública, os erros programáticos
e a corrupção? O triste de tudo isso é que Dilma afirma com convicção que só
pode resolver a crise que criou com o dinheiro do povo, e ninguém reage a esse
descalabro, a essa atitude imunda, cavernosa.
Há ainda
quem chama essa coisa imunda que se convive no Brasil de democracia. Democracia
foi o cimo de um edifício cuja base era o Estado de Direito – a santidade da
liberdade individual e a segurança dos direitos de propriedade privada,
garantidos por um governo constitucional e representativo. Nada disso existe
mais no Brasil petista e dos corruptos.
Somos
uma civilização ou um amontoado de gente? Segundo Will Durant, a civilização é
a ordem social a promover a criação cultural. Constituem-na quatro elementos:
provisão econômica, organização política, tradições morais e acúmulo de
conhecimentos e artes. Começa quando o caos e a insegurança chegam ao fim.
Porque logo que o medo é dominado, a curiosidade e a construtividade se veem
livres, e por impulso natural o homem procura a compreensão e o embelezamento
da vida. Como se vê estamos no Brasil longe da civilização. Há poucas palavras
usadas de maneira tão vaga quanto à palavra ‘Civilização’, declarou o maior de
todos os anglo-americanos, em uma época a civilização, tal como ele a entendia,
corria um sério perigo. “O que significa?” Sua resposta é a definição mais
perfeita já formulada da diferença política entre Ocidente e Oriente:
“Significa uma sociedade baseada na opinião dos civis. Significa que a violência,
o governo de guerreiros e líderes despóticos, as situações de campos de
concentração e guerra, de baderna e tirania, dão lugar a parlamentos, onde são
criadas as leis, e as cortes de justiça independentes, onde essas leis são
mantidas durante longos períodos. Isso é Civilização – e em seu solo crescem
continuamente a liberdade, o conforto e a cultura. Quando a Civilização reina
em um país, uma vida mais ampla e menos penosa é concedida às massas. As
tradições do passado são valorizadas e a herança deixada a nós por homens
sábios ou valentes se torna um estado rico a ser desfrutado e usado por todos.
O principio central da Civilização é a subordinação da classe dominante aos
costumes do povo e à sua vontade, tal como expressos na Constituição [...]”. (Winston
Churchill).
Realmente
ainda não podemos considerar o Brasil uma Civilização, pois o caos e a
insegurança não chegaram ao fim e o medo não foi dominado; a corte de justiça
não é independente; a vida mais ampla não é concedida às massas e o que está
expresso na Constituição não retrata os costumes do povo e muito menos sua
vontade. Nossa semelhança é a com republiquetas sanguinolentas, bárbaras e
depravadas sem nenhum respeito à vida. Enquanto o Brasil não abraçar
verdadeiramente a Civilização não teremos rumo, navegaremos sem bússola sujeita
a ventos e tempestades. Os nossos governantes e políticos expressam o
primarismo do povo, só exacerbaram a criminalidade, a desordem e a confusão de
espírito e transformaram o Estado numa coisa terrível e escravocrata.
Armando Soares – economista
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