Prezados amigos leitores,
Muito já se tem dito sobre a catástofre que se produziu na região serrana fluminense, e dadas as proporções da tragédia, nem a imprensa mais chapa branca pôde se esquivar de concordar de que o problema poderia ter sido ao menos minimizado, não fossem as seguidas incúrias dos governantes.
Se pudermos resumir as causas praxeológicas, usando o termo cunhado por Ludwig von Mises, isto é, os motivos pelos quais as pessoas em geral decidiram construir suas moradias em terrenos sob situação de risco, coloco duas fundamentais: primeiramente, a existência de falsos incentivos, e em seguida, a situação de necessidade para um povo que tem o seu bolso tungado em pelo menos quarenta por cento do suado produto do seu trabalho para sustentar um estado absolutamente irresponsável, inepto e sobretudo, estelionatário.
Claro, há mil e tantas outras alegações que se podem apresentar, mas o que pretendo demonstrar aqui é que de uma maneira ou outra praticamente todas elas caberiam em uma das duas posições que coloquei acima. Concentremo-nos, portanto, sobre a primeira, já que a segunda já se explica por si só, pelo menos no tocante à parcela da população mais carente, já que nem todas as casas eram exatamente barracos de favela, mas até mesmo algumas consistiam em edificações elegantes.
Em um programa jornalístico exibido no ano passado quando houve os desabamentos de Angra dos Reis, exibiu-se o depoimento de uma senhora norte-americana que declarou ter escolhido morar no bairro mais alto de sua cidade - que também já sofreu com alagamentos e deslizamentos - justamente porque a opção pela parte baixa resultava no pagamento de um prêmio maior para o seu seguro residencial.
Temos portanto, um bom cenário de comportamento individual responsável que tomou sua decisão em face das informações precisas fornecidas por um agente do mercado idôneo e que possui os meios de efetivar as suas escolhas, já que com o cidadão permanece ainda a maior parte de sua poupança. Com efeito, a decisão de morar na zona mais perigosa da cidade resultaria no mínimo anti-econômica ou ao menos teria se produzido depois de um alerta com a informação severa dos riscos a ela inerentes. E olhem, leitores, que estamos falando de um país cujos serviços de defesa civil são reputados como os melhores do mundo.
Estendendo agora este processo para uma visão macro, isto é, para toda a população do lugar, temos que mesmo os empreendimentos e as ofertas de trabalho quando possuem as informações e os incentivos corretos (ou os mais acertados, dentro do possível) se produzem em lugares mais seguros, facilitando, pois, ainda mais, as escolhas de cada pessoa.
No Brasil, todos estes elementos são gritantemente faltantes: praticamente se desconhece a opção pelo seguro residencial, que vem sendo substituída pelo aluguel social do governo e pela legalização de moradias resultantes de invasões e ocupações irregulares, estas sim, medidas tremendamente incentivadoras de atitudes incorretas, bem como até da oferta de casas pelo governo, às vezes melhores do que as atuais, faciliade esta que não recebem as pessoas, mesmo as pobres, que decidem por morar em locais mais seguros por iniciativa própria.
Neste ponto, ressalto aqui como alguém pode contar a mais descarada mentira falando a mais pura verdade: refiro-me ao depoimento prestado pelo governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, que usando da genética capacidade dos de sua laia ideológica de buscar culpados externos, acusou os "políticos populistas" por incentivarem a ocupação e a legalização em áreas de risco, como se ele mesmo não fosse o exemplo mais acabado de populista, carreirista e oportunista que é, verdadeiramente, o príncipe de tão asquerosa corte. Quem não percebeu nem de longe o sentido da galhofa por tão desavergonhada está mais enterrado na lama do que as vítimas, ainda mais quando avolumam-se as notícias de que tanto o governo federal quanto o estadual foram avisados com razoável antecedência.
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