quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Minha Opinião Sobre o Novo Time da Fazenda

ministroFoi anunciado o primeiro escalão do Ministério da Fazenda. Uma surpresa que passou despercebida pela imprensa foi que no Tesouro não foi efetivado Carlos Hamilton. Não entendi o porquê da imprensa não ter ido verificar o motivo dessa não efetivação. Abaixo segue minha análise caso a caso.
Secretário-executivo da Fazenda: Tarcísio Godoy (engenheiro civil com mestrado em economia do setor público (UnB)) foi, por 5 meses, secretario do Tesouro Nacional. Depois foi para a Brasil Prev (braço do Banco do Brasil), fez parte do Conselho de Administração do Banco do Brasil, e também foi secretario adjunto no Ministério da Previdência. Estava no setor de seguros do Bradesco. Não é exatamente uma figura desconhecida do setor público tendo participado de cargos altos na administração petista (mesmo com uma formação acadêmica modesta). Não assino embaixo desse nome. Nada pessoal, mas o novo secretario-executivo já teve cargos altos demais na administração petista, não é alguém de quem esperaria mudanças. É alguém que claramente apoiou as políticas atuais (ou não teria os cargos que teve). Mais do que isso, o novo secretario fez parte de altos cargos no governo, de conselhos de administração de empresas públicas, comandou a Brasil Prev, e depois foi trabalhar para o Bradesco. Nada contra isso. Mas o Brasil é maior do que o Bradesco… o número 1 e o número 2 da Fazenda são ex-funcionários do mesmo banco. Não creio que essa seja uma escolha sensata.
Receita Federal: Jorge Rachid já comandou a receita federal de 2003 a 2008. Não há dúvidas quanto a sua competência em aumentar a arrecadação. E é exatamente por isso que não assino embaixo desse nome. Rachid foi um dos grandes defensores da manutenção da CPMF, para ele o importante é aumentar a arrecadação. Num país que tem uma carga tributária superior a 37% do PIB esse não me parece o melhor nome. Deixo claro aqui que no quesito aumentar a arrecadação Rachid é competente e sabe o que faz. Sua indicação parece sugerir que o aumento da arrecadação é parte importante do futuro ajuste fiscal.
Secretário do Tesouro: Marcelo Saintive Barbosa (economista com mestrado em economia pela UFRJ) já foi secretario adjunto de acompanhamento econômico do Ministério da Fazenda entre 2006 e 2007. Além disso, foi subsecretário de Finanças do Estado do Rio de Janeiro quando Levy era secretário da Fazenda daquele estado. Não assino embaixo desse nome. Me parece um nome realmente pouco conhecido e com o devido respeito de pouca expressão, para um cargo tão importante. Talvez faça um excelente trabalho, mas é uma aposta muito arriscada para cargo tão importante.
Secretário de Política Econômica: Afonso Arinos (doutor em economia pela Universidade de Chicago). Não assino embaixo desse nome. Aqui acredito que deve-se optar ou por um grande nome acadêmico, ou por alguém que apesar de não ser academicamente tão forte conheça o setor público. Nada contra o professor Afonso Arinos (que alias leciona numa das melhores escolas brasileiras de economia). Mas basicamente ele não me parece se encaixar no perfil do cargo. Aqui eu posso estar errado, afinal estamos falando de um doutor por Chicago e que é coordenador de um curso de ponta. Talvez essa experiência seja um diferencial que prove estar eu errado.
Secretário de Acompanhamento Econômico: Pablo Fonseca (economista) já detinha esse cargo antes, isto é, ocupou essa secretaria na Administração Guido Mantega. Já foi coordenador-geral de Assuntos Econômico-Financeiros da Secretaria de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda (2002 a 2005), e depois trabalhou no Ministério do Planejamento (assessor econômico de 2005 a 2011). Resumindo, parece que nunca ficou sem cargo nos 12 anos de governo petista. Não assino embaixo desse nome. O simples fato de pertencer ao grupo de Mantega já me parece comprometer o nome.
Os demais: os nomes que não citei aqui não tenho conhecimento para analisar.
Enfim, dos que tenho como analisar não recomendo nenhum. Posso estar errado, mas me parece que essa escolha não foi aleatória. Posso estar extremamente errado, mas creio que Levy montou um time onde ele será a estrela inconteste. Tenho duas restrições grandes ao time da Fazenda montado por Levy: a) todos os indicados já estavam profundamente comprometidos com o governo (a exceção de Afonso Arinos que entra agora). Essa equipe participou, em maior ou menor escala, da adoção das péssimas políticas econômicas que nos trouxeram até aqui. Como Levy quer nos convencer de mudança se convoca os mesmos nomes?; e b) me parece que Levy quer ser a estrela solitária do time, parece que foi proposital o fato de ter escolhido alguns nomes de pouca expressão para cargos chave.
Sim, entendo a estratégia de Levy. Afinal, quem acompanhou as diversas brigas por poder no governo anterior certamente sabe quão destrutivas tais brigas podem ser. Assim, Levy pode estar apostando que ao concentrar o poder nele mesmo evitará discussões e manterá as rédeas do comando. Sim, pode dar certo. Contudo, não assino embaixo dessa estratégia. Prefiro uma equipe nova, sem laços com o governo anterior, e repleta de nomes fortes. Gosto de jogar ao lado de campeões. Até porque acredito ser importante premiarmos a meritocracia, deixar de lado pessoas capazes (mas que atraem muito brilho) me parece ser a ditadura da mediocridade.

Sobre o autor

Adolfo Sachsida
Doutor (UnB) e Pós-Doutor (University of Alabama) em Economia. Pesquisador do IPEA.
Doutor em Economia (UnB) e Pós-Doutor (University of Alabama) orientado pelo Prof. Walter Enders. Lecionou economia na University of Texas - Pan American e foi consultor short-term do Banco Mundial para Angola. Atualmente é pesquisador do IPEA. Publicou vários artigos nacional e internacionalmente, sendo de acordo com Faria et al. (2007) um dos pesquisadores brasileiros mais produtivos na área de economia.
Fonte: website do Instituto Liberal.

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