quarta-feira, 5 de maio de 2010

O que é a Inflação?

Por Klauber Cristofen Pires

Para quem paga as contas e visita regularmente o supermercado, tem se tornado patente que os índices de inflação oficiais não espelham a realidade. O dragão acordou e está se espreguiçando, para reinaugurar seu "reino de fogo", apropriando-me convenientemente da comparação com o filme homônimo. Nesta hora, convém oferecer aos leitores algum conhecimento sobre o assunto, para que não se deixem enganar mais uma vez.

A esmagadora maioria dos livros de economia conceitua a inflação como um "aumento generalizado e progressivo de preços", o que é um equívoco, num senso pra lá de eufemista. Como bem ensinado pelo economista Ludwig von Mises, a ascensão dos preços reflete apenas o percebimento da expansão monetária pelo mercado. Costuma-se trocar, portanto, a causa da inflação pela sua consequência, asim como se confunde a doença com a febre.

Assim se pronuncia o filósofo austríaco (Ação Humana, p. 587):

A revolução semântica, que é uma das principais características de nossos dias, também alterou o significado dos vocábulos inflação e deflação. Hoje, muitas pessoas chamam de inflação ou deflação não ao grande aumento ou redução da oferta de moeda, mas à sua inexorável conseqüência: a tendência generalizada de aumento ou redução dos preços  das mercadorias e dos salários. Essa inovação semântica está longe de ser inofensiva.  Representa um papel importante no fomento das tendências populares em favor do inflacionismo.
 
Expansão monetária: eis a principal causa de um movimento inflacionário. E o que vem a significar isto na prática? Nada menos do que imprimir dinheiro falso. Como em uma desonesta indústria de beneficiamento de laticínios, que adiciona água ao leite para vender mais quantidade de um líquido com cada vez menos consistência, o governo lança mais papel no mercado para pagar as contas dos seus gastos desenfreados.
 
Os aumentos de preços, portanto, se verificam pelo aumento da demanda desassociada de uma causa produtiva. O aumento dos salários do funcionalismo público sem o devido lastro econômico que dê suporte a tal aumento de riqueza traz a imediata consequência de fazer com que eles possam competir pelos bens e serviços com os demais cidadãos sem terem participado do processo produtivo. O mesmo efeito ocorre com todos os fornecedores de bens e serviços ao governo, especialmente para a manutenção da burocracia, para as despesas a fundo perdido (como o Carnaval)  e para as obras que não tragam um mínimo de retorno em termos de infra-estrutura (monumentos, palácios suntuosos e semelhantes).
 
Nestes tempos em que o populismo nos assombra, tal manipulação da linguagem provê ao político uma carta na manga a mais para quando as coisas começarem a desandar, pois ele apontará o dedo para os empresários gananciosos com a finalidade dupla de livrar a sua pele e de abocanhar mais algum naco de liberdade e de recursos dos  cidadãos. Virão então os controles de preços, as cotas de consumo, e o desabastecimento. Pessoas serão acusadas em público e o apelo canalha ao patriotismo começará a tomar a forma de caça às bruxas, com desapropriações e prisões. Quem se lembra dos "fiscais do Sarney", do confisco do boi no pasto e da prisão de donos e gerentes de supermercados guarda as lembranças mais nítidas daquele triste tempo. 
 
Causar inflação tem sido um vício constante dos estados desde o século XIX, mais propriamente após a ascensão das idéias keynesianas e socialistas, e desandou de vez com o abandono do padrão-ouro e a invenção do papel-moeda de curso forçado.
 
Com o fim do segundo mandato do governo Lula, muito sortudo por ter navegado por anos a reboque de um prolongado crescimento econômico mundial, as nossas contas públicas já começam a dar os primeiros sinais de falta de fôlego. Foi dinheiro a rodo para o MST; para o inchaço da máquina pública com a admissão de um número extravagentes de novos servidores e a criação de um número absurdo de cargos de confiança; para os programas ditos sociais que jamais trouxeram resultado algum, e também para a patética política externa.
 
Intuo que o sucessor de Lula, seja quem for, não terá como escapar à crise que demorou para acontecer. A ele restará o ônus político de tomar decisões impopulares, o que pode significar mais um triunfo para Lula e para o PT, se o cargo estiver ocupado por um oposicionista, ou de aproveitar o estado de dissolução da sociedade para emplacar desapropriações em massa, caso o resultado seja o da continuidade. Somente a noção clara deste fenômeno pela sociedade pode desmascarar esta farra e fazer com que tenhamos condições de cobrar as responsabilidades dos governantes.

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