Como o PT conseguiu estragar tudo?
Em 2009, a revista britânica “The Economist” publicou em sua capa uma imagem do Cristo Redentor em forma de foguete prestes a levantar voo, com o título “Brazil takes off” (“Brasil decola”, em tradução livre). Em 2013, o sentimento era outro. A mesma revista publicou uma imagem do Cristo Redentor, agora em trajetória de queda, sob o título “Has Brazil blown it?” (“O Brasil estragou tudo?”). Se em 2013 havia dúvida para tanto pessimismo, agora não há mais. O Brasil estava numa trajetória de crescimento e conseguiu realmente estragar tudo. Como se explica tamanha proeza? Particularmente, penso que foi um misto de miopia ideológica, incompetência e oportunismo eleitoreiro.
Comecemos pela questão ideológica. A esquerda não suporta a ideia de que o liberalismo possa gerar crescimento econômico. Isso é para eles uma obscenidade. Se funcionar, eles vão torcer o nariz e inventar histórias mirabolantes. Vão criar um falso programa de estímulo ao crescimento, dar um nome impactante e convencer a população – e, em alguns casos, até a si próprios – de que esse programa é que de fato está levando o país à diante. Mas o pior acontece quando o crescimento desacelera. Nesse caso, a esquerda vai sacar do seu keynesianismo mal compreendido soluções desastrosas. Ao problema ideológico, soma-se agora uma questão de incompetência.
Desde os tempos de Adam Smith (1723-1790), sabe-se que a riqueza de uma nação depende de sua capacidade de produzir mercadorias. Seria muito bom que essa riqueza dependesse da capacidade de consumo. Todos hão de concordar que é mais fácil estimular o consumo que a produção.
Em decorrência da crise de 2008, o governo adotou corretamente algumas políticas fiscais e monetárias de estímulo à economia. O resultado foi positivo. Em 2010, o crescimento foi de 7%. O problema do governo foi achar que poderia manter essas políticas por prazo indeterminado. Seria muito bom se as coisas funcionassem de forma simples assim, mas infelizmente a realidade é mais complexa.
Crescimento econômico depende essencialmente da manutenção de investimentos e de ganhos de produtividade. Em uma economia capitalista, os investimentos são realizados sobretudo pelo setor privado, que irá realizá-los somente quando sentir confiança nas políticas de manutenção da estabilidade macroeconômica. Do ponto de vista micro, o crescimento depende da produtividade, que, por sua vez, depende de uma série de fatores: qualidade das instituições, qualificação da mão-de-obra, logística, ambiente de negócios, entre outros. Resumidamente, na maior parte das vezes, para se gerar crescimento, é necessário estimular a oferta e não a demanda.
Esse foi um erro mortal do PT. O governo não atuou do lado da oferta, não efetuou esforços para aumentar produtividade e competitividade. Por outro lado, o estímulo a demanda via aumento do endividamento público e a aceleração inflacionária decorrente da redução forçada dos juros assustaram investidores. O setor privado percebeu claramente que os fundamentos macroeconômicos estavam comprometidos. Confiança é a melhor política industrial conhecida. E a falta dela é o caminho certo para a estagnação.
Por fim, a questão política-eleitoreira. Em 2003, quando Lula assumiu a presidência, muitos ficaram assustados. Quando estava na oposição, o PT era o partido do contra. Foram contra tudo que fez o Brasil avançar – desde a Constituição de 1988, até o Plano Real. Como essa esquerda radical iria se comportar no poder? Quem seria o novo Ministro da Fazenda? Havia uma grande expectativa em relação ao nome que Lula iria escolher. Isso seria o sinal de que o PT havia ou não abandonado suas teorias esquerdistas radicais.
Pois bem, entre tantos economistas heterodoxos de esquerda, Lula nomeou para o Ministério da Fazenda o médico Antonio Palocci. A escolha agradou os mercados. Palocci parecia um político moderado. O pânico foi dando lugar à confiança. O Brasil parecia ter passado por uma prova de fogo: um governo de esquerda assumiu o poder e isso não produziu nenhum trauma. Tudo indicava que a democracia havia enfim se consolidado no Brasil.
Durante o governo Lula, o país cresceu em média 4% ao ano. Esse bom desempenho teve duas razões principais: as reformas implementadas durante a gestão FHC e o aumento no preço das commodities no mercado internacional. Algumas políticas econômicas têm benefícios de longo prazo – ou seja, alguém planta e outro colhe. E, às vezes, esse que colhe é de outro partido político. Como se comportar em uma situação desse tipo? Políticos não costumam ser muito generosos na hora de reconhecer o mérito de seus adversários. Mas Lula foi ao extremo. Nunca reconheceu os benefícios que recebeu de seu antecessor. Com relação ao crescimento econômico, era tudo mérito seu, de FHC recebeu tão somente uma herança maldita. E, por fim, passou a dizer que inclusive a estabilização macroeconômica ocorreu na sua gestão.
Ingratidões à parte, tudo correu bem até a deflagração da crise econômica mundial. A partir de 2008, o PT abandonou a ortodoxia e passou a perseguir objetivos eleitoreiros de curto prazo. O importante deixou de ser os fundamentos macroeconômicos. O foco era vencer as eleições de 2010 e 2014. O estrago produzido, conserta-se depois. O resultado dessa política está aí para quem quiser ver. Ninguém está contente com a crise, mas vejamos o lado positivo: a bomba estourou nas mãos do PT e não na de seus adversários. Nada mais justo – quem comeu a carne, que roa os ossos. O populismo petista foi desmascarado, chegamos ao fim de uma era. Esse é o lado bom da história.
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