quinta-feira, 1 de janeiro de 2015



Que caminho escolher?





“Se um autor escrevesse apenas para a sua época, eu teria que quebrar minha caneta e jogá-la fora.”
(Victor Hugo)
                


                  

                                                                                           "O declínio da liberdade de um país, é o declínio da sua prosperidade"
                                                                                                                                                                                                 Ayn Rand


Produzi durante muitos anos artigos em jornal paraense mostrando a verdadeira face da Amazônia, da Amazônia discriminada, saqueada e traída, resultado de mentes medíocres responsáveis pela estagnação cruel da região. No presente, salvo durante a gestão do presidente Castelo Branco, a discriminação, o saque e a traição tiveram continuidade representadas por uma política pública que impede o seu desenvolvimento, potencializa a cobiça indígena construída por americanos e ingleses objetivando a tomada da região sem violência, pacificamente. 

Meu interesse pela Amazônia, como autêntico amazônida foi estudá-la e entender por que uma região tão rica sempre teve dificuldade de se desenvolver, e por que sempre foi uma região enjeitada pela elite política e econômica brasileira centrada no sudeste, estudo que me levou a conhecer melhor governantes, políticos e brasileiros. Em toda minha vida defendi o homem liberto, impulsionado políticas econômicas compatíveis com o capitalismo laissez-faire, o que permite ao homem liberto construir empresas e desenvolver nações ricas. 

Nesse caminhar exerci a profissão de economista, empresário e pesquisador, o que me propiciou obter uma visão ampla da realidade brasileira, especialmente a amazônica, e consolidar minha crença na liberdade do homem como fundamento do desenvolvimento e da qualidade de vida. Nos nossos dias tem destaque no seio dos jovens a questão do comportamento, da liberdade de escolher e dirigir suas vidas, o que nos leva as questões de ordem sexual e da droga, esta segundo estudiosos precisando de regulamentação como caminho para resolver inúmeros problemas sociais, sexuais e criminais. Ora, se está em voga à questão do comportamento, mais do que nunca a questão da liberdade de ação do homem é fundamental para a escolha do modelo econômico e político.

                Continuo estudando, lendo e pesquisando, o que me levou a ler muitos pensadores, filósofos, economistas, historiadores e romancistas com destaque para uma figura extraordinária - Ayn Rand, russa, nascida em São Petersburgo, na antiga União Soviética czarista, que teve, ainda jovem, a infelicidade de presenciar o confisco do estabelecimento comercial de seu pai pelos comunistas, o que levou a sua família a passar fome. Impressionada com as aulas de história americana passou a considerar os Estados Unidos o modelo de nação em que os homens poderiam ser livres, princípio presente em todas suas obras. Rand defende a escola do romantismo inexistente em nossos dias; mas, segundo ela, o romantismo é a escola conceitual de arte, pois trata não das banalidades do dia a dia, mas das questões e dos valores eternos, fundamentais e universais da existência humana. Preocupa-se, enfatiza – nas palavras de Aristóteles – não com as coisas como são, mas com as coisas como poderiam e deveriam ser.

Nunca houve uma época em que os brasileiros precisassem tão desesperadamente de uma perspectiva das coisas como elas deveriam ser. Seguindo o pensamento de Ayn Rand, apesar de desprezarmos os atuais detentores do poder no Brasil, não podemos abandonar o país para aqueles que desprezamos. O homem, no entender de Rand é o produto de suas premissas. Na sua visão, “nem a política nem a moralidade nem a filosofia são fins em si mesmas, nem na vida nem na literatura. Só o Homem é um fim a si mesmo.” Destaque da inteligência e criatividade de Rand, destacada do livro ‘A Nascente’: “Da mais simples necessidade até a mais complexa abstração religiosa, da roda ao arranha-céu, tudo o que somos e tudo o que temos vem de um único atributo do homem – a capacidade de sua mente racional”. Receosa que fosse mal interpretada Rand esclareceu na apresentação de seu livro que não se referia à religião em particular, mas à categoria especial de abstrações, das quais a mais exaltada, durante séculos, havia sido um monopólio quase absoluto da religião: a ética – não o conteúdo específico da ética religiosa, mas a ‘ética’ como abstração, o universo dos valores, o código do bem e do mal do Homem, com as conotações emocionais de elevação, enaltecimento, nobreza, reverência, grandiosidade que pertencem ao universo dos valores do Homem, mas dos quais a religião se apropriou. O monopólio da religião, explica Rand, no campo da ética torna extremamente difícil comunicar o significado emocional e as conotações de uma visão de vida racional. 

Assim como a religião tomou conta do campo da ética, voltando a moralidade contra o Homem, ela também usurpou os conceitos morais mais elevados de nossa linguagem, posicionando-os fora da Terra e fora do alcance do Homem. A ‘exaltação’ é normalmente entendida como um estado emocional evocado pela contemplação do sobrenatural. ‘Veneração’ significa experiência emocional de lealdade e dedicação a algo mais elevado que o Homem. ‘Reverência’ significa a emoção de um respeito sagrado, que deve ser sentida de joelhos. ‘Sagrado’ significa superior e separado de qualquer interesse do Homem nesta Terra. Rand adverte para não confundir ‘veneração pelo Homem’ com as várias tentativas não de resgatar a moralidade da religião e trazê-la para o campo da razão, mas de substituir os elementos mais profundamente irracionais da religião por um significado secular. Como exemplo, há todas as variantes do coletivismo moderno (comunista, fascista, nazista, etc.) que preservam a ética religiosa-altruísta na sua totalidade e apenas colocam a sociedade no lugar de Deus como beneficiária da autoimolação do Homem.

                O arremate de Ayn Rand é um primor de lucidez e cântico da liberdade do Homem. Não é da natureza do Homem – nem de nenhuma entidade viva – começar já desistindo, cuspindo na própria cara e amaldiçoando a existência; isso requer um processo de corrupção cuja rapidez varia de homem para homem. Alguns desistem ao primeiro toque de pressão; se vendem; outros mais definham através de graus imperceptíveis e perdem sua chama, jamais sabendo quando ou como a perderam. E então todos eles desaparecem no vasto pântano dos mais velhos, que lhes dizem persistentemente que a maturidade consiste em abandonar a própria mente; a segurança, em abandonar os próprios valores; a praticidade, em perder a autoestima. No entanto, alguns poucos resistem e seguem adiante, sabendo que a sua chama não deve ser traída, aprendendo a dar-lhe forma, propósito e realidade. Mas qualquer que seja seu futuro, no nascer de suas vidas, as pessoas buscam uma visão nobre da natureza do Homem e do potencial da existência. Não importa que apenas alguns em cada geração entendam e alcancem a realidade total da estatura apropriada ao Homem – e que o resto a traia. São esses poucos que movem o mundo e dão à vida seu significado – e é a esses poucos que eu sempre procuro me dirigir. O restante não me diz respeito; não é a mim que eles traem: é às suas próprias almas. (Ayn Rand – Nova York, maio de 1968)

                Que as palavras dessa grande mulher consiga penetrar na alma dos brasileiros para que possamos, com a bandeira da liberdade, expulsar do poder os maus brasileiros e do país a censura mascarada com outros nomes que protege interesses inconfessáveis. O único caminho a escolher é a da valorização do Homem.

Armando Soares – economista

                 
Armando Soares é articulista e ensaísta de LIBERTATUM 

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