sábado, 9 de maio de 2015

O fim da era PT

PT: o fim de uma era?
PT: o fim de uma era?
Os fatos parecem indicar que o PT está chegando ao fim. A combinação de crise econômica e corrupção é mortal. Há ainda aqueles que defendem o partido, mas esses tendem a se tornar cada vez mais raros e desacreditados.

Quando o PT foi criado, em 1980, muita gente ficou empolgada. A ideia de trabalhadores assumirem o poder político era muito sedutora. Professores de história costumam ensinar que o sufrágio universal civilizou o capitalismo. E tudo levava a crer que a solução das mazelas sociais do Brasil também viria através do voto. O grande problema do Brasil se resumia no fato de nosso país ter sido sempre governado por uma elite conservadora, que não se importava muito com as feridas sociais da nação. Vários intelectuais, artistas, jornalistas aderiram a essa tese. Os trabalhadores tinham de assumir o poder. Essa era a única maneira de acabar com as injustiças sociais. E foi assim que o PT se transformou no principal movimento de esquerda do Brasil.

Confesso que eu também acreditei nessa tese. Porém meu encanto com o PT foi relativamente breve. Aos poucos, fui me desapontando com o partido. Meu rompimento definitivo ocorreu em 1994, quando foi implementado o Plano Real. Naquela época, eu me questionava: por que o PT era contra o Plano? Simplesmente porque era obra de um outro partido? Ficou claro para mim que o PT não estava comprometido com o Brasil e sim com um projeto de poder. Depois disso, vieram outros fatos que me tornaram ainda mais crítico. Em 2002, Lula foi eleito presidente com um discurso contra o neoliberalismo. Mas, ao assumir o poder, deu continuidade à política econômica de seu predecessor, o “neoliberal” FHC. Criticar o neoliberalismo não passava, portanto, de retórica eleitoreira. Era na verdade um simples papo furado para engambelar eleitores incautos.

Mas faltava ainda a cereja do bolo. O PT passou a dizer que a estabilidade econômica não ocorreu com o Plano Real e sim com o governo Lula. Essa tese era demasiado absurda. Não imaginei que as pessoas iriam acreditar nela. Mas, por incrível que pareça, funcionou. Depois disso, concluí que o PT era capaz de qualquer coisa para conquistar e se manter no poder. O mensalão e o petrolão não me surpreenderam. Simplesmente reforçaram minha opinião em relação ao partido.
O PT parece estar com os dias contados. E eu deveria estar contente, mas não estou. Meu sentimento é muito mais de desolação que de felicidade. O PT envergonha todos os trabalhadores do país. Muita gente deve estar pensando: é melhor que o país seja governado pelas elites. É melhor também que os trabalhadores continuem nas fábricas, de onde nunca deveriam ter saído. O PT desperdiçou uma oportunidade histórica, a de mostrar que trabalhadores podem governar com responsabilidade o Brasil.

Essa não é a primeira vez que o povo brasileiro se desaponta com uma teoria fantasiosa. O momento atual guarda muita semelhança com o movimento Diretas Já, dos anos 1980. Naquela época, o povo encampou a tese de que todos os males do Brasil eram decorrentes de um governo autoritário. A democracia era a solução mágica para todos os problemas: estagnação econômica, pobreza, desigualdade, inflação etc. Tudo seria resolvido com a redemocratização do país. E quando o povo, após uma longa espera de mais de vinte anos, teve oportunidade de escolher, pelo voto direto, o Presidente da República, escolheram Fernando Collor de Mello. Fica a lição aos brasileiros: a democracia pode falhar.

A lição deixada pelo PT é que trabalhadores no poder não é a solução infalível para os problemas sociais. Trabalhadores, mediante o sufrágio universal, podem ter civilizado o capitalismo inglês do século XIX, mas não deixaram muitas contribuições importantes para o Brasil do século XXI.  Em vez de continuarmos presos a esse conceito de classes sociais, penso que o melhor é escolher nossos representantes políticos pelo caráter, experiência e capacidade. Em qualquer classe social podemos encontrar pessoas corretas e competentes. E também espertalhões que querem apenas se dar bem. A duras penas, vamos aprendendo como funciona uma democracia.




Sobre o autor

Ivan Dauchas
Ivan Dauchas é economista formado pela Universidade de São Paulo e professor de Economia Política e História Econômica.

Fonte: Instituto Liberal

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