Cabral: provando da própria dose

Por Klauber Cristofen Pires

Assisti pelo noticiário à cobertura da  rebelião promovida pelos bombeiros do Rio de Janeiro nesta sexta-feira dia 03/06/2011, bem como trechos das declarações do Exmo Governador daquele estado, Sérgio Cabral, com as quais concordo integralmente! Sim, é verdade! Porém, não pelos mesmos motivos. A ver...

Há justificativa para uma tropa de bombeiros militares fazerem greve? Entendo que não. Há justificativa para bombeiros militares invadirem o Quartel Cental da corporação? Menos ainda. Há justificativa para os piquetes contra os que se apresentaram para trabalhar, e para os vanadlismos ocorridos? Aí é que não mesmo! E quanto a levar mulheres e filhos para o motim? Aí já é tática de guerrilha!

Em todos estes quesitos, estou de acordo com o Sr Sérgio Cabral, e mais até: segundo sua própria acusação, o evento foi instigado pelo ex-governador Antony Garotinho, suposição sobre a qual não ouso desacreditar liminarmente. Cabral deve saber do que está falando. Como diria o falecido Clodovil, "boi preto conhece boi preto...".

De fato, Cabral está a apontar o dedo para garotinho sobre coisas que ele mesmo tem feito em toda a sua vida pública. Ambos se merecem e o povo do Rio de Janeiro também os merece, enquanto continuar a elegê-los. Ambos são adminsitardores pródigos e perdulários, populistas e inconsequentes, cínicos e destituídos de qualquer senso de moral e patriotismo.

No meio militar, é tradicional a distinção entre o conceito de "explicação" e o de "justificativa", como exemplar preciocismo da disciplina e da hierarquia, tendo neste meio se originado o jargão "explica, mas não justifica". 

Todavia, hei de usá-lo inversamente aqui. Como afirmei nos primeiros parágrafos, nada justifica a atitude dos bombeiros, e isto por um só motivo: eles são proibidos de assim agirem. Não obstante, este artigo não está em busca de justificativas, mas exatamente em busca de explicações para o que ocorreu. Com efeito, mais cedo ou mais tarde algo desta natureza haveria de ocorrer, pois é compreensível que um ser humano não tem como enfrentar continuamente toda a rígida disciplina militar e oferecer a sua vida em risco em prol da vida dos demais cidadãos para chegar em casa e ver-se premido pela insatisfação das necessidades mais básicas a si e aos seus queridos, ainda mais em uma cidade tão cara quanto o Rio de Janeiro. 

Vejam, caros leitores, estamos aqui a desmistificar também um antigo preconceito brasileiro, qual seja, a dos estados mais ricos em contraste com os estados mais pobres, sobretudo os nortistas e nordestinos. A verdade mais clara e cristalina é que o Brasil inteiro é um país miserável e terra de um povo escravizado. Escravizado, pelo estado e por governantes populistas como o Sr Sérgio Cabral. 

Agora, será que faltam recursos para se pagar um salário mais digno à corporação? Formalmente, os governantes podem alegar que sim, mas vamos olhar isto com uma lupa: faltou dinheiro para o show do Mick jagger? Faltou dinheiro para a parada gay? Falta dinheiro para o MST? para o Carnaval? Falta dinheiro para um catálogo de ONG's mancomunadas com os propósitos mais oblíquos? Falta dinheiro para uma profusão de cargos de confiança em órgãos que ou não fazem nada ou só atribulam a vida dos cidadãos?

Eu creio mesmo que o guardador de carros para o qual eu pago o resgate semanal do sequestro do meu veículo esteja a faturar pelo menos o triplo desta quantia, e isto em Belém. Então, pragmaticamente falando, o que faz um bombeiro não largar a farda e ir atrás de extorquir outros donos de veículos? Se é para falar pragmaticamente, vamos aí a outra explicação, a de que a via da corrupção esteja instalada nas vistorias aos prédios da cidade. Não há lealdade de barriga vazia, principalmente a dos filhos. 

É fácil apertar militares porque a disciplina os faz manterem-se quietos, e é isto o que vai fazendo com que as coisas continuem andando com aparência de ordem social. Entretanto, há um momento inevitável de ruptura. Na pior das hipóteses, eu até que louvo o fato de ter ocorrido na própria gestão de um político safado como cabral, pois há vezes em que a conta cai no colo de um novo eleito com verdadeiras disposições de promover um sanamento das despesas e colocar um pouco de ordem no caos geral. Lula foi ele próprio muito agraciado pela sorte, embora em parte, porquanto a gestão de Dilma Roussef está com os quatro pneus atolados na lama.

No fundo, tenho pena destes bombeiros, embora aplicasse-lhes todo o rigor da lei como corregedor, se tal função me competisse. Tornaram-se vítimas do destino.