Por LUCIANO Ayan do blog Ceticismo Político.
Imagine que você é diretor de marketing de uma empresa que vende um produto de limpeza chamado Limpomax, que concorre com o produto S-Limpeza. Ambos os produtos disputam as prateleiras, enquanto a equipe de marketing do S-Limpeza decide lançar uma campanha, que diz: “S-Limpeza, o produto que estará na casa de todas as famílias”.
Qual seria sua reação diante desta campanha do S-Limpeza? Suponha agora que seus consultores de vendas surjam com esse slogan para a campanha do Limpomax: “Não tem jeito. Realmente o S-Limpeza estará na casa de todas as famílias. Danou-se para o Limpomax!”.
Muito provavelmente você riria na cara destes consultores. Provavelmente os mandaria catar coquinho na descida. Mas não ria ainda, pois muitos esquerdistas morrem de dar risada da mesma forma, só que da postura de alguns direitistas.
Basta relembrarmos o lema máximo do marxismo: “Não tem como evitar, pois é a marcha da história. Com certeza o socialismo vencerá!”. E já vi vários direitistas surgindo com mensagens assim: “É, danou-se, principalmente aqui no Brasil. O esquerdismo já venceu! Tá tudo dominado por eles!”.
Em outras palavras, enquanto a esquerda faz o marketing acertadíssimo em prol do esquerdismo, alguns direitistas fazem o mesmo marketing. Só que de graça e ainda em prol do adversário. Não é um exagero dizer que temos esquerdistas e alguns direitistas lutando pela mesma causa do esquerdismo, assim como poderíamos dizer que os consultores de vendas do Limpomax estavam lutando pelo S-Limpeza.
Alguns destes marqueteiros do adversário ainda poderiam reclamar: “Mas é verdade que a esquerda venceu ou vai vencer! Não tem jeito! Tá tudo dominado mesmo!”. Mas já refutei essa hipótese no texto Por que a direita necessariamente vai vencer a guerra política. É simples: em ambientes abertos, com muitas variáveis ambientais, dar a vitória antecipada ao oponente não passa do fenômeno da profecia auto-realizável.
Este raciocínio submisso aos interesses esquerdistas é visto em algumas pessoas da direita. A esse comportamento dou o nome de direitismo depressivo.
O rótulo é inspirado em uma época onde estávamos implementando novos processos em uma organização. Foi quando notamos um dos líderes usando palavras para derrubar toda e qualquer melhoria organizacional, chegando a dizer coisas para o seu time que levaram vários deles a pedir demissão, por puro desânimo. Não demorou para transformarmos seu comportamento em motivo de piada: “Esse sujeito parece que está em depressão. Essa é a primeira liderança depressiva que vi! É a verdadeira anti-liderança!”.
No direitismo depressivo ocorre a mesma coisa: basta um destes abrir a boca, que a esquerda começa a computar pontos a seu favor. Basicamente tudo que o esquerdista quer é aquilo que este direitista começará a fazer.
Mas de onde vem o direitismo depressivo? Primeiramente, vem de uma absoluta falta de consciência política. Muitos não percebem a consequência política de seus discursos, principalmente quando fazem discursos em público, ou em locais onde podem ser multiplicados (ex. Internet). Segundo, vem de uma sensação de natural desânimo causada pelas contínuas vitórias da esquerda. O mais irônico de tudo é que este tipo de direitista depressivo não percebe que a sua postura está ajudando a esquerda a ganhar pontos. Pode-se dizer que ele, sem querer, é um grande colaborador da esquerda.
O direitismo depressivo pode aparecer em outros contextos, como por exemplo, quando o esquerdista diz “Nós queremos uma nova lei de mídia, pois isso é lutar pela democracia”. Daí o direitista depressivo diz: “Quero o exército de volta, para tirar os socialistas do poder”. Mas é exatamente isso que o esquerdista queria que o direitista dissesse. Basicamente, ele quer dizer ao povo que “democracia é nossa (da esquerda)”, e o direitista depressivo diz: “democracia é deles (da esquerda), pois eu quero a ditadura”.
Um outro exemplo é quando o esquerdista diz que “a voz do povo é soberana”. Daí o direitista depressivo rebate: “o povo não sabe o que diz”, que é o mesmo que dizer que “a voz do povo não é soberana”. Mas se o povo quer ouvir alguém que está do lado deles, então automaticamente o direitista depressivo diz que “não está do lado do povo”. Depois disso, o esquerdista chega a coçar os olhos por não acreditar em como está sendo fácil vencer o direitista na conquista de mentes.
Nesses outros dois exemplos, podemos ver também outra característica do direitista depressivo: falar o que sente, pura e simplesmente, com uma candura de causar inveja a uma criança de 10 anos. É por isso que digo que muitos aparentemente estão em uma fase de infância política. Nesse caso, uma larga dose de consciência política pode levar pessoas que tem, por exemplo, 40 anos de idade, mas 7 anos de idade política, a 40 anos de idade política em questão de meses.
Creio que alguns leitores podem ter se indignado ao perceberem em si próprios algumas características do direitismo depressivo. Entendo essa sensação. Mas, para compensar sua ira (se este for o seu caso), lembro que na fase inicial deste blog já cheguei a escrever conteúdos que podem ser associados ao direitismo depressivo.
No meu caso encontrei a solução estudando coisas como a arte da guerra política, de David Horowitz, ou as regras para radicais, de Saul Alinsky (tanto o livro de Horowitz como uma análise da obra de Alinsky podem ser vistas aqui), ou mesmo a arte do controle de frame. Com o tempo pude notar que falar aquilo que sentimos enquanto estamos desanimados, ou falar coisas que só servem para ajudar o adversário, são ações injustificadas, das quais devemos ter vergonha.
No caso de falta de estímulo adicional, podemos olhar no espelho e perguntar para nós próprios: não estou ganhando absolutamente nada para dizer algo que só ajudará os esquerdistas. Sendo assim, por que eu farei isso?
É o momento onde podemos nos conscientizar que devemos parar de ajudar os esquerdistas a colaborar para vitórias deles. Na verdade, nossa luta é a oposta: devemos lutar pelos ideais da direita. E isso implica em deixar de ser garoto propaganda involuntário da esquerda.
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