sábado, 13 de junho de 2015

Professores e alunos na escola. O ensino na Idade Média – Parte 2

Régine Pernoud

Filósofo medieval, Grandes Chroniques de France
Filósofo medieval, Grandes Chroniques de France

Os mestres eram quase sempre secundados pelos estudantes mais velhos e mais formados, como atualmente no ensino mútuo. Diz Gilles de Muisit, lembrando as suas recordações de juventude:
“Que bela coisa ver a quantidade de aprendizes: habitavam desvãos e quartos, em comum, filhos de homens ricos e filhos de artesãos”.
De fato, nessa época as crianças de todas as “classes” da sociedade eram instruídas juntas, como o testemunha a anedota célebre de Carlos Magno sendo severo para com os filhos dos barões que se mostravam preguiçosos, ao contrário dos filhos dos servos e de pessoas pobres.

Geometria
Geometria

A única distinção estabelecida consistia nas retribuições: ensino gratuito para os pobres e pago para os ricos. 
Esta gratuidade podia prolongar-se por toda a duração dos estudos, e mesmo para o acesso ao ensino, uma vez que às pessoas que têm a missão de dirigir e tomar conta das escolas o concílio de Latrão proíbe “exigir dos candidatos ao professorado uma qualquer remuneração pela outorga da licença”.
Há pouca diferença, na Idade Média, na educação dada às crianças de diversas condições.

Os filhos dos vassalos menores são educados na residência senhorial, juntamente com os do suserano, e os dos ricos burgueses são submetidos à mesma aprendizagem que o último dos artesãos, se estes querem futuramente tomar conta da loja paterna.
É sem dúvida por isto que temos tantos exemplos de grandes personagens saídos de famílias de condição humilde:
— Suger, que governa a França durante a cruzada de Luís VII, é filho de servos;
— Maurice de Sully, o bispo de Paris que mandou construir Notre-Dame, nasceu de um mendigo;
— São Pedro Damião foi guarda-porcos na sua infância; e uma das mais vivas luzes da ciência medieval;
— Gerbert d’Aurillac [Papa Silvestre II], é igualmente pastor;
— o papa Urbano VI é filho de um pequeno sapateiro de Troyes;
— e Gregório VII, o grande papa da Idade Média, era filho de um pobre cabreiro.

Roberto II o Piedoso, Grandes Chroniques de France, século XV, BNF

Roberto II o Piedoso, Grandes Chroniques de France, século XV, BNF
Inversamente, muitos dos grandes senhores são letrados cuja educação não devia diferir muito da dos clérigos.
— Roberto, o Piedoso, compõe hinos e sequências latinas;
— Guilherme IX, príncipe da Aquitânia, é cronologicamente o primeiro dos trovadores;
— Ricardo Coração-de-Leão deixou-nos poemas;
— assim como os senhores de Ussel, dos Baux e tantos outros.

E há casos mais excepcionais, como o do rei da Espanha Afonso X, o Astrônomo, que escreve sucessivamente poemas e obras de direito, faz progredir notavelmente os conhecimentos astronômicos da época com a redação das suas Tables alphonsines (Tabelas afonsinas), deixa uma vasta Chronique (Crônica) sobre as origens da história da Espanha e uma compilação de direito canônico e de direito romano, que foi o primeiro Code (Código) do seu país.
(Autor: Régine Pernoud, “Lumière du Moyen Âge” – Bernard Grasset Éditeur, Paris, 1944)

Fonte: Língua Portuguesa Reformacional 

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