Liberdade econômica e desenvolvimento
Ao assistir a um vídeo com vários discursos proferidos durante o debate preparatório para o 5º Congresso Nacional do PT, senti um profundo desapontamento. Entre outros tantos absurdos, muitos palestrantes se manifestaram abertamente contra o capitalismo e a favor do socialismo. Isso demonstra o atraso do embate entre direita e esquerda no Brasil. A discussão sobre o melhor modelo econômico, socialismo ou capitalismo, está superada pelo menos desde a queda do muro de Berlin. Nos países mais avançados, o debate é entre liberais e social-democratas, ambos a favor do capitalismo.
Cingapura: riqueza e liberdade econômica
O próprio Thomas Piketty, o grande ícone da esquerda na atualidade, já disse várias vezes ser a favor do capitalismo. Em seu livro “O capital no século XXI”, ele cita um exemplo bem interessante. Na França, na década de 1880, uma bicicleta custava o equivalente a seis meses de trabalho e era de péssima qualidade. Na mesma França, quase 100 anos depois, na década de 1960, uma bicicleta custava menos de uma semana de trabalho e a qualidade era muito superior. Qual sistema econômico proporcionou esse incremento de consumo?
Socialistas acreditam ainda que o liberalismo é uma simples invenção das elites para manter seu status quo. Esse é outro equívoco. Uma economia de mercado pode beneficiar a todos, ricos e pobres, capitalistas e trabalhadores. Para Simon Kuznets (1901-1985), “o crescimento é como a maré alta: levanta todos os barcos”. Ou seja, levanta tanto um transatlântico, como uma jangada.
Muito bem. Mas se o capitalismo liberal é tão bom assim, por que existe tanta pobreza e desigualdade nos países em desenvolvimento, entre eles o Brasil? A resposta é relativamente simples. Falta ao Brasil justamente aquilo que os socialistas mais criticam: liberdade econômica. De acordo com o Índice de Liberdade Econômica (Index of Economic Freedom), criado pelo prestigioso centro de pesquisa norte-americano Heritage Foundation, o Brasil ocupa a 118ª posição, num ranking de 178 países, ordenados de acordo com o grau de liberdade econômica. O Brasil está atrás de países como Honduras, Gâmbia, Tanzânia, Nicarágua, Senegal, Costa do Marfim, Zâmbia, Bósnia e Hezergovina, Namíbia, Uganda, Suazilândia, Albânia, El Salvador, Cabo Verde e Guatemala. Ou seja, estamos muito mal na foto. É bom ressaltar também que, nas três últimas posições, estão: Venezuela (176), Cuba (177) e Coreia do Norte (178).
Mas o que significa liberdade econômica e como esse índice é calculado? Basicamente, ter liberdade econômica significa: proteção à propriedade privada, livre-comércio, estabilidade monetária e um Estado pequeno em relação ao tamanho da economia.
Por todo mundo, vemos uma forte relação entre liberdade econômica e qualidade de vida da população. Em países mais livres, as pessoas têm salários mais altos, direitos civis mais protegidos, meio-ambiente mais limpo e maior expectativa de vida. Em países mais livres, há menos corrupção, menos trabalho infantil e menos desemprego.
Dentro desse contexto, um caso que chama bastante a atenção é Cingapura. Esse pequeno país asiático, ex-colônia britânica, independente apenas desde 1959 e muito pobre em seu passado recente, está hoje entre os países mais ricos e desenvolvidos do mundo. Coincidentemente, no ranking dos países mais livres, Cingapura está em segundo lugar, atrás apenas de Hong Kong.
Finalizando, deixo aqui uma questão. Em qual modelo econômico o Brasil deveria se basear para melhorar o padrão de vida de todos, mas sobretudo dos mais pobres? No modelo capitalista-liberal de Cingapura ou no modelo socialista-centralizador de Cuba? A resposta é óbvia demais? Pois eu acho que essa pergunta deveria ser enviada aos dirigentes do PT. Talvez essa minha análise (e outras que tenho feito) seja muito superficial – petistas já me disseram isso mais de uma vez. É possível que os intelectuais petistas consigam analisar esses fatos com mais profundidade e perceber aquilo que eu não consigo enxergar: ou seja, que o modelo socialista-centralizador cubano é o melhor.
Fonte: Instituto Liberal
Sobre o autor:
Ivan Dauchas é economista formado pela Universidade de São Paulo Professor de Economia Política e História Econômica.
Fonte: Instituto Liberal
Sobre o autor:
Ivan Dauchas é economista formado pela Universidade de São Paulo Professor de Economia Política e História Econômica.
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