Por Luan de Menezes
Coordenador Estadual do EPL no Amazonas
É difícil de acreditar, mas é verdade. O Playstation 4 está custando 4 mil “dilmas”. Não tenha peso na consciência, não há nada de errado em reclamar por algo supérfluo como um videogame: você está apenas reagindo contra aquilo que acha injusto – e, saiba, esse não é um problema específico. Na verdade, é apenas mais um reflexo do atual estado do mercado e da economia do nosso país. E sim, pode xingar à vontade: a culpa é TODA do governo.

Não sou radical, essa é apenas uma constatação de quem se aventura a estudar a economia. A cultura do compadrio econômico é extremamente arraigada à sociedade brasileira desde Cabral e ganhou muito mais força a partir da ditadura militar. Você só crescia se fosse amigo do rei. Agora, quase sempre precisa ser amigo do governo, do estado…
Se você tentar apenas abrir uma empresa ou criar um produto que seus clientes gostam e estão dispostos a comprar voluntariamente, dificilmente isso será suficiente para crescer. Uma hora ou outra, o governo, com sua burocracia e prazer em regular tudo, criará diversas exigências apenas para que você continue atuando no mercado. E é claro, além dos impostos. O problema não é só o fato de os impostos serem altos; o problema é que eles são muitos – e complexos. É a velha estratégia de dificultar o simples pra vender a facilidade, o dogma da corrupção. Isso tudo cria barreiras para o surgimento de novas empresas. Com isso, poucas empresas conseguem crescer e sobreviver no mercado, como se fosse um processo de seleção natural darwinista. E poucas empresas quer dizer menos concorrência. Agora leve em conta que a concorrência é simplesmente o mecanismo mais eficiente para se ter menores preços e melhores produtos no mercado, pois a única maneira de um empresário sobreviver em ambiente competitivo é fazendo o melhor produto com o preço mais justo para ser capaz de conquistar clientes. Nesse sistema, o cliente é o verdadeiro patrão. Por isso que “o cliente sempre tem razão” é um jargão tão comum. Mas no Brasil, infelizmente, as coisas não são bem assim. A razão parece estar sempre com o burocrata do governo – e tudo fica caro ou ruim.
De fato, se nós formos calcular, os R$ 4 mil que a Sony irá cobrar pelo seu produto não é justificado apenas pelos impostos. Para compreendermos porque aqui tudo é mais caro, é preciso ter em mente essa estrutura de mercado. Se a Sony fosse vender o PS4 com um preço equivalente a esse em um país com uma economia mais livre (conheça o índice de liberdade econômica), como a Austrália, Nova Zelândia, Japão ou Suíça, ela simplesmente não conseguiria vender e se despedaçaria, pois a concorrência e o mercado, já maduros, a esmagariam como um trator. As pessoas prefeririam não comprar ou simplesmente comprariam do concorrente. Ou ele abaixa o preço ou perde os clientes. É assim que funciona. No Brasil, por outro lado, isso não existe. Simplesmente porque não há uma estrutura de mercado madura, nem concorrência a altura. Mesmo seu rival, o Xbox One, da Microsoft, que custa metade do seu preço, tem um valor ainda alto. O provável é que a Sony abaixe seu preço para não perder tantos clientes. Mas mesmo se começar a cobrar 2 mil reais, chegando próximo ao preço do concorrente, é uma quantia que não chega nem perto do que é cobrado em países com menos interferência do estado na economia, menos impostos e menos regulação.
Como foi dito, esse fenômeno abrange toda a cadeia econômica. Se uma estrutura de mercado mais livre e com mais concorrência pode fazer com que produtos eletrônicos como esses possam ficar mais baratos e ter mais qualidade, imagina o que poderia melhorar em áreas que abrangem produtos e serviços mais essenciais, como educação, infraestrutura, saúde, segurança ou alimentação? Olhando por outro prisma, talvez o alto preço do PS4 até tenha um lado positivo: mostrar para as pessoas de um modo mais contundente o tamanho do problema que o país possui. Se esse fato for mais disseminado, a ponto de mudar o jeito de pensar de muitos indivíduos, poderíamos criar um ambiente de pessoas dispostas a mudar tudo isso que está aí. A revolta, afinal, não é apenas por R$ 4 mil, não é verdade?
Luan de Menezes é estudante de economia na Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e coordenador estadual do EPL.