segunda-feira, 25 de maio de 2015

Guerra verbal: onde a guerra política começa a ser disputada. E o que a direita ainda precisa descobrir.


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A Bíblia diz “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”. Daí quando o verbo caiu nas mãos da direita, a coisa foi para o brejo. Falando sério, nenhum outro grupo social de larga escala foi tão desleixado no uso da expressão verbal quanto a direita. Minto. A direita religiosa consegue ser pior que a direita secular.
Esse é nosso grande desafio. Hoje em dia, a direita que consegue usar a linguagem como uma “arma” (assim como a esquerda já o faz) é ínfima. Devemos aumentar esse contingente urgentemente. Até acredito que no cotidiano, as pessoas de direita usem a linguagem a seu favor. Na hora de fechar um contrato, fazer uma negociação, nos relacionamentos, etc.
Por exemplo, existe uma diferença entre o que pensamos e o que falamos. Imagine alguém conhecendo uma bela garota e pensando: “Quero levar ela para cama hoje pois eu não consigo pensar em outra coisa”. Mas na hora da sedução, com certeza a verbalização será bem diferente do pensamento, até porque se fosse exatamente igual tudo que ele falasse iria distanciá-lo de conseguir seduzir a garota de fato. Enfim, pela cabeça passam todos os tipos de pensamentos. Mas ao falarmos em situações onde estamos sob avaliações externas, a coisa muda de figura, e devemos aliar o discurso aos resultados esperados.
É claro que o direitista não é uma figura inábil para a vida social, quando comparado aos esquerdistas. São tão aptos quanto. Porém, quando falamos do debate público, a coisa desanda. O analfabetismo político torna tudo até engraçado.
A boa notícia é que podemos fazer algo a respeito. O primeiro pontapé é começarmos a entender que a guerra política é vencida (ou perdida) enquanto cada lado abre sua boca, e decide, pela sua própria consciência, o que será expressado. Em tempo: “abrir a boca” é uma metáfora para qualquer expressão humana, seja por via oral ou pela via escrita.
Vamos a um exemplo. Leonardo Sakamoto fez um post se fingindo de vítima de ódio. Usou vários posts de oponentes em seu fórum dizendo “você devia morrer” ou “melhor se você for estrangulado”, etc.
Na hora de abrir a boca, Sakamoto optou pelo shaming em cima do que oponentes fizeram. Essas pessoas que o atacaram optaram pelo discurso da ameaça direta, um dos discursos mais falidos da era atual, onde a dissimulação é necessária ao menos em alguma medida. A pergunta a ser feita é: “em busca de qual resultado cada um ali abriu a boca?”. É claro que Sakamoto, estrategicamente falando, sabe escolher suas verbalizações. Muitos de seus adversários, inocentemente, nem pensam nisso.
Eu não estou querendo propor que todas as pessoas de direita sejam estrategistas verbais. Nem a esquerda consegue isso. Mas o fato é que na esquerda a falta de tato verbal hoje é um comportamento desviante, enquanto na direita é demasiadamente pervasivo.
Muitas das críticas que faço são focadas exatamente neste problema. No momento em que nos expressamos politicamente, qual o objetivo de fazermos uma determinada comunicação?
Já vi muitos argumentadores de direita dizendo “ah, a constituição permite que eu defenda (x)” ou “está na lei previsto que eu posso dizer (y)”. Ok, talvez. Mas a pergunta: “Em que momento a constituição ou a lei citam quais comunicações geram melhores ou piores resultados?”.
Uma vez que entremos em um fórum para opinar (ou atuar em qualquer ambiente de interação humana), estamos executando uma ação política. A comunicação expressada é escolhida conforme nossa consciência. Mas a pergunta é: “para que resultado é feita a comunicação?”.
Imagino um leitor de Hans Herman Hoppe entrando em um fórum e dizendo “ah, mas a democracia fracassou mesmo”. Volto com a questão: “para que você está em público dizendo isso?”. Será que alguém que se declara “contra a democracia” realmente se compromete com algum resultado político de qualquer forma?
Uma das maiores críticas que faço aos intervencionistas refere-se ao fato deles verbalizarem frases que só servem para que seus oponentes da esquerda os ridicularizem. O mais absurdo é o esforço retórico hercúleo que eles fazem em torno de justificar a manutenção do “direito” de continuarem fazendo tal discurso. Bem, é claro que eles têm o direito de falar o que quiserem. Mas não o direito moral.
Quando um petista fala em “democratização de meios de comunicação”, enquanto pensa em totalitarismo completo, isso demonstra um perfeito entendimento da noção de que o resultado político é obtido a partir dos frames escolhidos. Quando o intervencionista diz que “intervenção militar é a solução“, isto não irá resultar em nenhum ganho político para seu lado. Ocorrerá o contrário, pois declarações comprometedoras sempre são um presente para o oponente. O mesmo vale para os que falam que “a democracia não funcionou”. Se o mais esperto é o que sempre se agarra melhor ao rótulo “democracia”, o que tem na cabeça alguém dizendo que “democracia já era”? Nos dois últimos casos a resposta é simples: não há comprometimento em relação a resultados, e, pior, nem sequer mesmo a consciência de que a guerra política é vencida na batalha da comunicação.
No empreendimento de remodelar a estrutura mental da direita (uma das coisas mais urgentes para o momento) o primeiro desafio é conseguir fazer com que muitos entendam onde a guerra política ocorre. A resposta é simples:  na linguagem.
Fonte: Ceticismo Político.

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