Filósofos uspianos niilistas acusam capitalismo por desapropriação da preguiça!
Por Klauber Cristofen Pires
Não compro jornais. Para o melhor fim a que se prestam, já os obtenho na garagem do prédio onde moro, gratuitamente. É só ir lá e pegar um pouco da pilha. Refiro-me obviamente ao papel, muito útil para forrar o wc da cachorrinha lá de casa, a "nuvenzinha", uma linda e meiga mestiça de maltês com poodle.
Bom, caso é que nos fins de semana, devido à folga da doméstica, sobra-me o encargo pelo zelo de sua higiene (eis aí um clássico exemplo de auto-engano: o dos pais que obtêm dos filhos a promessa solene de que cuidarão integralmente dos seus bichos como pré-condição para ganhá-los), momento em que cato algumas folhas, estendo-as sobre o tabladinho e oras, de vez e quando leio alguma bobagem, só para ter o prazer de espezinhá-la aqui.
Numa destas ocasiões li a manchete intitulada "Intelectuais discutem importância do ócio", que trata de um ciclo de conferências organizado pelo filósofo Adauto Novaes sob o sublime nome de "Elogio à Preguiça", cujos seminários estão sendo realizados no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte, São Paulo e Brasília, de 11 de agosto a 6 de outubro de 2011. Entre os seus palestrantes constam os nomes de Marilena Chauí, José Miguel Wisnik, Maria Rita Kehl, Francisco Bosco e Guilherme Wisnik.
O eixo central da tese, como não poderia deixar de ser a um grupo de intelectuais uspianos, é o de que o capitalismo "desaproriou" o tempo livre dos indivíduos. Segundo Novaes: "O que houve foi uma apropriação brutal do tempo dos indivíduos pelo capitalismo contemporâneo” , e denuncia: "Por outro lado, uma das formas eficazes de controle seria estigmatizar a palavra. O preguiçoso torna-se um pária.".
A Paralaxe Cognitiva
Um dos fenômenos mais curiosos presentes no pensamento dos intelectuais modernos, segundo o filósofo Olavo de Carvalho, é o da "paralaxe cognitiva". Sinceramente, o termo "fenômeno" aí carrega uma acepção eufemista. Na verdade, é a foto que mostra o rabo do gato escondido, ou, para melhor compreensão, é o flagrante do vício do dito pensador em enunciar uma tese desconsiderando inteiramente sua própria posição no conjunto-universo que descreve.
Eis aí um exemplo concreto: intelectuais sustentados pelo estado reclamando da falta de tempo para pensar porque alegam que este foi "desapropriado" pelo capitalismo moderno! Ora bolas, e o que dizer deles próprios? Em que mundo vive o Sr Novaes e seus colegas de Campinas? Se o Brasil conta hoje com uma instituição indolente por excelência, podem apostar, é o sistema universitário. Citando apenas parcialmente Lavoisier: lá, "nada se cria, nada se forma" (só!). São nestas instituições onde ocorre o maior índice de acidentes com queimaduras no planeta! Sim, por atrito das mãos sobre os genitais....
Ócio é o mesmo que Preguiça?
Para o Sr Novaes, o domínio do tempo é uma forma de dominação inventada pelo capitalismo: "Transformar a ociosidade em pecado, ou estigma social, é uma forma de culpar os que ousam dispor do seu tempo livre. Não passa de uma estratégia de dominação".
Se levarmos em conta a mais absoluta inércia prevalescente no ambiente acadêmico nacional, então podemos em tom alto e orgulhoso proclamar: " - Te cuida, Vale do Silício!" Os intelectuais da USP estão chegando..."
Vejamos este trecho: “Na Grécia e Roma antigas, o ócio era nobre, e o trabalho, vil.” . É verdade, mas aqui o ócio figura no sentido de tempo livre de afazeres braçais para a meditação e o debate filosóficos. Pitágoras não formulou seu teorema deitado numa rede bebendo água de coco, mas sim com base em muito estudo e observação, enfim, o que fazem todos os cientistas e verdadeiros intelectuais modernos.
E quanto ao capitalismo?
Como resolver o problema deste esquema de dominação que desapropria o tempo das pessoas?
Primeiramente, é de se perguntar em que período da história meros cidadãos tiveram à sua disposição os fins de semana, os feriados, as férias e as aposentadorias à sua disposição, todas estas parcelas de tempo remuneradas.
Da mesma forma, conviria buscarmos, igualmente, em que sistema produtivo houve tanta oferta de bares, restaurantes, shopping-centers, parques de diversões, cinemas, teatros, equipamentos eletrônicos de entretenimento, danceterias, boites, spas, hotéis, pousadas, transatlânticos, resorts, retiros, e tudo o mais que ofereça o melhor para desfrutarmos o nosso tempo.
Conclusão
Desacreditar o capitalismo vivendo de turismo remunerado nele é tão bom quanto desfrutar das primícias dos países socialistas quanto ao uso do tempo. Talvez os nossos filósofos uspianos estejam muito necessitados de uma temporada em algum Gulag ou Laogai para desestressar um pouco. Afinal, ninguém é de ferro.
De acordo com o que há de mais arrojado na escola uspiana, como podemos notar, jaz a consagração do "Mito do Jeca Tatu". Com efeito, pode haver filosofia mais enlevante do que a consagrada pelo caipira cagando no mato a contemplar as galinhas ciscando enquanto saboreia uma palhinha? Donde provém a famosa sentença: "- êta vidinha besta, sô".
Toda essa discusão deve ser tratada da seguinte forma: sim, idaí? Se você quiser tem a total liberdade para cultivar o ócio, só não reclame se ninguém quiser pagar por isso, afinal, não existe direito natural de roubar/escravizar um terceiro para garantir o seu ócio.
ResponderExcluirPerfeito
ResponderExcluirNada a acrescentar.
A mesma turma de sempre.
Parabéns
Ari
A julgar pelas teorias destes "intelectuais", antes do capitalismo, o ócio era uma rega geral. Durante o feudalismo, por exemplo, os trabalhadores do campo contavam com muitas horas de descanso e lazer.
ResponderExcluirAliás, se considerarmos como válidas estas idéias e estender sua aplicação para toda a experiência humana, acredito que podemos afirmar que o homem continua na caverna, refestalado entre alguma(e rara) comida, aproveitando o ócio que caracteriza os seres humanos neste planeta...
... Pelo menos os uspianos.