quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Toque de reunir

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Por Armando Soares

                Em 29/10/67, portanto, há 48 anos, o grande e inesquecível jornalista Aylton Quintiliano publicou um artigo intitulado “O Toque de Reunir” que refletiu a realidade grotesca de uma região secularmente subdesenvolvida, a Amazônia no seio da qual destacamos o Pará. O título desse artigo é mais uma homenagem que presto a esse grande jornalista, um dos principais motivadores da ação de jovens empreendedores paraenses que estavam à frente do recém-criado Centro das Indústrias do Pará – CIP na tentativa de desenvolver o Pará através da sua industrialização.

                Na transcrição do artigo de Quintiliano verificar-se-á que após 48 anos as travas que impedem o desenvolvimento do Pará e consequentemente da Amazônia não foram retiradas, ao contrário aumentaram consideravelmente, o que nos dá a certeza de que existe um propósito de obstaculizar o desenvolvimento através de ações governamentais. Essas ações de apoio aos empresários paraenses se deram a época em que se implantou a extraordinária “Operação Amazônia” com destaque para os incentivos fiscais instrumentos de capitalização das empresas regionais.

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                “O Toque de Reunir” de Aylton Quintiliano: Os industriais paraenses vêm de assumir uma posição de liderança na cruzada pela salvação da Amazônia. Já era tempo. Embora as primeiras proclamações desenvolvimentistas tenham partido do próprio governo, todos sabemos que o ideal, seja, o mais alto, poderá cair por terra se não for conduzido por fiéis e abnegados legionários. No caso do desenvolvimento da Amazônia, fazia-se necessária uma tomada de posição dos homens de empresa, que vêm amargando o desestímulo, em meio às tantas promessas de incentivos governamentais. Com o arrojo e o senso de responsabilidade que lhe são características, competia mesmo aos industriais paraenses esse brado de alerta ao poder público sobre os entraves do desenvolvimento. É imperioso evitar que os anos passem em brancas nuvens, e nem no século XX cheguemos ao auto-abastecimento, quanto mais à condição de celeiro do mundo. Ninguém, aliás, com mais condição de liderança nessa cruzada desenvolvimentista do que os industriais do Pará. Têm eles arrostado todos os sacrifícios, num trabalho realmente notável, embora penoso, de ampliar o parque fabril da região, sabendo-se que contam com menos incentivos do que os próprios empresários alienígenas acaso desejosos de implantar aqui suas indústrias. Aliados aos setores agropecuários e a toda a população que vive o drama dos preços altos, do analfabetismo e das endemias, devem manter realmente essa pressão patriótica e pacífica, de baixo para cima, levando ao governo a adoção de medidas concretas com vistas ao desenvolvimento. Lá pelo Sul fala-se muito em “Frente Ampla”, movimento político a pretender reunir os pensamentos mais heterogêneos que se possa imaginar. Aqui no Norte, a frente que se deve formar é um imenso bloco de opinião homogênea, maciça frente única para um trabalho construtivo, capaz de nortear a própria política governamental com relação ao futuro do Vale. E toda uma população se deve conscientizar da importância do combate ao subdesenvolvimento. É preciso que todos estejamos prevenidos da grande verdade exposta pelo Papa Paulo VI, em sua Populorum Progressio: a miséria e a pobreza são germes da desagregação. Os industriais deram um grande exemplo ao erguerem sua voz, no Sul, em defesa da Amazônia. Querem mesmo desenvolver? Então por que não se acaba de vez com os pontos de estrangulamento que prejudicam os próprios estímulos governamentais ao processo desenvolvimentista? Querem desenvolver? Então por que não se elimina a burocracia na análise dos projetos apresentados, evitando-se que os interessados sejam massacrados no custo das operações? Querem desenvolver? Então por que não se cria uma estrutura creditícia capaz de impulsionar o surgimento das indústrias e das grandes unidades agrícolas e pastoris? Querem desenvolver? Então por que não se abrem estradas, não se constroem hidrelétricas, não se desobstrui o leito dos rios, não se prosseguem as pesquisas petrolíferas, não se cria, enfim, toda uma infraestrutura que sirva de atração aos capitais? E o alerta dos industriais paraenses soou como um toque de reunir.”

Apesar de todo o apoio recebido da mídia paraense, das entidades de classe e do povo em geral, todo o esforço dos industriais paraenses foi destruído pela ação de organismos chamados de desenvolvimentistas contaminados por ideais de que um parque industrial montado no Pará com incentivos seria prejudicial aos interesses econômicos do Sul/Sudeste. Incrível! Há 48 anos se reivindica investimentos e apoio sem resultado.


                Diante das dificuldades que atravessa a economia paraense, com destaque ao eminente colapso do setor agropecuário gerado por políticas públicas equivocadas, um novo Toque de Reunir se faz necessário para reunir indústria, comercio, serviços e toda a sociedade. Tenho acompanhado a luta de Carlos Xavier, presidente da FAEPA, para conter o ataque furioso do ambientalismo estatal sobre as células agropecuárias. Xavier, mesmo contrariando suas convicções, chegou ao ponto de propor um desmatamento zero para conter o avanço do ambientalismo e permitir uma harmonia entre produção e controle ambiental. Nem esse absurdo e extremo esforço que contraria o bom senso, a lógica e as premissas desenvolvimentistas conteve a ação destruidora ambientalista que quer mais ainda, ou seja, restringir o espaço de áreas utilizadas reservado à produção de alimentos e matérias-primas. Lamentavelmente a FAEPA está sozinha nessa luta contra os abusos da política ambiental estatal, por falta de sensibilidade e companheirismo da Federação da Indústria, do Comércio, da Associação Comercial, um comportamento estranho e sem precedentes nas relações entre essas entidades. Gostaria de saber como a Indústria, o Comércio e Serviços reagiriam se seus associados fossem molestados permanentemente pelos invasores de propriedade, pelo IBAMA e pelas SEMAS. O clima de apoio que o Centro das Indústrias – CIP teve na década de 60 congregando todas as forças produtivas não é o mesmo nos dias de hoje, talvez porque o ataque midiático e governamental em favor do ambientalismo esteja acovardando o pessoal. A bandeira da década de 60 assumida pela sociedade era o desenvolvimento, a bandeira de agora é o ambientalismo, a escravidão verde que consolida o subdesenvolvimento. Há 48 anos quando Quintiliano publicou o seu artigo, a sociedade paraense, as federações e associações de classe apoiavam o desenvolvimento, a libertação do Pará do subdesenvolvimento, bastou à presença e ações de órgãos públicos policialescos criados pelo PT e socialistas, ações policialescas que nunca existiram no período da ditadura militar, para que a covardia e a idiotice tomasse conta do cenário paraense. Ao que parece a produção de alimentos é menos importante do que uma falsa preservação ambiental, o que justifica um novo toque de reunir, agora com mais razão, pois não se trata de montar indústrias, mas de manter viva e com saúde as células produtivas agropecuárias, as produtoras de alimentos que sustentam a vida. Não quer isso dizer que a indústria perdeu o valor, pelo contrário, é por causa da ausência de indústrias sacrificadas há 48 anos que temos uma enorme deficiência em nossa economia que caminha a passos de cágado e, portanto, subdesenvolvida. 

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Toque de Reunir vale para todos os setores produtivos, para toda a sociedade, para tirar o Pará da paralisia econômica e para afastar da região essa coisa ruim, mortífera e escravizante que se chama desenvolvimento sustentável, que nada mais é do que sustentar e manter ainda mais ricas as nações desenvolvidas. Depois da casa arrombada não adianta chamar a polícia.             

Armando Soares – economista

e-mail: teixeira.soares@uol.com.br

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