Autocensura
Um dos efeitos do ataque terrorista ao Charlie Hebdo em Paris foi a expressiva manifestação de apoio à liberdade de expressão. Mesmo muitos daqueles que consideram o conteúdo do jornal para lá de ofensivo e de mau gosto concordaram que a liberdade de expressão é um direito fundamental que deve ser preservado, independentemente de quem é ofendido.
Por outro lado, pelo menos num ponto, os terroristas venceram. Sua violência desencadeou, mundo afora, uma verdadeira onda de autocensura. Nesse sentido, chama a atenção uma reação em especial. Em 2005, o jornal dinamarquês Jyllands-Posten publicou uma série de charges sobre o profeta Maomé, as quais foram seguidas por inúmeros protestos e ameaças ao redor de todo o mundo muçulmano. Desta vez, no entanto, o Jyllands-Posten é um dos poucos jornais que não estão reproduzindo as charges do Cherlie Hebdo em solidariedade aos atentados do último dia 07.
Eis a sincera explicação do jornal dinamarquês, em editorial recente:
“Poder é a capacidade de influenciar as decisões de pessoas e comunidades. Neste sentido, o Islã tem muito poder. A maioria dos europeus, 25 anos após as ameaças a Salman Rushdie, interiorizou a fatwa contra ele. Não, a razão por que nós não vamos reproduzir os famosos desenhos é, claro, medo. Tudo mais é desculpa. No entanto, o medo é um legítimo sentimento, e não menos importante para os colaboradores deste jornal.
Vivemos com o medo de um ataque terrorista durante nove anos e, sim, isso explica por que nós não reproduziremos as charges, sejam nossos próprios ou os do Charlie Hebdo. Preocupações de segurança com os nossos funcionários são primordiais. Estamos conscientes de que estamos nos curvando à violência e à intimidação. Nesse contexto, estamos convictos também de que a Dinamarca e a imprensa não devem esperar menos violência quando alguém violar a imagem do Profeta da próxima vez, mas mais. Tudo isso mostra que a violência funciona.”
Realmente, é uma pena. Mas será que dá para censurá-los?
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