Carl Menger tem a dupla distinção de ser o fundador da economia austríaca e um co-fundador da revolução da utilidade marginal. Menger trabalhou separado de William Jevons e Leons Walras, e chegou a conclusões semelhantes, mas por um método diferente. Ao contrário de Jevons, Menger não acreditava que bens proporcionavam “utilidades” ou unidades de utilidade. Em vez disso, escreveu que as mercadorias são importantes, pois servem a usos diversos, cujas importâncias se diferem. Por exemplo, os primeiros baldes de água são utilizados para satisfazer as mais importantes práticas, e os baldes seguintes são usados em fins cada vez menos importantes.
Menger usou essa idéia para solucionar o paradoxo entre a água e o diamante que confundiu Adam Smith (ver marginalismo). Ele também a usou para refutar a teoria de valor do trabalho. Bens adquirem seus valores, demonstrou, não pela quantidade do trabalho empregado na produção, mas devido a sua capacidade de satisfazer as carências das pessoas. Menger virou do avesso a teoria do valor do trabalho. Se o valor dos bens é determinado pela importância das carências satisfeitas, então o valor do trabalho e de outros insumos de produção (que ele chamou de “bens de ordem superior”) deriva de sua capacidade de produzir esses bens. A principal corrente de economistas ainda aceita essa teoria, chamando-a de teoria de “teoria da demanda derivada”.
Menger usou sua “teoria subjetiva do valor” para chegar a um dos principais insights na economia: ambos os lados ganham com a troca. As pessoas trocarão algo a que dão menos valor por algo a que dão mais valor. Como as duas partes do contrato fazem isso, ambas saem ganhando. Essa percepção o levou a ver que os intermediários são altamente produtivos: eles facilitam operações que beneficiam tanto as pessoas que compram quanto aquelas que vendem. Sem intermediários, essas transações não teriam ocorrido, ou teriam sido mais dispendiosas.
Menger também chegou a uma explicação para o desenvolvimento do dinheiro que é aceita ainda hoje. Se pessoas trocam, assinalou, então elas raramente podem conseguir o que querem em apenas uma ou duas operações. Se têm lâmpadas e desejam cadeiras, por exemplo, não terão necessariamente a possibilidade de trocar lâmpadas por cadeiras, mas poderão, em vez disso, ter de realizar algumas trocas intermediárias. Isso é trabalhoso. Mas as pessoas percebem que o incômodo é bem menor quando barganham o que têm por algum bem amplamente aceito no mercado, e então o utilizam para comprar o que querem. O bem que é amplamente aceito acaba se tornando o dinheiro. Os economistas modernos afirmam que a função do dinheiro é “evitar a necessidade da dupla coincidência de desejos”. De fato, a palavra "pecúnia" deriva do latim pecus, que significa “gado”, que em algumas sociedades serviu como dinheiro. Outras sociedades usaram cigarros, conhaque, sal, peles, ou pedras como dinheiro. Quando as economias se tornaram mais complexas e ricas, elas começaram a usar metais preciosos (ouro, prata, e assim por diante) como dinheiro.
Menger estendeu sua análise a outras instituições. Argumentou que a linguagem, por exemplo, desenvolveu-se pela mesma razão por que o dinheiro se desenvolveu — para facilitar a interação entre as pessoas. Ele chamou essas evoluções de “orgânicas”. Nem a língua nem o dinheiro foram desenvolvidos pelo governo.
A escola austríaca de pensamento econômico primeiro reuniu os escritos de Menger e de dois de seys jovens discípulos, Eugen von Böhm-Bawerk e Friedrich von Wieser. Mais tarde, Ludwig von Mises e Friedrich Hayek, economistas austríacos, usaram as idéias de Menger como ponto de partida: Mises com sua obra sobre o dinheiro, e Hayek com a sua idéia de "ordem espontânea".
Carl Menger nasceu na Galícia, parte do Império Austro-Húngaro (atual sul da Polônia), em uma família próspera. Tinha dois irmãos também talentosos; Anton foi filósofo e historiador jurídico socialista, e Karl foi um matemático importante. Carl concluiu seu doutorado em Direito na Universidade de Cracóvia, em 1867. Como resultado da publicação de seu livro Princípios de Economia, em 1871, foi-lhe concedido um leitorado e depois uma cátedra na Universidade de Viena, que ocupou até 1903. Em 1876, assumiu o cargo de tutor do príncipe herdeiro Rodolfo da Áustria. Nessa qualidade, viajou por toda a Alemanha, a França, a Suíça e a Inglaterra.
* Matéria extraída do Instituto Ordem Livre. Publicado originalmente em 25/09/2009.
O editor de LIBERTATUM considera Carl Menger um dos gênios da humanidade que mais contribuiu para a compreensão e avanço do entendimento humano sobre sua própria ação.
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