sábado, 24 de janeiro de 2015

A verdadeira estratégia das tesouras – o caso Dilma X PT

tesouraHá muito se fala, dentro da realidade política do Brasil, na estratégia política que Lênin denominou “a estratégia das tesouras”. A ideia é relativamente simples: o cenário político de um determinado país seria protagonizado por dois partidos com a mesma matriz ideológica (socialista, é claro), sendo um mais moderado e outro mais radical, mas não diferindo muito nos objetivos finais da política: o controle estatal da vida cotidiana dos cidadãos, tanto moral como economicamente, de modo que duas lâminas de uma mesma tesoura continuem cortando a liberdade do povo. Alguns conservadores amigos meus sempre  juraram a existência de um grande complô político nesse sentido, onde o PSDB seria a esquerda moderada e o PT uma esquerda mais radical em defesa da estatização completa do país.
Eu sempre rechacei essa visão. Sim, a política brasileira é polarizada entre PT e PSDB. Sim, o PSDB é um partido moderado de centro-esquerda que defende regulação de mercados e agenda “politicamente correta”. Sim, o ex-Presidente do PSDB já escreveu uma carta publicada no site oficial do partido reclamando que o PSDB deveria estar na Internacional Socialista, e não o PT. Mas tirando esses fatos, é absurdo se falar em um conluio entre PT e PSDB nesse sentido. O PSDB não faz parte do Foro de São Paulo. O PSDB rotineiramente está aliado nas eleições brasileiras com o Democratas, partido de centro, membro da Internacional Democrata Cristã, o que empurra as pautas tucanas para um certo nível de liberdade econômica, ainda que mínimo.
Portanto, o que há no Brasil hoje é um embate real entre um pensamento de esquerda contra uma visão de centro democrática, sem que DEM e PSC (que tentam assumir uma postura Democrata Cristã) consigam ainda alçar vôos próprios em defesa da centro-direita. O Novo é um partido de direita liberal apenas no nascedouro, com muito chão pela frente e sem relevância política grande pelo menos nos próximos sete anos, com boa vontade.
Isto posto, agora eu começo a vislumbrar verdadeiramente a aplicação prática de uma estratégia das tesouras no Brasil, não entre o PT e alguém, mas dentro do próprio PT.
Para quem não sabe, o PT, quanto aos seus procedimentos internos (não no uso da máquina pública), é um dos partidos mais democráticos do país. Possui várias tendências rivais que dialogam entre si na construção de uma plataforma política estatizante. Ironia das ironias, fazem democracia interna para produzir autoritarismo externo.
E parece claro para o PT, nesse momento, que suas políticas estatizantes já não surtem mais efeito. Como a “Dama de Ferro” Margaret Thatcher dizia: “o socialismo acaba quando acaba o dinheiro dos outros”. O dinheiro acabou. A poupança nacional não existe mais. Investidores internos já têm receio em comprar títulos da dívida pública. Investidores externos fogem do Brasil como se suas vidas dependessem disso (suas economias certamente dependem disso). O modelo está esgotado.
A ordem natural das coisas, dentro de uma democracia, é que quando um modelo se esgota, o partido de oposição vence as eleições e toma o poder. Portanto, é natural a vitória de um político de oposição em 2018, especialmente de um partido que tenha representado essa oposição ao longo do tempo. Os cientistas políticos do PT já anteviram esse cenário, e começa a haver todo um movimento de expurgo e busca por bodes expiatórios para, caso esse cenário ocorra, o PT possa se tornar a oposição de si mesmo, apresentando-se como um modelo distinto de gestão, ainda que seja o mesmo modelo e, obviamente, as mesmas pessoas.
Esse movimento se reflete no momento em pequenos atos, como a rebelião de parte da bancada no Congresso, a crítica interna feita pela Fundação do PT, a insurgência da mídia chapa branca bancada pelo PT, o manifesto de economistas ligados ao PT, e assim por diante. Ainda são questões pontuais, mas ao se agravar a situação política do Governo, elas tendem a se apresentar com maior constância.
O que pretendo dizer, em resumo, é que o PT está pronto para imolar Dilma e sua nova equipe econômica, vendida como neoliberal, mas que de liberal não tem nada, para, dentro de um debate político entre o “PT neoliberal”, lâmina direita da tesoura petista, e o “PT do povo”, lâmina esquerda da mesma tesoura, este último venha a assumir um papel de oposição e, numa plataforma novamente autoritária, vença as eleições, fazendo com que o Brasil perca mais alguns muitos anos de progresso, às custas das péssimas práticas políticas desse bando.
Espero, sinceramente, que o povo não caia nesse engodo mais uma vez. Em terra de tesoura cega, quem tem olho que se cuide.



Sobre o autor

Bernardo Santoro
Diretor do Instituto Liberal
Mestre em Teoria e Filosofia do Direito (UERJ), Mestrando em Economia (Universidad Francisco Marroquín) e Pós-Graduado em Economia (UERJ). Professor de Economia Política das Faculdades de Direito da UERJ e da UFRJ. Advogado e Diretor-Executivo do Instituto Liberal.

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