Governo intervirá no mercado do trigo para garantir preços mínimos: você pagará duas vezes!
Por Klauber Cristofen Pires
Que tal você se deparar com uma promoção
assim: “Leve um, pague dois?”. Decerto me chamaria de louco.
Entretanto, quem está fora do seu juízo é quem não percebe que
diariamente adquire os mais diversos produtos segundo estes termos.
Tal é o caso dos subsídios agrícolas e
leis de garantia de preços mínimos. Neste ano, um excedente de
produção no mercado do trigo deverá acontecer, mas nem de longe
isto significa que o pão estará mais barato na mesa do brasileiro.
Segundo notícia veiculada pelo boletim
Notícias
Agrícolas, “o Governo deve intervir nos preços, como acontece
todo ano, a partir da próxima semana, com a liberação de 150
milhões de reais para leilões de PEP,
Pepro
e AGF
para escoamento desta safra. “A referência para o produtor deve
ser preço mínimo garantido pelo Governo, o que vier acima disso é
um preço que deve ser aproveita para comercialização””. (sic)
Obviamente, isto não é dito para o
público errado – os cidadãos que vão aos supermercados - bem
como não é dito da forma politicamente errada – isto é, que eles
pagarão uma primeira vez dos seus impostos para socializar o risco
empresarial de determinados agricultores, e mais uma segunda vez
quando estiverem em frente à máquina registradora dos supermercados
e padarias.
Para estes, o discurso é o da garantia
da estabilidade dos preços, um conceito econômico falso, na dupla
medida em que não há nenhum mal em se pagar a menos por algo que em
está em abundância e também porque o próprio mercado tem meios
mais eficientes de estocar e escoar a produção do que o governo.
Não obstante, a forte máquina de
propaganda estatal, a fazer uso pródigo de expressões tão
apelativas quanto “soberania alimentar” ou “segurança
nacional”, conquista facilmente os corações dos cidadãos criados
sob uma permanente cultura de medo e apreensão, que passam a ansiar
por estabilidade como algo a que se agarrar numa terra sacudida por
um infindo terremoto.
O mercado livre e desimpedido tem na
figura do caluniado especulador um agente econômico competente
para a regulação da oferta e da procura. Pesada campanha midiática
de índole socialista tem manchado a reputação e até criminalizado
tal atividade que a bem da verdade é crucial para a correta
informação sobre o que produzir e em que quantidades, bem como para
o eficaz escoamento da produção desde o campo até as bocas de
seres humanos e de animais de criação.
Ao defenestrar a figura do então chamado
“atravessador”, o governo não elimina a necessidade de sua
atuação, mas convenientemente a substitui pela sua própria, muito
mais ineficiente, corrupta e cara. Eis aí os silos públicos
abarrotados de grãos apodrecidos por má gestão ou fraudulentamente
vazios; os grãos selecionados para flagelados em secas e enchentes
serem usados com fins eleitoreiros; os recorrentes casos de desvios
de merenda escolar; o seu uso para cobertura logística de movimentos
sociais como o MST, e por aí vai...
Como muito bem registrado por Henty
Hazlitt, em “Economia
numa única lição”:
Os muito vilipendiados especuladores
não são inimigos dos fazendeiros; são essenciais a seu bem-estar.
Os riscos da flutuação dos preços agrícolas devem ser sustentados
por alguém; têm sido sustentados nos tempos modernos, na verdade,
principalmente pelos especuladores profissionais. Em geral, quanto
mais competente for a situação destes em seu próprio interesse,
tanto maior será o auxílio que prestarão ao fazendeiro, pois
servem a seus próprios interesses precisamente na mesma proporção
de sua habilidade para prever os preços futuros. Mas, quanto mais
exata for a sua previsão, tanto menos violentas e extremadas serão
as flutuações de preços.
Um eventual excesso de trigo, como é o
caso da notícia sobre a qual deitamos o nosso raciocínio, necessita
dos incentivos corretos - um papel propriamente bem desempenhado
pelo sistema de preços de mercado - para que parte dos futuros
plantios seja direcionada ao cultivo de outros alimentos que
porventura estejam com a demanda acentuada.
A regra é simples: paga-se menos por
trigo e paga-se mais por – suponhamos – amido de milho ou fécula
de mandioca. As aquisições efetuadas pelo governo e os leilões de
subsídios exercem justamente o efeito oposto, deixando no prejuízo
o cidadão, que é obrigado a pagar duas vezes, e os fornecedores dos
produtos alternativos, cuja oportunidade de participar do mercado é
frustrada pela ação estatal.
Como tenho veementemente afirmado, os
produtores rurais reclamam - com justa razão - da invasão de suas
propriedades pelo MST e por movimentos sociais congêneres, mas creem
como legítimas tais políticas públicas que nada mais são do que
puro esbulho possessório das carteiras dos consumidores.
Esta é a razão por que afirmo ser o
nosso país uma nação de trincheiras: uma sociedade em que cada
categoria de cidadãos escora-se no governo ou para agredir os
direitos dos seus semelhantes ou para defender-se da agressão
deles. No fim das contas, todos são agredidos em menor ou maior
grau, e o governo é o único beneficiário.
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