Sociologia e Filosofia no Ensino Médio ou Manual do revolucionário e conversa de mesa de bar
Temos insistido, em alguns de nossos artigos, na abordagem de um problema grave do nosso país: a educação. A educação dos jovens de Ensino Médio é de má-qualidade. Se fosse apenas isso, seria menos grave. O problema é que, além de ruim, ela é perversa, ou seja, não se limita a deixar uma enorme lacuna intelectual e cultural nos adolescentes, mas tenta insistentemente preencher essa lacuna com doutrinação. A coisa funciona, grosso modo, assim: apresenta-se a visão de mundo marxista (nem sempre de forma explícita) na forma de uma leitura crítica da realidade. O adolescente, então, fica muito satisfeito ao sentir-se capaz de enxergar o mundo de uma maneira “não alienada”. Ele “percebe” o que está escondido por trás dos fatos históricos e, agora, ele já sabe, por exemplo, que a riqueza é gerada pelo acúmulo de mais valia apropriado pelo patrão, que o petróleo era o único interesse dos Estados Unidos em todas as guerras nas quais se envolveu, que aquilo em que acreditava no ano passado eram apenas ideias das classes dominantes, etc.
O fato é que, tendo trabalhado esse ano com material escolar de sociologia e filosofia para jovens estudantes, cheguei a uma triste conclusão: a lei que tornou obrigatório o ensino dessas duas disciplinas no Ensino Médio ofereceu uma ferramenta a mais para a estupidificação dos nossos filhos. A questão é gravíssima. Se, na filosofia, ficássemos apenas com o livro didático da Marilena Chauí, aquela que deu o seu “grito primal” contra a classe média e que afirma que o mundo se ilumina quando Lula fala, teríamos um problema de menor dimensão, já que o seu ranço ideológico se encontra dissolvido em meio à história da filosofia e não é muito fácil descobrir a “luta de classes”, por exemplo, no debate entre empiristas e racionalistas ou na querela medieval em torno dos “universais”.
Ocorre que atualmente há os chamados Sistemas Educacionais que funcionam como editora e fornecem material didático para diversas escolas credenciadas. O material tem a forma de apostila e tudo é exposto de modo muito sumário e resumido. Como não há, nas disciplinas citadas, um consenso acerca do conteúdo a ser abordado, fala-se de tudo um pouco: a sociologia torna-se um manual do revolucionário e a filosofia uma conversa de mesa de bar. Não raro as disciplinas confundem-se, bastando para isso que o ilustre que escreveu o material de filosofia tenha estudado mais Ética e Filosofia Política na universidade que os outros ramos mais abstratos da grade curricular.
Quando lembro que o Ministério da Educação passou das mãos de alguém totalmente alheio ao problema educacional para as mãos de alguém engajado em conquistar mentes e corações, tudo fica pior. A minha esperança, então, se deposita na ousadia intelectual de alguns indivíduos, no espírito insubmisso de alguns jovens que tentarão, a despeito de tudo, pensar por si mesmos. E, claro, no bom e velho capitalismo que, tendo tornado possível essa coisa verdadeiramente revolucionária que é a Internet, deixa a porta aberta para aquele estudante inquieto que certamente buscará de maneira exaustiva uma leitura mais lúcida da realidade. Mas se esse jovem é usuário das redes sociais, precisará vencer mais um obstáculo: não se deixar “humanizar”.
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