Em um passeio recente por um bairro rico de San Francisco que ostenta casas absolutamente espetaculares, fiz o que qualquer pessoa normal faria nessa circunstância: pensei comigo, “o que eu poderia fazer para ganhar dinheiro suficiente para comprar uma casa dessas?” Meus pensamentos continuaram: “para ser tão rico assim, eu preciso produzir alguma coisa pela qual muitas pessoas pagariam um valor mais alto que meu custo para produzi-lo. OK! Ótimo! Eu identifiquei a fórmula geral. Agora, tudo que preciso fazer é pensar em um produto, algo que as pessoas pagassem um preço mais alto que meu custo de produção”.
“O que eu posso produzir?... O que eu posso produzir?... Que idéia posso ter que seja criativa o suficiente para me trazer uma fortuna?... O que eu posso produzir?... Pense Don: pense, pense, PENSE!”
Afundei em melancolia, pois o que veio à minha cabeça foi apenas o vazio – o mesmo vazio desconcertante de todas as outras milhares de ocasiões, nas quais tentei pensar em um novo produto ou serviço que os consumidores valorizariam.
A verdade é que não possuo nenhuma criatividade empreendedora. Nada. Zero.
E, ainda assim, apesar da inatividade da minha mente nesse assunto, como eu tenho sorte! É incrível o quanto eu sou estupidamente sortudo!
Minha sorte é que vivo em uma sociedade na qual eu me beneficio imensa e diretamente das idéias criativas de outras pessoas, idéias essas que eu nunca teria tido, mesmo que eu vivesse cem vezes. A característica distintiva de uma economia de mercado, livre e despolitizada, é que ela não apenas inspira pessoas criativas a criar, mas ela também inspira essas mesmas pessoas criativas a criarem coisas e processos que beneficiem mesmo àqueles irremediavelmente não criativos.
O que eu quero dizer é o seguinte. Eu estou escrevendo essas palavras de algum lugar no estado de Utah enquanto viajo para a cidade de Nova York a 600 quilômetros por hora. A menos de 30 centímetros do braço do meu assento a temperatura é de 45°C abaixo de zero. E, ainda assim, estou confortável e a salvo, bebendo um café que me foi fornecido como cortesia. Há duas horas, eu estava na Califórnia; em três horas, estarei em Nova York. Meus pensamentos estão sendo gravados (com a ajuda dos meus dedos) em um computador portátil, que possui mais poder computacional do que a Apollo 11. Eu posso checar meus e-mails, simplesmente ligando meu laptop a um telefone, acoplado ao assento à minha frente.
Cada uma dessas maravilhas – e elas são maravilhas! – só foram possíveis graças às incontáveis idéias criativas de pessoas as quais eu não conheço e que também não me conhecem. Eu não sou o responsável por nenhuma dessas idéias que me possibilitam escrever em um computador enquanto eu vôo, em segurança, através de um continente. Mas aqui estou eu, o feliz beneficiário de todas essas assombrosas criações.
Além do mais, sou um Americano comum. Eu não sou rico, segundo os modernos padrões americanos. Mas, e daí? Eu sou espetacularmente rico. Eu (como quase todos os outros americanos) posso adquirir todos esses itens supérfluos em troca de apenas uma pequena fração do meu trabalho.
Vamos calcular quanto me custam, hoje (1999), os bens supérfluos que descrevi acima. A tarifa da minha viagem, ida e volta, na classe econômica, é de US$ 338. Meu laptop novo, completo, com modem e todos os programas que preciso para escrever e mandar e-mails custa US$ 2.000. Imaginando que provavelmente irei usar esse computador por dois anos, o custo diário dele é de nada mais que US$ 2,74 (que é 2.000 dividido pelos 730 dias dos dois anos). Checar meu e-mail me custará, aproximadamente, US$ 35 com as despesas de telefone – supondo que eu usaria o air-phone por dez minutos (um tempo de conexão bem maior do que eu provavelmente precisaria).
Então, o que temos? No total, me custa apenas US$375,74 ir e voltar, de Nova York à Califórnia, escrever essa coluna enquanto viajo e checar os meus e-mails. US$ 375,74 – e só! Apenas US$ 375,74 foi tudo que eu paguei para fazer algo que, há vinte anos, ninguém poderia ter feito, e que há apenas quatro ou cinco anos, somente os mais ricos entre os ricos poderiam fazer.
Hoje, utilizar um laptop em um avião é tão comum nos países desenvolvidos que não nos chama a atenção. Os outros passageiros não estão mais surpresos por me verem digitando em meu laptop, do que estariam ao ver um pombo no Central Park.
O relatório anual do Federal Reserve Bank de Dallas, de 1997, se chama Time Well Spent: The Declining Real Cost of Living in America [O Tempo Bem Gasto: A Queda do Custo de Vida Real na América]. Eu gostaria de incentivar vocês a lerem esse incrível documento. (Nota: o Fed de Dallas é uma espécie de traidora entre as agências governamentais. Sua liderança e quadro de economistas é composto por alguns dos acadêmicos que mais defendem o livre mercado na América) Os autores do relatório – W. Michael Cox e Rochard Alm – mostram como o custo de vida real nos Estados Unidos tem caído substancialmente durante o último século e como continua a cair. Cox e Alm medem o custo de vida baseados no tempo de trabalho – a quantidade de tempo que um trabalhador americano típico deve trabalhar para adquirir determinados produtos e serviços.
Quase qualquer produto ou serviço que você possa pensar custa menos tempo de trabalho hoje do que há alguns anos. Por exemplo, em 1984, um típico trabalhador Americano tinha que trabalhar 435 horas para comprar um computador. Hoje, um computador com muito mais recursos pode ser comprado com apenas 76 horas de trabalho desse trabalhador. Um telefone celular, em 1984, custava 456 horas de um trabalhador americano. Hoje, um telefone celular muito melhor custa apenas nove horas.
É claro que muitos bens e serviços que vemos hoje com naturalidade não poderiam ser comprados, por nenhum preço, há dez anos – como checar meus e-mails em um avião comercial.
As maravilhas as quais cada um de nós têm acesso diário são produtos de milhões de mentes criativas, pensando como satisfazer melhor seus consumidores – produzindo produtos novos ou melhorados e reduzindo os custos de produção de produtos já existentes. Muitas dessas pessoas ganham (merecidamente) milhões de dólares; algumas ganham (merecidamente) bilhões de dólares; e a maioria delas ganha boas somas, mas não tão grandes. Entretanto, todos, na sociedade industrial, lucram bastante a partir da criatividade de qualquer empreendedor do mercado.
E não preciso lamentar que eu, pessoalmente, não tenha criatividade, nem idéias produtivas. Eu tenho a grande sorte de viver em uma sociedade que encoraja as pessoas verdadeiramente criativas a dividir os frutos de sua criatividade comigo. Minhas bênçãos são, literalmente, grandes demais para serem contadas.
Matéria extraída do website do Instituto Ordem Livre
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