Por Maynard Marques de Santa Rosa - General-de-Exército
“Nada existe de permanente, a não ser a mudança” (Heráclito, 540-470 a.C.).
Nos comentários que fez, em 1947, sobre a sociologia psicológica de Pareto, Gilberto Freyre consagrou o conceito de fadiga política – “A fadiga do povo em face de seus líderes, que induz os mesmos efeitos da fadiga industrial entre os operários”.
Os sintomas parecem evidentes. Após longo ciclo de anomia política, as manifestações do chamado “movimento passe livre” começam a quebrar a inércia da estabilidade artificial a que o Brasil vem submetido, há mais de 20 anos.
As causas de insatisfação foram claramente resumidas pela jornalista Ruth de Aquino, em seu artigo de 14/06/2013, O Outono da Ignorância, na Revista Época: “Os preços sobem, a inflação está em alta, os impostos absurdos não revertem em saúde, moradia, transporte e educação, os empregos começam a minguar, as empresas demitem em massa, sem repor vagas. (...) O noticiário continua coalhado de mordomias no Legislativo, Judiciário e Executivo”. A essas razões poderíamos aditar a corrupção renitente e a frustração popular ante a expectativa de impunidade do “mensalão”.
Menos avaliada é a questão da ineficiência do setor público. A existência de 39 ministérios transforma o governo em um fórum inócuo e caro, onde muito se discute e pouco se decide. Só com o aluguel de imóveis fora da Esplanada dos Ministérios, a despesa ultrapassou R$ 2 milhões por dia em 2012, num total de R$ 741,4 milhões, segundo o SPU.
O uso de cargos políticos para cooptar apoio dilui o poder delegado e, portanto, a capacidade de decisão, concentrando-o na autoridade delegante, tornada árbitro de tudo.
Além do mais, os negócios públicos têm sido em geral conduzidos de uma forma parcial e facciosa, que põe em risco a liberdade, a harmonia social e o direito de propriedade.
As intervenções erráticas e a falta de coerência na condução da economia afetaram a credibilidade e já se refletem nos investimentos, levando à estagnação. E o estímulo equivocado ao consumo sem preocupação com o aumento da oferta, alimenta a inflação, reduzindo a confiança do consumidor e a atividade econômica que gera emprego.
Assim considerado, o modelo patrimonialista adotado no País nas duas últimas décadas parece exaurido. O enigma do “day after” é que manifestações provocam mudança, mas não apresentam soluções, ensejando espaços de poder para novas aventuras.
Em meio a expectativas de toda a ordem, uma única coisa é certa: o Brasil está fatigado e precisa mudar. Uma agenda de desafios se impõe, portanto, na definição das prioridades futuras. E a primeira providência precisa ser a varredura do entulho ideológico, desobstruindo o caminho do progresso.
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