segunda-feira, 8 de agosto de 2011

CARTA AO MINISTRO NELSON JOBIM




Esta semana, assisti à sua interessante entrevista no programa Roda Viva da TV Brasil. Percebi que em vários momentos da entrevista o senhor encheu o peito dizendo: " devemos olhar para frente" e... "os militares daqui para frente são subordinados ao poder civil constituído", e assim teria de ser. 


Haroldo Amorim, cel. R/1 do Exército hbamor66@ibest.com.br -Curitiba



Acredito não ser bem assim ministro, com todo o respeito, por vários motivos: 

Primeiro: não entendi porque o senhor utilizou com tanta veemência o termo "poder civil". Se foi para diminuir ou intimidar os militares perdeu seu tempo, porque militar não se impressiona com verborréia. 

Segundo, na época do antigo curso ginasial, a matéria OSPB - Organização Social e Política Brasileira - ensinava que existiam os poderes executivo, legislativo e judiciário. Nunca ouvi falar do "poder civil". 

Aprendi que a vontade soberana do povo escolhe os representantes que irão formar o poder constituído, cuja liderança poderá ser exercida por um cidadão brasileiro civil ou militar. Em 1946, por exemplo, o poder constituído foi liderado por um militar, o Gen. Dutra, que construiu a Via Dutra, lembra? 

Terceiro: subordinação não é submissão, e militar que se preza não se submete a ninguém, ele cumpre ordens. Numa sociedade justa, democrática e igualitária ninguém se submete a ninguém, a nenhum partido político ou ideologia imposta e o poder constituído existe para servir ao povo. Aprendi isso também com a professora Mimi de OSPB. Aliás, pelo andar dos acontecimentos nos últimos tempos, os governos têm se servido mais do povo do que o contrário. 

Por outro lado, uma nação não é igual a outra. Cada uma tem a sua história, um apanágio a embasar a formação e a preservação da nacionalidade. O passado não se dissocia do futuro. Uma das peculiaridades da evolução da nossa nacionalidade é a presença marcante dos militares em momentos cruciais e decisivos para os rumos do país, não como intrusos, mas a pedido do povo, atendendo aos anseios do povo. Negar o passado, ministro, é fragilizar o futuro. 

Portanto, voltando à sua entrevista, percebe-se que a sua retórica retumbante é momentaneamente aceita nas entranhas dos governos recentes mas, infelizmente, incompreendida por alguns militares que, assim como o senhor, também são comprometidos e só querem o melhor para o Brasil, como aquele general com um nome francês citado na entrevista , -"como é o nome dele mesmo?"- foi assim que o senhor pejorativamente no palavreado e no gestual - abanando as mãos - se referiu ao estimado General Mainard Santa Rosa, quando este ao se manifestar como cidadão e General da República incomodou o "poder civil" e foi "demitido". 

Causou-me estranheza ainda o fato dos seus entrevistadores não se darem conta das peculiaridades e diferenças envolvendo as verdades do momento, defendidas de um lado pelo senhor e do outro pelo general de nome afrancesado, visto que são lógicas e não exigem muito preparo jornalístico e intelectual para abordá-las com isenção. 

Finalmente, assim como o senhor que gosta de citar frases filosóficas, penso que não é bom cutucar onça com vara curta, principalmente quando quem cutuca não dá exemplos. Assim disse a Dona Mimi, aquela professora de OSPB, matéria que infelizmente foi extinta dos currículos escolares pelo "poder Civil".

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