“Eles (os fantasmas)
só vêem aquilo que querem ver”.
O menino Cole Sear (Haley Joel Osment), ao fantasma do Dr. Malcom Crowe (Bruce Willis).
Por Klauber Cristofen Pires
Nesta semana jaz em destaque na Folha de São Paulo um
artigo da lavra de Marcos Gouvêa de Souza, intitulado “Miopia na Demonização do Consumo”.
Desconfio que o autor não mereça ser xingado de
míope, haja vista ser administrador formado pela Fundação Getulio Vargas e
bacharel em propaganda e marketing pela ESPM (Escola Superior de Propaganda e
Marketing), bem como também é conselheiro do IDV (Instituto para Desenvolvimento
do Varejo). O que merece, sim, é ser acusado de enganador, pois parece nítido o
seu intento de confundir os leitores.
Em todo o seu texto, de alma translucidamente
keynesiana, vislumbram-se escapadelas aqui e ali, a louvar a política fascista
que o PT tem implementado desde que chegou ao poder. Lembrando sempre, não uso
o termo fascista aqui como o xingamento esvaziado de sentido que os próprios
petistas e esquerdistas atiram aos seus inimigos por qualquer motivo (ou mesmo
para nenhum), mas sim o uso em sentido próprio e estrito, para caracterizar um
governo extremamente intervencionista e particularista, que transforma a
atividade privada em mais um braço do seu poder.
Não é do meu gosto fazer comentários sobre cada
parágrafo, tão conhecidos como “vermelho e azul”, mas para este caso não vejo
uma alternativa melhor. Então vamos lá:
Grassa na mídia e em
ambientes governamentais a ideia de que o estímulo ao consumo já cumpriu seu
papel na recuperação econômica do país e que o foco deveria agora ser
direcionado para investimentos em infraestrutura.
Como se essas frentes
fossem incompatíveis entre si e os recursos para uma inviabilizassem apoio para
a outra. Nada mais equivocado e pueril, não fosse incoerente.
Não sei de onde ele tirou tais conclusões. Não é que
o estímulo ao consumo já fez a sua parte: na verdade, a política de estímulo ao
consumo jamais foi virtuosa, e é isto o que está começando a se percebido pela
mídia, que tem ecoado timidamente a crítica que os liberais austríacos fazem ao
consumo artificialmente induzido pelo governo.
Ao incitar o consumo para as áreas que o próprio
governo estimula, ele provoca distorções nas decisões individuais de todos os
cidadãos, que em outra situação poderiam aplicar o seu dinheiro em outras áreas
por eles consideradas mais urgentes e necessárias.
Como diz o filósofo Hans Hermann Hoppe, a principal
característica de sociedades sob forte dirigismo estatal é produzirem lápis em
superabundância, enquanto falta papel, ou proporcionar uma profusão de molhos
de tomate, enquanto falta macarrão. Explicando, o que ocorre é que deixa de
haver o balanço natural das necessidades que a população sente e que informa a
demanda para o setor produtivo, acarretando desta forma uma má aplicação de
recursos, cujos desperdícios trazem como conseqüência um empobrecimento que
pode ser relativo (o país cresce menos do que poderia) ou até mesmo absoluto (o
país começa a encolher). Quantas pessoas deixaram de investir em si mesmas, por
exemplo, por inscrever-se em um curso que futuramente poderia render-lhes
melhores posições no mercado de trabalho, ou por realizar melhorias em seu
estabelecimento comercial, para comprar automóveis, eletrodomésticos,
computadores e tablets que o governo as estimulou a adquirir?
Quanto à falta de investimentos em infraestrutura, os
austríacos defendem, a priori, que deveriam ser produzidos pela
iniciativa privada em um ambiente isonômico, mediante regras claras e estáveis
de mercado, com amplo respeito ao princípio da propriedade privada e livres da
intervencionice estatal. No entanto, considerando que o estado toma para si tal
incumbência e não o faz, nós sentimos isto diretamente no bolso ao pagarmos
pelas péssimas vias de escoamento da produção, bem como pela energia elétrica,
gasolina e telefonia das mais caras e vagabundas do mundo. Ora, deixar de
investir em infraestrutura é sim, incoerente com o estímulo à compra de
automóveis e geladeiras, se os investimentos nestes últimos bens emperram e
encarecem a produção dos primeiros, ou não?
Em frente:
O que foi direcionado
para o estímulo ao consumo nos últimos anos restringiu-se a alguma forma de
desoneração do IPI para certas categorias e produtos e mais algum esforço
dirigido para a desoneração da folha de pagamento de alguns segmentos
empresariais, que transcendem ao âmbito do consumo.
Já comentei acima sobre os malefícios do
particularismo tributário, ferindo a igualdade de oportunidades aos agentes de
mercado e confundindo as decisões dos cidadãos. Todavia, ainda não toquei no
lado mais perverso desta história, porque os malefícios não se restringiram aos
erros de tomadas de decisão em consumo e produção.
No parágrafo acima transposto, o autor omitiu uma
importante parte da política estatal petista de estímulo ao consumo, qual seja,
a baixa forçada de juros e a expansão monetária turbinada pela distribuição de
montantes colossais de recursos para empréstimos a pessoas físicas, para consumir,
e para pessoas jurídicas, para produzir e vender aos consumidores que tomaram
os respectivos empréstimos.
Atualmente, a população está endividada até a pleura,
os grupos econômicos que se beneficiaram dos recursos liberados pelo BNDES
estão falindo e as taxas de juros voltaram a aumentar, para combater a inflação
que o próprio governo fomentou e todos agora estão sendo esfaqueados pelas
costas pelo mesmo governo ao qual deram ouvidos.
Adiante:
De fato, o que
conspirou a favor do aumento do consumo foi uma conjunção virtuosa do
crescimento da renda real das famílias, com melhoria do nível de emprego
formal, e do incremento da oferta de crédito e a elevação do nível de confiança
do consumidor.
Esses elementos
proporcionaram forte expansão das vendas do varejo em todo o país e criaram uma
nova realidade social e econômica, sem que o governo fosse obrigado a fazer
nenhum estímulo adicional.
No período de 2004 a
2012, vivemos uma profunda transformação estrutural do perfil de consumo. Perto
de 40 milhões de brasileiros chegaram ao mercado, que se interiorizou e
expandiu, gerando novas demandas por bens e serviços. Esse cenário permitiu o
crescimento das vendas de varejo muito acima da evolução do PIB.
Como tenho explicado aos meus leitores, existe uma
diferença profunda entre “gerar empregos” e “gastar empregos”. Afora alguma
parte da economia brasileira ter se desenvolvido apesar do governo e não graças
a ele, uma expressiva parcela de brasileiros têm conquistado o ingresso no
mercado formal de trabalho por meio do concurso público ou nas milhares de
ONG’s mata-tetas estatais ou mesmo em ramos da indústria privada beneficiada
com a demanda artificial criada pelo governo. Ocorre que tais empregos foram
gerados tais como um motor de arranque a girar um motor de um carro sem
gasolina: quando acabar a bateria, o motor pára.
Isto entendido, compreende-se o quão temerosa e
precária é a ufanização de um quadro estático de aquecimento da economia
causado por cidadãos que estão sacrificando o futuro em prol do consumo presente,
uma vez que as perspectivas de renda futuras estão seriamente comprometidas.
O investimento direto
do governo para isso acontecer foi mínimo, e foi ele próprio o maior
beneficiário. O aumento da arrecadação tributária advinda da formalização de negócios
fez com que o crescimento da receita de impostos superasse, por larga margem, a
expansão da economia.
Aí está uma afirmação passível de ampla discussão.
Até quando a derrama estatal prosseguirá antes de asfixiar de vez o setor
econômico? É certo que as receitas federais têm aumentado, porém em grande
parte isto se deve a métodos de fiscalização e arrecadação mais eficientes.
Ademais, mesmo os sucessivos recordes de arrecadação não têm sido capazes de
aplacar a sanha consumista do maior gastador do país: o próprio estado. Vale
aqui lembrar o então presidente Lula, a afirmar que seu conceito de
desenvolvimento era gastar mais e aparelhar mais o estado com servidores
concursados e nomeados em cargos de comissão.
Mas, nos últimos
meses, tem havido forte pressão no sentido de que a prioridade do governo
deveria ser redirecionada para investimentos em infraestrutura. Eles são
absolutamente necessários levando-se em conta as carências contatadas no país,
mas não deveriam pressupor a redução da atenção à ampliação e à melhoria do
consumo.
Há espaço ainda para
o aprofundamento do consumo, medido pela carência de produtos e serviços
demandados pela população.
A penetração de
alguns produtos nos domicílios brasileiros, segundo os dados da PNAD, do IBGE,
mostra que, no período de 2001 a 2011, a presença de fogões cresceu de 97,8%
para 98,6%. A de TV aumentou de 82,8% para 96,9%. As geladeiras avançaram de
84,4% para 95,8%. Em filtros de água, chegamos, em 2011, apenas a 53,2%, e em
freezers a 16,4%. Se pensarmos em máquinas automáticas de lavar roupa, item
relevante para a mulher que trabalha fora de casa, a penetração avançou de
32,9% para 50,9%.
E a obsolescência dos
eletrodomésticos e dos produtos eletrônicos cria um mercado em constante
renovação. O desejo de evolução e melhoria contínua é a essência do capitalismo
e alimenta o desenvolvimento econômico, em especial num país como o Brasil, com
uma população jovem, com idade média inferior a 30 anos.
Não devemos transigir
na atenção que o consumo merece em um momento em que o aumento do emprego
formal perde seu vigor, a expansão da renda real é menor, a oferta do crédito
está mais limitada pela cautela do sistema financeiro privado e o nível de
confiança do consumidor tem baixado desde o primeiro semestre de 2012, criando
um indesejável cenário de tendência à contenção de gastos.
O país precisa de
crescente atenção com sua debilitada infraestrutura, e qualquer pessoa de bom
senso reconhece isso. Porém, fazê-lo à custa de uma redução de atenção e apoio
à expansão do consumo é absoluta miopia.
Nos parágrafos acima, o Dr. Marcos Gouvêa de Souza
repete um pouco do que já disse e termina erguendo uma prece ao santo do pau
oco John Maynard Keynes para que se repitam os mesmos erros que têm causado a
estagnação e a inflação que já estão grassando no país. Lastimável. Então, o
sujeito é míope ou um empulhador?
****
Marcos Gouvêa de Souza: Miopia na demonização do consumo
Grassa na mídia e em ambientes governamentais a ideia de que o estímulo ao consumo já cumpriu seu papel na recuperação econômica do país e que o foco deveria agora ser direcionado para investimentos em infraestrutura.
Como se essas frentes fossem incompatíveis entre si e os recursos para uma inviabilizassem apoio para a outra. Nada mais equivocado e pueril, não fosse incoerente.
O que foi direcionado para o estímulo ao consumo nos últimos anos restringiu-se a alguma forma de desoneração do IPI para certas categorias e produtos e mais algum esforço dirigido para a desoneração da folha de pagamento de alguns segmentos empresariais, que transcendem ao âmbito do consumo.
De fato, o que conspirou a favor do aumento do consumo foi uma conjunção virtuosa do crescimento da renda real das famílias, com melhoria do nível de emprego formal, e do incremento da oferta de crédito e a elevação do nível de confiança do consumidor.
Esses elementos proporcionaram forte expansão das vendas do varejo em todo o país e criaram uma nova realidade social e econômica, sem que o governo fosse obrigado a fazer nenhum estímulo adicional.
No período de 2004 a 2012, vivemos uma profunda transformação estrutural do perfil de consumo. Perto de 40 milhões de brasileiros chegaram ao mercado, que se interiorizou e expandiu, gerando novas demandas por bens e serviços. Esse cenário permitiu o crescimento das vendas de varejo muito acima da evolução do PIB.
O investimento direto do governo para isso acontecer foi mínimo, e foi ele próprio o maior beneficiário. O aumento da arrecadação tributária advinda da formalização de negócios fez com que o crescimento da receita de impostos superasse, por larga margem, a expansão da economia.
Mas, nos últimos meses, tem havido forte pressão no sentido de que a prioridade do governo deveria ser redirecionada para investimentos em infraestrutura. Eles são absolutamente necessários levando-se em conta as carências contatadas no país, mas não deveriam pressupor a redução da atenção à ampliação e à melhoria do consumo.
Há espaço ainda para o aprofundamento do consumo, medido pela carência de produtos e serviços demandados pela população.
A penetração de alguns produtos nos domicílios brasileiros, segundo os dados da PNAD, do IBGE, mostra que, no período de 2001 a 2011, a presença de fogões cresceu de 97,8% para 98,6%. A de TV aumentou de 82,8% para 96,9%. As geladeiras avançaram de 84,4% para 95,8%. Em filtros de água, chegamos, em 2011, apenas a 53,2%, e em freezers a 16,4%. Se pensarmos em máquinas automáticas de lavar roupa, item relevante para a mulher que trabalha fora de casa, a penetração avançou de 32,9% para 50,9%.
E a obsolescência dos eletrodomésticos e dos produtos eletrônicos cria um mercado em constante renovação. O desejo de evolução e melhoria contínua é a essência do capitalismo e alimenta o desenvolvimento econômico, em especial num país como o Brasil, com uma população jovem, com idade média inferior a 30 anos.
Não devemos transigir na atenção que o consumo merece em um momento em que o aumento do emprego formal perde seu vigor, a expansão da renda real é menor, a oferta do crédito está mais limitada pela cautela do sistema financeiro privado e o nível de confiança do consumidor tem baixado desde o primeiro semestre de 2012, criando um indesejável cenário de tendência à contenção de gastos.
O país precisa de crescente atenção com sua debilitada infraestrutura, e qualquer pessoa de bom senso reconhece isso. Porém, fazê-lo à custa de uma redução de atenção e apoio à expansão do consumo é absoluta miopia.
MARCOS GOUVÊA DE SOUZA, 64, formado em administração pela Fundação Getulio Vargas e em propaganda e marketing pela ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), é conselheiro do IDV (Instituto para Desenvolvimento do Varejo)
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