Confiscar dinheiro da poupança dos depósitos compulsórios: um péssimo precedente

Em sistemas financeiros operados por Bancos Centrais e sob a égide do Acordo de Basileia, o que ocorre na maioria esmagadora dos países (praticamente todos, de fato), os bancos comuns podem emprestar muito mais dinheiro do que eles efetivamente recebem em depósitos, alavancando suas reservas e operações muito além do que supostamente poderiam fazer, criando um sistema de insolvência constante do sistema bancário. Em última análise essa operação é um sistema em que bancos criam dinheiro do nada, com beneplácito dos Bancos Centrais, que em troca exigem que esses bancos transfiram uma pequena parte desses depósitos para a conta do Banco Central, como forma de garantir uma liquidez mínima dos bancos. Esse pequeno depósito se chama “depósito compulsório”, e é uma das poucas linhas de defesa contra a já citada insolvência generalizada de todo o sistema bancário.
O Governo Federal, na ânsia de injetar mais dinheiro na economia, dentro daquilo que já convencionamos chamar de “keynesianismo vulgar” (se a economia está mal, gaste dinheiro na economia nacional, e se a economia vai bem, gaste mais um pouco também), reduziu ainda mais o depósito compulsório, obrigando os bancos a emprestar esse novo excedente de recursos, ainda que na prática fazendo o nosso sistema bancário mais frágil.
Agora, voltando ao assunto principal, os bancos privados brasileiros têm se recusado a utilizar esse excedente de recursos, especialmente no setor imobiliário, o que é algo, a princípio, muito estranho, já que a atividade principal de um banco, e o meio onde ele efetivamente ganha mais dinheiro, é exatamente o ato de emprestar dinheiro. Se bancos não emprestam dinheiro, eles não têm retorno. E se não tem retorno, perdem rentabilidade, investidores e, por fim, perdem fatia de mercado e lucro. Então fica a pergunta: por que os bancos privados brasileiros não estão querendo emprestar dinheiro?
São várias as respostas, mas eu poderia resumir todas elas em uma frase: instinto de auto-preservação. Os principais pensadores econômicos ligados aos bancos já perceberam que o país não tem mais poupança interna suficiente para continuar com essa gastança desenfreada, e em uma tentativa até tola de confrontar a maluca política brasileira de deterioração dos recursos brasileiros, estão segurando esses recursos voluntariamente, lutando contra as ordens do Governo para fazer com que o nosso sistema não fique ainda mais desprotegido do que já está. Essa abundância de recursos cria o efeito de maus-investimentos, pois quando há dinheiro demais disponível para empréstimos, os critérios para concessão deles é relativizado pelos bancos, e isso normalmente gera alta inadimplência e péssimos retornos financeiros, além do desperdício de recursos de toda a sociedade. Os bancos estão indo contra os estímulos econômicos naturais do afluxo de recursos numa tentativa racional de tentar barrar a péssima gestão econômica do Banco Central.
Interessante notar que esse fenômeno não é exclusivamente brasileiro, ou como diz a piada, não é “jaboticaba”. Após a crise de 2007/2008, causada exatamente pela pressão do Governo dos EUA aos bancos para conceder ao cidadão americano uma linha de crédito imobiliário que o sistema não podia suportar, em conjunto com a prática de “malinvestments” gerada por uma taxa de juros reduzida artificialmente pelo Federal Reserve (BC americano), o Governo americano passou a expandir a base monetária do dólar de maneira tresloucada, através da política conhecida no Brasil como “afrouxamento monetário” (“quantitative easing” em inglês). Os bancos de lá, preocupados com a estabilidade do sistema, passaram a lutar contra o Governo, e também represaram os recursos, não emprestando esse excedente, o que impediu o completo colapso do dólar.
Mas há como barrar a vontade de um Governo que quer destruir a economia brasileira, e por conseguinte nosso sistema bancário, a qualquer custo? Afinal, o Brasil é historicamente menos garantidor de direitos individuais que os EUA, e normalmente quando particulares, por mais poderosos que sejam, batem de frente com o Governo, este último vence.
A medida que o Banco Central estuda agora é gerar “juros negativos” contra os bancos que não emprestarem os recursos liberados. “Juros negativos” é um nome bonito para expropriação de divisas, ou, melhor ainda, para CONFISCO da poupança retida via depósitos compulsórios. Esse é um precedente perigoso, visto nossa história recente já em período democrático. Achar normal um Banco Central expropriar unilateralmente recursos de depósitos bancários é o começo do fim da racionalidade de um sistema financeiro já meio irracional e ultra alavancado.
Nesse momento, estou realmente curioso para ver qual será o resultado prático da loucura administrativa em que nos encontramos, que está gerando reflexos em todos os setores da sociedade brasileira. E que, na medida do possível, a população aprenda de uma vez por todas, o erro que é votar em políticas e partidos comprometidos com o que há de pior em matéria de filosofia e economia política.
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