Extraído do midia sem máscara
No Brasil, apenas 8% dos crimes de homicídio são elucidados, e sem elucidação é simplesmente impossível afirmar a origem das armas que nele foram empregadas.
Há pouco mais de um ano, escrevi um artigo intitulado “Os Camaleões do Desarmamento”, discorrendo sobre a sucessiva metamorfose das justificativas para o desarmamento civil, ou voluntário, seguindo uma cansativa insistência no reavivamento de algo já completamente fracassado. No derradeiro parágrafo daquele texto, assim indagava: “Fica a pergunta: Se desamamento não combate o crime, não diminuiu os homicídios, não desarma os criminosos e não garante que acidentes deixem de acontecer, qual será a próxima cor usada pelos camaleões do desarmamento? Que tal a verdade?”
Minha sugestão não foi acolhida. Assistindo aos vídeos da mais recente reedição da campanha, já podemos dizer que a sua nova cor, como temíamos, não é a da verdade. Dados e fatos são jogados ao longe, varridos para baixo do tapete, e entram em cena atores devidamente pagos com o dinheiro do contribuinte, inclusive dos mais de 60 milhões de brasileiros que já disseram não ao desarmamento em 2005, para vender (e o verbo é este) a ideia de que o cidadão que queira proteger sua família deve entregar sua arma. Uma distorção mentirosa.
Em material distribuído para a imprensa, a campanha tenta assim ser justificada pela secretária nacional de Segurança Pública, Regina Miki, “a temática da campanha adotada este ano pretende desconstruir a ideia equivocada de que arma trás [sic] proteção e de que é legítimo possuí-la para se defender”. Parece incrível, mas o que se quer desconstituir é a verdade. Não é demais lembrar que foi essa secretária que, durante audiência pública na Câmara dos Deputados, afirmou ser incapaz de diferenciar um bandido de um cidadão de bem. Deve ser isto, diante de sua reconhecida inaptidão para saber quem são os bandidos e os cidadãos honestos, ela, confusa, se propõe a desarmar apenas estes últimos, colocando sua campanha a favor dos primeiros.
A gravidade do tema, contudo, suplanta a falta de capacidade de uma secretária de governo para distinguir o básico. Algumas informações usadas no site oficial da campanha são preocupantes e mostram que ela, como também já afirmamos em outras oportunidades, deveria se chamar “Campanha do Enganamento”. Um exemplo gritantemente estarrecedor está nesta afirmação: “dados oficiais mostram que 80% dos crimes ocorridos no Brasil são realizados com armas adquiridas legalmente”. Dupla mentira!
Primeiramente, não há dado oficial sobre isso, e sim uma única, velha e já desacreditada pesquisa, desprovida do mais elementar critério científico, realizada por uma ONG patrocinada com verba estrangeira e que convenientemente o governo assume como oficial. Segundo, e mais grave, é que essa afirmação induz a erro os incautos que imaginarão que 80% dos crimes são cometidos por pessoas que compraram legalmente uma arma de fogo. Inaceitável. No Brasil, apenas 8% dos crimes de homicídio são elucidados, e sem elucidação é simplesmente impossível afirmar a origem das armas que nele foram empregadas, o que, sem nenhum esforço, deixa evidente o puro “achismo” ideológico em que se embasa tão grave – e falsa – afirmação.
O fato, contra o qual a mentira oficial vem se mostrando cada vez mais impotente, é que, ano após ano, o Governo Federal insiste em uma política que já se mostrou um fiasco absoluto. Investe milhões de reais dos contribuintes em algo que simplesmente não tem qualquer embasamento técnico. Pura ideologia. E sabe o que é mais aviltante? É você, um dos 60 milhões de brasileiros que disse não ao desarmamento, também financiar esse discurso.
A nova cor do desarmamento é o vermelho. Vermelho da ideologia governamental e do sangue dos cidadãos honestos que, indefesos, são abatidos como ovelhas pelo lobo que o dono da fazenda insiste em poupar. Deveria ser o vermelho estampado no rosto daqueles que desavergonhadamente querem enganar a população.
Bene Barbosa é bacharel em direito, especialista em segurança e presidente do Movimento Viva Brasil.
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