Toque de reunir
Por Armando Soares
Em
29/10/67, portanto, há 48 anos, o grande e inesquecível jornalista Aylton
Quintiliano publicou um artigo intitulado “O Toque de Reunir” que refletiu a
realidade grotesca de uma região secularmente subdesenvolvida, a Amazônia no
seio da qual destacamos o Pará. O título desse artigo é mais uma homenagem que
presto a esse grande jornalista, um dos principais motivadores da ação de
jovens empreendedores paraenses que estavam à frente do recém-criado Centro das
Indústrias do Pará – CIP na tentativa de desenvolver o Pará através da sua
industrialização.
Na
transcrição do artigo de Quintiliano verificar-se-á que após 48 anos as travas
que impedem o desenvolvimento do Pará e consequentemente da Amazônia não foram
retiradas, ao contrário aumentaram consideravelmente, o que nos dá a certeza de
que existe um propósito de obstaculizar o desenvolvimento através de ações
governamentais. Essas ações de apoio aos empresários paraenses se deram a época
em que se implantou a extraordinária “Operação Amazônia” com destaque para os
incentivos fiscais instrumentos de capitalização das empresas regionais.
“O Toque
de Reunir” de Aylton Quintiliano: Os industriais paraenses vêm de assumir uma
posição de liderança na cruzada pela salvação da Amazônia. Já era tempo. Embora
as primeiras proclamações desenvolvimentistas tenham partido do próprio
governo, todos sabemos que o ideal, seja, o mais alto, poderá cair por terra se
não for conduzido por fiéis e abnegados legionários. No caso do desenvolvimento
da Amazônia, fazia-se necessária uma tomada de posição dos homens de empresa,
que vêm amargando o desestímulo, em meio às tantas promessas de incentivos
governamentais. Com o arrojo e o senso de responsabilidade que lhe são
características, competia mesmo aos industriais paraenses esse brado de alerta
ao poder público sobre os entraves do desenvolvimento. É imperioso evitar que
os anos passem em brancas nuvens, e nem no século XX cheguemos ao
auto-abastecimento, quanto mais à condição de celeiro do mundo. Ninguém, aliás,
com mais condição de liderança nessa cruzada desenvolvimentista do que os
industriais do Pará. Têm eles arrostado todos os sacrifícios, num trabalho
realmente notável, embora penoso, de ampliar o parque fabril da região,
sabendo-se que contam com menos incentivos do que os próprios empresários alienígenas
acaso desejosos de implantar aqui suas indústrias. Aliados aos setores
agropecuários e a toda a população que vive o drama dos preços altos, do
analfabetismo e das endemias, devem manter realmente essa pressão patriótica e
pacífica, de baixo para cima, levando ao governo a adoção de medidas concretas
com vistas ao desenvolvimento. Lá pelo Sul fala-se muito em “Frente Ampla”,
movimento político a pretender reunir os pensamentos mais heterogêneos que se possa
imaginar. Aqui no Norte, a frente que se deve formar é um imenso bloco de
opinião homogênea, maciça frente única para um trabalho construtivo, capaz de
nortear a própria política governamental com relação ao futuro do Vale. E toda
uma população se deve conscientizar da importância do combate ao
subdesenvolvimento. É preciso que todos estejamos prevenidos da grande verdade
exposta pelo Papa Paulo VI, em sua Populorum
Progressio: a miséria e a pobreza são
germes da desagregação. Os industriais deram um grande exemplo ao erguerem sua
voz, no Sul, em defesa da Amazônia. Querem mesmo desenvolver? Então por que não
se acaba de vez com os pontos de estrangulamento que prejudicam os próprios
estímulos governamentais ao processo desenvolvimentista? Querem desenvolver?
Então por que não se elimina a burocracia na análise dos projetos apresentados,
evitando-se que os interessados sejam massacrados no custo das operações?
Querem desenvolver? Então por que não se cria uma estrutura creditícia capaz de
impulsionar o surgimento das indústrias e das grandes unidades agrícolas e
pastoris? Querem desenvolver? Então por que não se abrem estradas, não se
constroem hidrelétricas, não se desobstrui o leito dos rios, não se prosseguem
as pesquisas petrolíferas, não se cria, enfim, toda uma infraestrutura que
sirva de atração aos capitais? E o alerta dos industriais paraenses soou
como um toque de reunir.”
Apesar de todo o apoio recebido da
mídia paraense, das entidades de classe e do povo em geral, todo o esforço dos
industriais paraenses foi destruído pela ação de organismos chamados de
desenvolvimentistas contaminados por ideais de que um parque industrial montado
no Pará com incentivos seria prejudicial aos interesses econômicos do
Sul/Sudeste. Incrível! Há 48 anos se reivindica investimentos e apoio sem
resultado.
Diante das
dificuldades que atravessa a economia paraense, com destaque ao eminente
colapso do setor agropecuário gerado por políticas públicas equivocadas, um
novo Toque de Reunir se faz
necessário para reunir indústria, comercio, serviços e toda a sociedade. Tenho
acompanhado a luta de Carlos Xavier, presidente da FAEPA, para conter o ataque
furioso do ambientalismo estatal sobre as células agropecuárias. Xavier, mesmo contrariando
suas convicções, chegou ao ponto de propor um desmatamento zero para conter o
avanço do ambientalismo e permitir uma harmonia entre produção e controle
ambiental. Nem esse absurdo e extremo esforço que contraria o bom senso, a
lógica e as premissas desenvolvimentistas conteve a ação destruidora ambientalista
que quer mais ainda, ou seja, restringir o espaço de áreas utilizadas reservado
à produção de alimentos e matérias-primas. Lamentavelmente a FAEPA está sozinha
nessa luta contra os abusos da política ambiental estatal, por falta de sensibilidade
e companheirismo da Federação da Indústria, do Comércio, da Associação
Comercial, um comportamento estranho e sem precedentes nas relações entre essas
entidades. Gostaria de saber como a Indústria, o Comércio e Serviços reagiriam
se seus associados fossem molestados permanentemente pelos invasores de
propriedade, pelo IBAMA e pelas SEMAS. O clima de apoio que o Centro das
Indústrias – CIP teve na década de 60 congregando todas as forças produtivas não
é o mesmo nos dias de hoje, talvez porque o ataque midiático e governamental em
favor do ambientalismo esteja acovardando o pessoal. A bandeira da década de 60
assumida pela sociedade era o desenvolvimento, a bandeira de agora é o
ambientalismo, a escravidão verde que consolida o subdesenvolvimento. Há 48
anos quando Quintiliano publicou o seu artigo, a sociedade paraense, as
federações e associações de classe apoiavam o desenvolvimento, a libertação do
Pará do subdesenvolvimento, bastou à presença e ações de órgãos públicos
policialescos criados pelo PT e socialistas, ações policialescas que nunca
existiram no período da ditadura militar, para que a covardia e a idiotice
tomasse conta do cenário paraense. Ao que parece a produção de alimentos é
menos importante do que uma falsa preservação ambiental, o que justifica um
novo toque de reunir, agora com mais razão, pois não se trata de montar
indústrias, mas de manter viva e com saúde as células produtivas agropecuárias,
as produtoras de alimentos que sustentam a vida. Não quer isso dizer que a
indústria perdeu o valor, pelo contrário, é por causa da ausência de indústrias
sacrificadas há 48 anos que temos uma enorme deficiência em nossa economia que
caminha a passos de cágado e, portanto, subdesenvolvida.
O Toque de Reunir vale
para todos os setores produtivos, para toda a sociedade, para tirar o Pará da
paralisia econômica e para afastar da região essa coisa ruim, mortífera e
escravizante que se chama desenvolvimento sustentável, que nada mais é do que
sustentar e manter ainda mais ricas as nações desenvolvidas. Depois da casa
arrombada não adianta chamar a polícia.
Armando Soares – economista
e-mail: teixeira.soares@uol.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Olá! Seja benvindo! Se você deseja comunicar-se, use o formulário de contato, no alto do blog. Não seja mal-educado.