quinta-feira, 28 de maio de 2015

Drama amazônico

 Por Armando Soares 

“Sob o disfarce de uma causa nobre, o movimento ambientalista-indigenista internacional e seu exército de organizações não-governamentais (ONGs) representa hoje num dos maiores entraves ao progresso da humanidade, visando projetos de infraestrutura, novas tecnologias e avanços científicos fundamentais para o desenvolvimento e bem-estar.”
(Máfia Verde 2)
               

O livro Fordlândia, de autoria de Greg Grandin, professor associado de história na Universidade de Nova York, documenta, bem interpretado, como a Amazônia sempre foi vista no passado, uma floresta sem valor, diferentemente dos dias atuais cobiçada e já submetida ao controle de estrangeiros, não só por suas riquezas, por seu clima, por suas águas, por sua localização geográfica estratégica, e por ser a última fronteira agrícola com potencial para produzir alimentos e matérias-primas em larga escala para atender o Brasil e outros países, em destaque o seu estoque abundante de água doce produto cada vez mais raro no mundo.


                O que o livro mostra de muita importância é a ausência de uma memória histórica brasileira amazônica, uma vez que o autor se valeu de memória existente nos arquivos americanos, realidade que assusta, pois é prova de que brasileiros e amazônidas não têm memória para escrever com autoridade a verdadeira história econômica amazônica. Grandin obteve nos registros americanos dados importantes sobre a Amazônia, mas comete erros graves de avaliação. É certo que a equipe técnica do projeto Ford errou na escolha do local suscetível ao ataque do fungo que mata a seringueira, erro cometido por desconhecer o trabalho dos ingleses no sudeste asiático. Hoje se sabe que o Pará possui milhões de hectares de área de escape ambiental propicia ao plantio de seringueira, erro de avaliação que levou o autor do livro a desclassificar a Amazônia para o desenvolvimento. 

Mesmo considerando o equívoco da área escolhida pelos assessores de Henry Ford para o plantio da seringueira, esqueceu Grandin – esquecimento grave em se tratando de escrever sobre um investimento tão significativo para o Pará – que graças às pesquisas desenvolvidas pelo pessoal de Ford, foi introduzido no Pará pela primeira vez no mundo o processo de enxertia de copa resistente ao “mal das folhas”, processo que permitiu que as seringueiras enxertadas fossem as únicas que sobreviveram no projeto Fordlândia. Se Ford e seus técnicos estivessem na ocasião preocupados em saber as causas do sucesso do plantio de seringueiras no sudeste asiático, teriam dirigido o plantio de seringueiras para as áreas de escape ambiental, que associada à enxertia de copa avançaria com vantagem sobre os ingleses. Foi essa falta de visão de Ford e seus técnicos as mesmas razões que provocou a falência da atividade econômica amazônica baseada em produção da borracha em seringais nativos e o fracasso das diversas tentativas do plantio racional de seringueiras. Portanto, a causa da falência do extrativismo da borracha e do projeto Ford se deve unicamente a absoluta falta de visão, a incompetência ou soberba, sinônimo de burrice. Caso Ford e antes os amazônidas tivessem acompanhado os investimentos ingleses no sudeste asiático, saberiam que o sucesso do plantio de seringueiras estava na escolha do local do plantio, e se assim fosse feito continuaríamos hegemônicos na produção de borracha e a Amazônia estaria desenvolvida puxando com ela o resto do Brasil. Perdemos o trem do desenvolvimento exclusivamente por falta de visão, por incompetência e pela soberba estúpida. Da mesma forma, isto é, por burrice estamos perdendo a oportunidade de desenvolver a Amazônia nos dias de hoje por acreditarmos que fazemos um grande negócio blindando a região com uma política ambiental retrógrada que atende apenas os interesses ingleses e americanos. Deixamos de alcançar o desenvolvimento com a borracha e agora estamos impedidos de desenvolver a Amazônia pelo aparato indigenista-ambientalista. Estamos contaminados pela mediocridade.

                Grandin, apesar do seu magnífico trabalho é um soldado a serviço do ambientalismo e do colonialismo moderno. Interpretou mal a questão da borracha e infantilmente desqualifica a floresta para receber investimentos, apontando seu tiro contra as ações governamentais (período militar), com investimentos que comprovaram a total possibilidade de fazer crescer a floresta amazônica, realidade que provocou uma guerra mundial contra essa possibilidade através de exércitos ambientalistas (ONGs) e outras forças, principalmente a mídia internacional.

                A verdadeira história não perdoa os cínicos e mentirosos. Conforme registrado no livro de Grandin os exploradores e missionários do século XIX e do início do século XX muitas vezes descreviam a selva amazônica como um mal inerente, ou como revelação do mal que os homens carregam dentro de si. Viajando pela região em 1930, o líder laico anglicano Kenneth Grubb escreveu que a floresta põe para fora os “piores instintos do homem, brutaliza as afeições, endurece as emoções e expõe como intenção terrível e maligna, todo o mal e todo desejo sórdido.” O livro destaca a passagem de Theodore Roosevelt e de sua expedição, publicado na revista Scribner, onde retrata a Amazônia como um lugar malévolo, onde coisas “sinistras e más, ficavam à espreita na “imobilidade escura” de suas trilhas.” O diretor de cinema alemão Werner Herzob via a floresta amazônica como repleta de obscenidade. “A natureza é violenta. Vejo fornicação e asfixia, afogamento e luta pela sobrevivência (...), simplesmente apodrecimento. É claro que existe muita miséria, mas é a miséria que está a nossa volta. As árvores estão em estado de miséria, os pássaros estão em miséria. Eles não cantam, apenas gritam de dor.” É  incrível que uma região e floresta com todos esses defeitos tenha atraído tantos países ricos, ONGs, para dominá-la.




                A viabilidade econômica da floresta amazônica foi comprovada pelos cearenses pobres e famintos, assim como os militares. A domesticação e a posse de fato da floresta amazônica foi obra dos cearenses pobres e famintos, e o seu desenvolvimento foi obra dos militares expresso no governo Castelo Branco com a “Operação Amazônia”. No período da exploração da borracha fomos derrotados, e o projeto Fordlândia dos americanos, por nós mesmos, pela incompetência brasileira e americana. No período dos militares fomos derrotados pelo ardiloso projeto de conservação da floresta amazônica produzido no seio da ONU pelos EUA e Inglaterra e aliados europeus. Enquanto a sociedade amazônida e brasileira estiver apoiando a política ambiental brasileira construída por estrangeiros e inserida na Constituição, o desenvolvimento amazônico estará comprometido. Para que isso aconteça é preciso destruir a mentira ambiental pregada nas escolas, nos colégios e nas universidades como na mídia nacional e internacional comprometida com a fome insaciável dos colonialistas modernos.

                Um esclarecimento que se faz necessário sobre o projeto Fordlândia é que ele não foi idealizado para contribuir ou ajudar o desenvolvimento paraense e amazônico, mas unicamente para derrubar o cartel da borracha britânico comandado por Winston Churchill, projeto americano de iniciativa de Flarvey Firestone, em 1925. Mesmo com essa finalidade puramente econômica, Fordlândia fracassou por incompetência, fracasso ao qual se junta o governo paraense e a mão-de-obra nativa, ambos refratários a tentativa dos americanos e ao desenvolvimento. A Amazônia não tem “caveira de burro” enterrada para impedir seu desenvolvimento, tem amazônidas e brasileiros sem visão, sem competência para poder enxergar o seu valor inserido num projeto de construção de uma nação rica.

Armando Soares – economista



Soares é articulista de LIBERTATUM

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