O estado é como um sujeito guloso que sofregamente ataca uma fatia de pizza sem nem sequer ter terminado de engolir o pedaço de bolo. Parodiando a música do Kid Abelha, quer fazer de tudo um pouco e faz quase tudo "ma-aa-al"...
Agora, a piada: informações do Ministério do Meio Ambiente advertem que até o dia 3 de agosto de 2014, o Brasil estará livre dos lixões a céu aberto, presentes em quase todos os municípios brasileiros, bem como também ficará proibido, a partir de 2014, colocar em aterros sanitários qualquer tipo de resíduo que seja passível de reciclagem ou reutilização.
Isto me faz lembrar do caso da morte do ministro Sérgio Motta, o "Serjão", do governo FHC, ocasionada por contaminação por microorganismos presentes nos dutos de ar-condicionado, quando foi anunciado em tom de declaração de guerra que todos os edifícios do país sofreriam uma rigorosa inspeção sanitária de seus aparelhos de ar condicionado. Alguém viu algum fiscal entalado num duto de ar por aí? Nem eu...
Não duvido muito que o Brasil consiga se livrar dos lixões a céu aberto, nem tampouco que o estado se faça valer quanto à sua proibição de colocar lixo presumivelmente reciclável nos aterros sanitários. Multas, prisões e ameaças podem se tornar eficientes. O que prevejo é que mais e mais lixo será jogado clandestinamente nos canais, rios e encostas. O que prevejo é que as ruas mesmas ficarão ainda mais sujas e propensas aos alagamentos do que já são.
Como já afirmei em outro artigo, de norte a sul do Brasil boa parte dos veranistas voltou das férias para casa com um especial souvenir na forma de uma baita caganeira, fruto da contaminação de nossas praias por coliformes fecais e isto tudo só porque um negócio chamado de estação de tratamento de esgoto é algo praticamente inexistente, malgrado ter sido sempre uma atribuição dos governos. E não me venham com esta balela de "herança maldita". Em oito anos de Lula, o que se fez a respeito? Necas de pitibiribas...
Se em boa parte do Brasil nem sequer há coleta de lixo, o que se dirá de obrigar os cidadãos a manterem quatro lixeiras ás portas de suas casas, cada uma com a sua cor. Se querem que o negócio de reciclagem aconteça e que os cidadãos colaborem, estes devem ser incentivados mediante descontos na prestação do serviço ou pagamento pelo material reciclado á medida do valor que este possui. Se mesmo em países onde o povo é educado e disciplinadíssimo tais como a Suécia tais medidas se revelaram um fisco, imaginem por aqui...
Klauber:
ResponderExcluirComo você deve saber, em Curitiba é praticada coleta seletiva de lixo desde 1990, aproximadamente. O programa funciona muito bem, tanto que nosso aterro sanitário já teve sua vida útil estendida por mais de 3 vezes, o que significou um prazo de mais de 10 anos de sobreuso. Além disso, as ruas de Curitiba são muito, muito mais limpas que as de Belém. Ninguém recebe desconto por separar o lixo, mas este é um hábito visto como sinal de civilidade, cultuado na cidade, que torna te faz se considerar um cidadão de primeira classe. Tudo isso foi conseguido na base da mudança cultural, e não com impostos, taxas ou pagamentos. Há vários incentivos que funcionam na sociedade. Não se se você já teve a oportunidade de ler este livro, mas para perceber como diferentes incentivos, além do pecuniário, funcionam, uma boa mostra é o livro Freakonomics. É simples, de leitura agradável, e apresenta a cataláxia em estado puro.
A propósito, algumas boas leis são capazes de funcionar. No Estado de São Paulo não há mais lixões a céu aberto, porque há uma lei que os proíbe. Com isso, os municípios passaram a fazer consórcios para gerir o lixo. Quando há punição ao gestor público, como é o caso da lei de responsabilidade fiscal, a coisa tende a funcionar sim.
Abraço.