sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Insanidade

Por Armando Soares

                Mostra a realidade que o Brasil tem seu desenvolvimento obstaculizado pelo Estado e pelo povo. Uma verdade insofismável, mas um paradoxo. Ora, se o Estado não atende efetivamente aos interesses do povo e se presta apenas para servir aos interesses de poucos brasileiros, qual a utilidade de sustentar um Estado aleijão que esvazia o bolso do povo? O Brasil está sendo conduzido por piratas políticos o que o transforma no quintal de nações ricas e poderosas. Enquanto essa anomalia não for resolvida, seremos sempre um arremedo de civilização. Estado manipulado por poucos é um ser político deformado, é um monstro. Se o povo passa a ser escravo de um Estado de poucos brasileiros, então tudo está errado o que explica todos os problemas brasileiros.


                Dentro desse contexto cabe à visão de Nietzsche contra a existência do Estado, segundo o filósofo um projeto fracassado por ser um fosso instransponível entre a realidade social e política. Nietzsche ao examinar qual é a base para a sustentação da autoridade do Estado, formulou a seguinte questão: “De onde surge (...) este poder súbito do Estado, cuja meta está além do exame e além do egoísmo do homem singular?” Ainda segundo Nietzsche, o Estado é a violência que dá o primeiro direito, e não há nenhum direito que não seja em seu fundamento arrogância, usurpação, ato de violência.” Assim pensando, Nietzsche supõe haver não um contrato social, mas sim a supremacia de forças: poderes mais fortes suplanta e domina poderes mais fracos, através não de um contrato social, mas sim de imposição de violência, de força. Em Nietzsche, a teoria do direito, com relação à criação do Estado, baseia-se na ideia das forças dos poderes envolvidos: o direito é um produto da força na medida em que ele é fruto dos conflitos que se travam dentro de uma sociedade, prevalecendo à posição dos mais fortes. Deste modo o filósofo diz: “Assim começa a existir o Estado na terra: penso haver-se acabado aquele sentimentalismo que o fazia começar com um contrato.” O Estado na concepção de Nietzsche tem uma origem terrível, sendo criação da violência e da conquista. Nesse sentido ele considera que os pensadores modernos têm uma maneira enganosa de entender a origem e o significado do Estado, fantasiando-o como fruto de um pacto, enquanto que na verdade ele deveria ser entendido como um processo assustador e terrível, relacionado a questões como escravidão e sofrimento.

                Quando Nietzsche avalia o Estado em seu tempo parece estar avaliando o Brasil na atualidade. No Brasil o Estado nada mais é do que uma peça de violência, que estupra a cidadania, limita a liberdade, saqueia os cofres públicos e se aproveita de quem é obrigado a trabalhar para sustentar uma máquina escravocrata impondo obrigações insuportáveis e sequestrando grande parte da renda do trabalho do brasileiro. A falta de senso ou insanidade é a característica que domina o governo, os políticos e a sociedade brasileira. Governo e políticos no Brasil se comportam e agem de acordo como julgam grande parte do povo brasileiro, ou seja, sabem que o povo acredita em promessas, sabem que o povo não tem cultura e consciência suficiente para conviver numa democracia, sabem que grande parte do povo é alienada diante de um trabalho sufocante e das condições de péssimos serviços públicos, sabem que o povo admite que o político roube, e sabem que o povo não sabe reagir para conquistar dias melhores para sua vida. Por saber dessas fraquezas do povo transformam o Estado num ser terrível, de grande força. A isto se chama insanidade, falta de senso, desonestidade e imoralidade. Por seu lado o povo apanha e nunca aprende tornando-se escravo e alienado e a isto também se chama insanidade ou gostar de sofrer.



                Insanos, insensatos, os brasileiros, mais uma vez estão admitindo, por falta de reação, pagar uma conta que não é sua, mas de governantes e políticos desonestos e incapazes. Durante anos seguidos políticos e governantes vêm gastando irresponsavelmente mais do que arrecadam, numa orgia criminosa, sem qualquer benefício para a sociedade. Essa coisa ruim, essa brincadeira com o dinheiro público tem que ter um fim. É absolutamente insano o povo brasileiro trabalhar e produzir bens e alimentos e o governo gastar o que bem entende, gerando inflação, recessão, desemprego, doenças econômicas e financeiras próprias da corrupção, da improvisação e da incompetência. Que democracia é esta que esmaga e empobrece o povo? Qual o tamanho do sacrifício que o governo e políticos querem exigir do povo brasileiro? Quantos anos serão necessários para que os brasileiros paguem com o seu trabalho a dívida pública, os erros programáticos e a corrupção? O triste de tudo isso é que Dilma afirma com convicção que só pode resolver a crise que criou com o dinheiro do povo, e ninguém reage a esse descalabro, a essa atitude imunda, cavernosa.

                Há ainda quem chama essa coisa imunda que se convive no Brasil de democracia. Democracia foi o cimo de um edifício cuja base era o Estado de Direito – a santidade da liberdade individual e a segurança dos direitos de propriedade privada, garantidos por um governo constitucional e representativo. Nada disso existe mais no Brasil petista e dos corruptos.


                Somos uma civilização ou um amontoado de gente? Segundo Will Durant, a civilização é a ordem social a promover a criação cultural. Constituem-na quatro elementos: provisão econômica, organização política, tradições morais e acúmulo de conhecimentos e artes. Começa quando o caos e a insegurança chegam ao fim. Porque logo que o medo é dominado, a curiosidade e a construtividade se veem livres, e por impulso natural o homem procura a compreensão e o embelezamento da vida. Como se vê estamos no Brasil longe da civilização. Há poucas palavras usadas de maneira tão vaga quanto à palavra ‘Civilização’, declarou o maior de todos os anglo-americanos, em uma época a civilização, tal como ele a entendia, corria um sério perigo. “O que significa?” Sua resposta é a definição mais perfeita já formulada da diferença política entre Ocidente e Oriente: “Significa uma sociedade baseada na opinião dos civis. Significa que a violência, o governo de guerreiros e líderes despóticos, as situações de campos de concentração e guerra, de baderna e tirania, dão lugar a parlamentos, onde são criadas as leis, e as cortes de justiça independentes, onde essas leis são mantidas durante longos períodos. Isso é Civilização – e em seu solo crescem continuamente a liberdade, o conforto e a cultura. Quando a Civilização reina em um país, uma vida mais ampla e menos penosa é concedida às massas. As tradições do passado são valorizadas e a herança deixada a nós por homens sábios ou valentes se torna um estado rico a ser desfrutado e usado por todos. O principio central da Civilização é a subordinação da classe dominante aos costumes do povo e à sua vontade, tal como expressos na Constituição [...]”. (Winston Churchill).

                Realmente ainda não podemos considerar o Brasil uma Civilização, pois o caos e a insegurança não chegaram ao fim e o medo não foi dominado; a corte de justiça não é independente; a vida mais ampla não é concedida às massas e o que está expresso na Constituição não retrata os costumes do povo e muito menos sua vontade. Nossa semelhança é a com republiquetas sanguinolentas, bárbaras e depravadas sem nenhum respeito à vida. Enquanto o Brasil não abraçar verdadeiramente a Civilização não teremos rumo, navegaremos sem bússola sujeita a ventos e tempestades. Os nossos governantes e políticos expressam o primarismo do povo, só exacerbaram a criminalidade, a desordem e a confusão de espírito e transformaram o Estado numa coisa terrível e escravocrata.

Armando Soares – economista

e-mail: teixeira.soares@uol.com.br 
     
                 
               


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