Verdade que
incomoda
“Eu entrei no governo com um objetivo: transformar o
país, de uma sociedade dependente em uma sociedade autoconfiante, de uma nação
dê-para-mim em uma nação faça-você-mesmo.”
(Margaret Thatcher)
“Senhores,
é nisso que nós acreditamos”, exclamou a recém-eleita líder da oposição
britânica, enquanto batia com um livro sobre a sua mesa. O livro que ela tinha
em mãos era Os Fundamentos da Liberdade, de F. A. Hayek. Margaret Thatcher
ocupava o posto de líder do Partido Conservador há apenas alguns meses, e
enquanto alguns membros do seu gabinete insistiam na adoção de propostas
pragmáticas enquanto o partido estivesse na oposição, ela usou o livro de Hayek
para demonstrar que pretendia um rompimento completo com as ideias socialistas
que dominavam o governo britânico desde a Segunda Guerra.
Na
administração de Margaret Thatcher a Inglaterra se transformou e saiu do
“buraco”. De Theodore Dalrymple, no seu livro “A Vida na Sarjeta”: “O primeiro
dever do intelectual moderno, escreveu George Orwell, é afirmar o óbvio,
invalidar ponto a ponto, as ‘pequenas ortodoxias duvidosas... que agora brigam
por nossas almas’”. Orwell entendia por doutrina totalitárias aquelas que
hipnotizavam os intelectuais de seu tempo e impediam-lhes aceitar as verdades
óbvias e evidentes a respeito de si próprios e de outras sociedades;
entretanto, a advertência ainda é verdadeira, mesmo quando o fascismo e o
comunismo estão mortos e os seus restos operam na sombra, na lama pútrida. O
fim do totalitarismo não levou a uma avaliação mais franca e honesta da
realidade, mas simplesmente a uma proliferação das lentes de distorção através
das quais as pessoas escolhem olhar para o mundo. Se a humanidade, como expôs
T.S. Eliot, não pode tolerar muita realidade, parece que pode suportar qualquer
quantidade de irrealidade. A luta do intelectual para negar o óbvio sempre é
mais desesperada quando a realidade é desagradável, está em desacordo com suas
preconcepções e quando o pleno reconhecimento dela destruiria os fundamentos de
sua visão de mundo intelectual. Dada à história social da Inglaterra nos
últimos quarenta anos, pouco surpreende que a negação coletiva seja uma das
características mais proeminentes da vida intelectual.
O Estado
do Bem-Estar Social moderno filho da esquerda destruiu a moral e a capacidade
de trabalho na Inglaterra e na França. Nas últimas décadas uma psicologia
peculiar surgiu na Inglaterra com o Estado do Bem-Estar Social. Há muito,
segundo Dalrymple, se foram à civilidade, a independência firme e o admirável
estoicismo que conduziram os ingleses ao longo dos anos de guerra e alegações
especiais. O colapso do caráter britânico foi rápido e completo, assim como o
colapso do poderio da Grã-Bretanha. O que aconteceu na Inglaterra e França
serve de exemplo para alertar os brasileiros dos riscos que atravessam com a
administração pífia e corrupta do PT, muito pior do que aconteceu na
Inglaterra, França e outros países europeus que adotaram o modelo do Estado do
Bem-Estar Social, com destaque no Brasil das políticas ambientais nocivas na
Amazônia, veneno para o desenvolvimento.
As
ideologias políticas não parecem propensas a visar um objetivo definido com
clareza, mas reformas esparsas. É da maior importância uma compreensão plena do
processo mediante o qual certas medidas podem destruir as bases de uma economia
de mercado, e asfixiar gradualmente o poder criador de uma civilização livre.
Só compreendendo por que e como certo tipo de controle econômico tende a
paralisar as forças propulsoras de uma sociedade livre, e que espécie de
medidas são em particular perigosas nesse campo.
O
verdadeiro liberalismo distingue-se do conservantismo e é perigoso
confundi-los. Embora elemento necessário em toda sociedade estável, o
conservantismo não constitui, contudo, um programa social; em suas tendências
paternalistas, nacionalistas, de adoração ao poder, ele com frequência se
revela mais próximo do socialismo que do verdadeiro liberalismo; e, com suas
propensões tradicionalistas, anti-intelectuais e frequentemente místicas, ele
nunca, a não ser em curtos períodos de desilusão, desperta simpatia nos jovens
e em todos os demais que julgam desejáveis algumas mudanças para que este mundo
se torne melhor. Por sua própria natureza, um movimento conservador tende a
defender os privilégios já instituídos e a apoiar-se no poder governamental
para protegê-los. A essência da posição liberal, pelo contrário, está na
negação de todo privilégio, se este é entendido em seu sentido próprio e
original, de direitos que o estado concede e garante a alguns, e que não são
acessíveis em iguais condições a outros.
A mais importante transformação que
um controle governamental amplo produz é de ordem psicológica, é uma alteração
no caráter do povo. Isso constitui um processo necessariamente lento, que se estende
não apenas por alguns anos, mas talvez por uma ou duas gerações. O importante é
notar que os ideais políticos de um povo e sua atitude em face da autoridade
tanto são efeitos quanto causas das instituições políticas sob as quais ele
vive. O que significa, entre outras coisas, que mesmo uma vigorosa tradição de
liberdade política não constitui garantia suficiente, quando o perigo consiste
precisamente em novas instituições e novas orientações políticas que ameaçam
corroer e destruir pouco a pouco aquele espírito. Sem dúvida, as consequências
poderão ser evitadas se o mesmo espírito se reafirmar a tempo, e se o povo não
apenas puser abaixo o partido que o vinha conduzindo para cada vez mais longe
do caminho perigoso, mas também reconhecer a natureza da ameaça e mudar
resolutamente de orientação.
Tocqueville previu sobre um “novo tipo de
servidão”, que apareceria quando, depois de ter subjugado sucessivamente
cada membro da sociedade, modelando-lhe o espírito segundo sua vontade, o
estado estende então seus braços sobre toda a comunidade. Cobre o corpo social
com uma rede de pequenas regras complicadas, minuciosas e uniformes, rede que
as mentes mais originais e os caracteres mais fortes não conseguem penetrar
para elevar-se acima da multidão. A vontade do homem não é destruída, mas
amolecida, dobrada e guiada; ele raramente é obrigado a agir, mas é com
frequência proibido de agir. Tal poder não destrói a existência, mas a torna
impossível; não tiraniza, mas comprime, enerva, sufoca e entorpece um povo, até
que cada nação seja reduzida a nada mais que um rebanho de tímidos animais
industriais, cujo pastor é o governo. Uma
servidão metódica, pacata e suave, pode ser combinada, com mais facilidade do
que em geral se pensa, com alguma forma aparente de liberdade, e que poderia
mesmo estabelecer-se. O que de Tocqueville não considerou foi por quanto tempo
tal governo permaneceria nas mãos de déspotas benevolentes, quando seria tão
mais fácil para qualquer grupo de rufiões conservar-se indefinidamente no
poder, desprezando todo o decoro tradicional da vida política.
As lições deixadas por Hayek, F.
A., que orientou a política de Margaret Tatcher, e levantou e incentivou a
economia inglesa, mostra o quanto estamos fora de rota no Brasil.
Armando Soares – economista
e-mail: teixeira.soares@uol.com.br
Armando Soares é articulista de LIBERTATUM.
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