Félix Maier
Preconceito linguístico é o nome de um livro do linguista de pau Marcos Bagno, da Universidade de Brasília (UnB), que prega o ensino de uma “gramática diferenciada” nas escolas, do tipo “filma nóis aqui” visto em placas nas arquibancadas dos jogos de futebol. A mesma UnB divulga o conceito gramsciano pastoso de “o direito achado na rua”, criado por Roberto Lyra Filho, que, suponho, pode ser localizado na seção de achados e perdidos da Faculdade de Direito daquela academia pauleira...
O estudo da linguagem popular ou sociolinguística é válido para um estudante de Letras, de Pedagogia ou de Sociologia, nunca para um aluno analfabeto, cujo dever primeiro da escola é ensinar o estudante a falar e escrever corretamente a Língua Portuguesa. Nem por nada que o Programa Internacional de Avaliação dos Alunos 2009 (Pisa), da OCDE, colocou o Brasil na 53ª posição entre 65 países que fizeram o exame.
Esse desastre também pode ser visto na elaboração de nossas leis, que contêm erros grosseiros, como a frase pregada ao lado das portas dos elevadores: “Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar". A jornalista e professora de Português Dad Squarisi, em sua coluna no Correio Braziliense, corrigiu a ignorância dos deputados: “Antes de entrar, verifique se o elevador se encontra parado neste andar”. Na internet, corre a história de que finalmente descobriu-se quem é “o mesmo”: o fantasma do elevador...
Preconceito linguístico anda de mãos dadas com o politicamente correto, que tem por objetivo deturpar a linguagem por meio do “marxismo cultural” ou “multiculturalismo”, de modo a destruir a cultura ocidental e a religião cristã. Destruindo a linguagem, destrói-se o pensamento e as crenças da nossa civilização, moldada na tradição judaico-cristã. Essa desconstrução cultural teve a contribuição importante de Georg Lukacs (“terrorismo cultural”), de Antonio Gramsci (“longa marcha nas instituições”, ou seja, o domínio das escolas, mídia, até igrejas, para influenciar a cultura) e dos integrantes da “teoria crítica” da Escola de Frankfurt, que inicialmente seria chamada de “Instituto para o Marxismo”: Max Horkheimer, Theodor Adorno, Eric Fromm, Wilhelm Reich e Herbert Marcuse.
A Escola de Frankfurt foi “erguida com o dinheiro de Hermann Weil, capitalista e explorador do trigo (e da mão-de-obra barata) argentino. Da cátedra da Escola, os seus integrantes mais notáveis (alguns deles filhos de banqueiros e milionários), diante da crescente supremacia do capitalismo, atiram sofisticados petardos contra o que julgam ser a ‘estrutura dominante’ da sociedade industrial contemporânea. Um dos seus mais destacados mentores, Theodor Adorno (1903-1969) - que morreu de enfarte após uma aluna ter ficado nua na sala de aula para testar o grau de sinceridade do mestre pelas liberdades individuais por ele proclamadas -, era taxativo em afirmar (Dialética Negativa, 1966), por meio da ‘ênfase dramática’, que o mundo e as consciências viviam alienados e não tinham mais salvação, apontando a concentração do capital, o planejamento burocrático e a máquina ‘reificadora’ da cultura de massa como forças destruidoras das liberdades individuais (vindo daí, naturalmente, todo o arsenal crítico mais pretensioso contra Hollywood)”(PONTES, 2003: 42). “A linguagem, segundo Marcuse, deve permanecer 'antagônica’. A contradição é o instrumento ordinário que ela emprega para tirar a clareza ‘semânica ou lógica’. Em termos simples, faz questão de não ser claro para que a linguagem revele, por duplicidade, uma tensão entre o significado aparente e o significado oculto. A dialética é estabelecida dentro do vocábulo. (...) O significado claro de sua vasta argumentação é, pois, a socidade não repressiva. O sentido que ele ‘esconde e exclui’ no universo da locução é a criação de uma sociedade marxista” (VASCONCELOS, 1970: 26).
“A correção política é a carrancuda vingança do rancoroso, intolerante e mal-intencionado idiota sobre tudo aquilo que tem vida no mundo. Não é nada mais do que o recurso insincero e desprovido de humor de mentes tão medíocres, que, para eles, o ressurgimento do stalinismo é preferível à dor de um vislumbre do Ser - é o último vestígio da besta que Nietzsche identificava como ‘ressentimento’. Tais mentes tiram sua melancólica noção de prazer - como as fantasiosas ereções de eunucos centenários - maquiando o pouco que desejam conhecer da História para pessoas que parecem não se conformar com os padrões artificiais dos mais ineptos governos do século XX” (SEYMOUR-SMITH, 2002: 84-5).
Até o Exército Brasileiro se rendeu à língua do politicamente correto: não se realizam mais grupos de trabalho para tratar de Recursos Humanos, mas de “Talentos Humanos”.
A crítica abrangente ao pensamento ocidental foi abraçada com vigor pela esquerda, por feministas e minorias para “fazer crítica social”. “Teóricos como Roland Barthes, Pierre Macheray, Jacques Derrida e outros pós-estruturalistas propõem novas maneiras de ler os textos e empreender a crítica da ideologia. Segundo eles, os textos devem ser lidos como expressão de várias vozes, e não como enunciação de uma única voz ideológica, que precise então ser especificada e atacada. Desse modo, exigem leituras polivalentes e um conjunto de estratégias críticas ou textuais que desvendam suas contradições, seus elementos contestatórios periféricos e seus silêncios estruturados” (KELLNER, 2001: 148). “Trata-se de uma estratégia ‘subversiva’ de leitura, que parte do princípio de que qualquer texto, por mais que almeje à clareza e ao rigor, sempre contém pontos cegos ou nódulos de ambiguidade que, devidamente explorados, permitem desfazer as amarras lógicas do raciocínio, inverter suas premissas, anular suas hierarquias de ideias” (“O profeta da desconstrução”, revistaVeja no. 1876, de 20/10/2004, pág. 154). Jacques Derrida foi “o doutor Frankenstein da filosofia contemporânea” (idem, pág. 154).
E no Brasil? Acompanhando o “preconceito linguístico” de Marcos Bagno, o MEC criou a famigerada “cartilha de erros”, onde se inclui a obscenidade linguística “nós pega os peixe”. O mesmo MEC, que já tentou distribuir o escandaloso Kit Gay, de modo a assediar sexualmente as crianças, também distribuiu o livro Capitalismo para principiantes às bibliotecas de escolas públicas, de acordo com o PNBEM/2008 - Programa Nacional Biblioteca da Escola para o Ensino Médio. Esse livro “didático” prega abertamente a luta de classes, condena o capitalismo e faz apologia ao socialismo. Ou seja, é um manual revolucionário, que defende o que existe de mais nefasto desde o século passado, o Comunismo – ainda que utilize outros termos, como Socialismo, para enganar os imbecis. Por que o MEC, em vez de criar aberrações no ensino, com incentivo à massificação da ignorância e da promiscuidade, não reedita livros como Organização Social e Política do Brasil, de Elizabeth Maria Araújo Loureiro, para ensinar a verdadeira cidadania aos jovens, e jogar o politicamente correto no lixo?
No primeiro governo Lula, “cabeças-chatas” da Secretaria de Direitos Humanos criaram uma cartilhapoliticamente correta, que pretendia riscar do vocabulário nacional palavras julgadas “ofensivas”. “Boiola” e “bicha” deveriam ser substituídos por “gay” ou “entendido”. Millôr Fernandes sugeriu que “albino” fosse designado por “hipopigmentado”. E negro, seria “hiperpigmentado”? Com críticas vindas de todos os lados, como as do escritor João Ubaldo Ribeiro, o dicionário do “stalinista puritano” foi guardado na gaveta, para possível apresentação em futuro próximo, já que foram impressos 5.000 exemplares. Como se sabe, o brasileiro (petista) não desiste nunca.
Em 2004, foi publicado um livro elucidativo sobre o assunto, Bourdieu e Preconceito Linguístico: duas refutações - na verdade, 2 livros em 1 -, em que Jeaninne Verdés-Leroux aborda o pensamento do francês Pierre Bourdieu, e Arthur Virmond Lacerda Neto, do brasileiro Marcos Bagno. Na França, o sociólogo Pierre Bourdieu, autor de La Misère du Monde, se destaca entre os linguistas de pau, os nouveaux maitres à penser:“O sociólogo deve recorrer a termos novos, protegidos, por serem novos, pelo menos relativamente, contra as projeções ingênuas de senso comum” (Cfr. VERDÉS-LEROUX, 2004: 14). “Quando se quer que alguém que não seja profissional da palavra diga coisas (e não é raro que digam coisas extraordinárias, que os profissionais da palavra, com todo o tempo do mundo, jamais pensariam), o que faz falta é um trabalho de assistência à fala (...) eu diria que essa é a missão socrática em todo o seu esplendor” (pág. 25). Em Homo Academicus, Bourdieu se supera: “O retorno reflexivo implicado na objetivação do próprio universo e o questionamento radical imposto pela ‘historicização’ de uma instituição socialmente reconhecida como fundada para reivindicar a objetividade e a universalidade para suas próprias objetivações” (pág. 33).
Diz Lacerda Neto: “O opúsculo intitulado ‘Preconceito Linguístico, da autoria do professor Marcos Bagno, pretende invalidar o que reputa oito mitos concernentes ao português no Brasil e proclama como forma pior de preconceito em termos de idioma, o conjunto de prescrições de que se constitui a gramática tradicional, que, segundo o seu autor, representa um instrumento ideológico de legitimização das classes dominantes no poder”(LACERDA NETO, 2004: 173). “Tudo vale, ensina o livro. Logo, valem todas as simplificações, as perdas das preposições, a abolição dos plurais (‘as duas máquina está parada’, ‘veio muitas pessoa’), a confusão dos tempos verbais, as gírias, o desleixo, a lei do menor esforço, a preguiça, os modismos, os estrangeirismos”(pág. 174). “A tese em apreço revela já um traço permanente do livro: a sua completa indiferença pela instrução dos brasileiros. Afinal, se saber menos é tão meritório quanto saber mais, mal não há em que quem sabe menos, continue assim” (pág. 175). “Lê-se na página 39: ‘Ora, não é a língua que tem armadilhas, mas sim a gramática normativa tradicional, que as inventa precisamente para justificar sua existência e para nos convencer de que ela é indispensável’ ” (pág. 176). “Na página 124 depara o leitor a afirmação de que ‘a língua materna ... é adquirida pela criança desde o útero, é absorvida junto com o leite materno’ ” (pág. 181). “Se alguém suspeitar de que com isto abriu-se o caminho à anarquia e aos guetos linguísticos, acertou em cheio: o professor Bagno confessa preferir a barbárie do cada um por si, ao regramento da norma culta” (pág. 182).“Submetendo os professores os textos dos seus instruendos ao questionário sugerido em ‘Preconceito Linguístico’, eles não os estariam educando, nem lhes dando voz, nem encorajando-os a manifestarem-se, tampouco lhes reconhecendo o direito à palavra: estariam a instituir o ‘escolarmente correto’, o terrorismo pedagógico, a manipulação das mentes pela necessidade das boas notas” (pág. 187).
O positivista Arthur Virmond de Lacerda Neto, em e-mail do dia 15/10/2013, afirmou: “No fundo, a psicologia das doutrinas de M. Bagno parecem-me consistir em ódio, o mesmo ódio que Carlos Marx pregava no Manifesto Comunista. Alguém disse que um traço mental do marxismo é o ódio pela cultura capitalista-burguesa; parece-me ser o caso de M. Bagno. O que ele diz é estúpido e frágil intelectualmente; só se justifica emocionalmente, como racionalização de hostilidade. As doutrinas dele são afetivas e não inteligentes, para usar o vocabulário Positivista”.
Segundo William Lind, “O politicamente correto é AIDS intelectual. Tudo que ela toca adoece e finalmente morre”. Os pensadores marxistas, ao insistirem na filosofia da miséria, transformaram-se na miséria da filosofia.
Bibliografia:
KELLNER, Douglas. A cultura da mídia - Estudos culturais: identidade e política entre o moderno e o pós-moderno. EDUSC, São Paulo, 2001 (Tradução de Ivone Castilho Benedetti).
PONTES, Ipojuca. Politicamente Corretíssimos. Topbooks, Rio, 2003.
SEYMOUR-SMITH, Martin. Os 100 livros que mais influenciaram a humanidade - A História do Pensamento dos Tempos Antigos à Atualidade. Difel, Rio, 2002 (3ª. edição - Tradução de Fausto Wolff).
VASCONCELOS, Perboyre. A volta ao mito - À margem da obra de Marcuse. Biblioteca do Exército e Laudes, Rio, 1970.
VERDÉS-LEROUX, Jeaninne; LACERDA NETO, Arthur Virmond de. Bourdieu e Preconceito Linguístico: duas refutações. Editora Vila do Príncipe, Curitiba, 2004.
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