A Suécia é um modelo para o Brasil?
Quando nós, brasileiros, lemos ou ouvimos falar alguma coisa sobre o Estado de Bem Estar Social escandinavo, e principalmente sobre o modelo sueco, costumamos ficar com uma certa inveja. Imagine viver em um país onde a educação, da pré-escola à pós-graduação, é totalmente gratuita e de altíssima qualidade. Imagine um país em que você não tem de pagar um plano de saúde particular para ter acesso a um serviço médico decente. O governo provê a população de bons hospitais e tratamentos médicos gratuitamente.
O que acontece na Suécia é tão diferente da nossa realidade que muitas vezes nos deixa perplexos. De acordo com o PISA (em inglês,Programme for International Student Assessment), que avalia o nível da educação básica em diferentes países, a Suécia possui escolas públicas e gratuitas de altíssima qualidade. Mas, se mesmo assim, algum cidadão não concorda com o método de ensino das escolas públicas, essa pessoa tem a opção de matricular seu filho em uma escola privada, que utiliza métodos alternativos. O detalhe é que as escolas particulares são subsidiadas pelo governo e também são totalmente gratuitas.
A notícia mais chocante que eu li sobre a Suécia foi que homens de meia idade (assim como eu) estavam reivindicando do governo serviços sexuais gratuitos. Todos sabemos que, depois de uma certa idade, fazer sexo extra-conjugal gratuitamente vai ficando cada vez mais difícil, principalmente para os mais exigentes. Por conta disso, os cinqüentões suecos acharam que o Estado deveria pagar pelos serviços oferecidos por prostitutas. E esse serviço é ofertado normalmente por mulheres estrangeiras, oriundas principalmente dos países mais pobres da Europa. Mulheres suecas raramente se dedicam a essa profissão.
Muito bem, antes de concluirmos que a Suécia é uma espécie de paraíso perdido, convém analisarmos alguns fatos. Todos nós sabemos que em economia “não existe almoço grátis”. Essa vasta rede de assistência social custa caro. Ou melhor, custa muito caro. E os recursos para financiá-la têm de vir de algum lugar. Para financiar esse modelo de bem estar, a Suécia tem de cobrar impostos altos. Esse país escandinavo tem uma carga tributária de quase 50% do PIB, uma das maiores do mundo. Superior inclusive que a do Brasil que gira em torno de 34%. A conclusão é muito simples. Se a Suécia cobrasse menos impostos, a população teria mais dinheiro para gastar e poderia custear por conta própria serviços de educação e saúde, entre outros.
Temos de lembrar também do seguinte: o setor público normalmente é menos eficiente que o setor privado. Essa afirmativa é verdadeira para qualquer país do mundo, inclusive para a Suécia. Deixar que o setor público administre 50% do PIB é confiar demasiadamente no Estado. Concordam comigo? Devemos refletir também se precisamos de um Estado que cuide de nós como se fôssemos criancinhas que não sabem tomar decisões. Essa ideia de Estado babá também não me agrada muito.
Outro aspecto que tem de ser considerado é que o governo sueco somente consegue prover a população de serviços de tão alta qualidade porque a Suécia é um país rico. E como a Suécia se tornou um país tão rico? Percorrendo o mesmo caminho que todos os outros países ricos percorreram: trabalho, livre-mercado e inovação. A social-democracia e o Estado de Bem Estar Social não deixaram a Suécia mais rica.
Finalmente, a questão mais importante: o modelo sueco pode ser replicado em outras nações, como no Brasil, por exemplo? Eu creio que não. Para se criar um forte Estado de assistência social, é necessário que as pessoas confiem muito umas nas outras. Isso é possível em um país com 9,4 milhões de pessoas, que falam a mesma língua, praticam a mesma religião e são fisicamente e culturalmente muito parecidas. Ou seja, o modelo sueco funciona em um país pequeno e homogêneo. Acho improvável que esse modelo funcione em um país com características tão diferentes como o nosso. Brasileiros tendem a esperar muito do Estado, por isso o modelo sueco de bem estar nos parece tão sedutor. Penso que está na hora de virar esse jogo. O melhor modelo para o Brasil, no meu entender, é o de um Estado menor, menos oneroso e de cidadãos que saibam gerir com responsabilidade e autonomia seus recursos.
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