“Continuo tão rebelde e sonhador
como na juventude”
José Dirceu
“Ser comunista na juventude eu
entendo, mas na velhice é burrice”
Luís Inácio Lula da Silva
Gustavo Miquelin Fernandes
Marx está
morto.
Mas, Antonio
Gramsci não.
Coisa mais comum e, portanto,
natural que há, é um esquerdista entoar loas ao regime democrático.
Realmente é espantoso e figura
isso, a primeiro golpe de vista, um verdadeiro nonsense, contudo, não podemos olvidar que a palavra surrada,
desgastada e banalizada “democracia” pode camuflar importantes desvios
terminológicos.
Nada que surpreende muito. Esse
ato de confirmação e chancela popular são devidamente garantidos por uma hegemonia cultural, muito bem
estruturada, longo-prazista, sutil e fecunda, em níveis tão profundos que
configura dificuldade muito grande trazer à tona essas percepções.
Assim, posta essa premissa
conceitual, que problematiza o próprio termo “democracia” e sua utilização
rasteira, fica facilitada a tarefa de operar esse meu argumento.
Ademais, é fácil perceber que
comumente os ditos “amantes da democracia” o são apenas quando do momento da
aquisição desse poder, resumindo de forma pragmatica: quando ganham eleições. E
jamais a amam loucamente no momento de exercê-la, inclusive com a repartição do
poder e sujeitando-se a controle legítimo e prestação de contas.
Democrático, ma non troppo.
A capacidade eleitoral e
discernimento político da sociedade hodierna, e qualquer um que se aprofunde no
tema pode registrar, está devidamente viciada. Ocorre aqui o fenômeno da
democracia numérica, de chancela, de urna; que jamais pode ser a real e
legitima.
Fato é que esse adesionismo dos
cidadãos que compõe a comunidade política é sumamente necessário e jamais
dispensável.
A comunidade não é inerte a
totalitarismos abertos e ostensivos. Existem potencialmente revoltas. O patrocínio
da comunidade é fundamental para a tomada, a conquista e a manutenção, a perder
de vista, do poderio estatal.
Esse arrebatamento das massas,
essa adesão formal e incondicional é fruto da hegemonia cultural, pouco a pouco
disseminada por intelectuais (dito orgânicos) e agentes micro e macro de uma
estrutura grande e ousada que deseja sempre mais poder.
Não há como uma classe, manu militari, ou forçadamente, com mão
armada, subjugue a outra. Isso ocasionaria mais revoltas, danos sociais grandes
e guerras. A insegurança social seria sintomática e desestabilizaria o processo
seguinte.
O ideal, e isso foi bem percebido
e praticado por algumas dezenas de anos é uma revolução tranquila, sutil, quase
que espiritual, para implantar a semente da inocência e complacência no seio da
sociedade, arrebatando e convocando todos para participar de um grande projeto
de mudança social.
O discurso se dá neste nível.
Assim opera a hegemonia cultural.
O Estado é e tem que ser deles,
inexoravelmente. Necessário um convencimento robusto acerca disso, através de
todos meios de comunicações, do Estado e dos entes privados. O bem-estar
coletivo necessita de um projeto grande e convergente – e todos podem e devem
participar dessa mudança social.
Assim, a efetiva revolução se dá
no nível espiritual, ou, melhor cultural. A revolta armada, a tomada
compulsória, a guerrilha civil, são elementos instabilizadores, que contam com
tempo diminuto de vida. Fracassam, hora menos hora.
O processo verdadeiro para
desmonte do sistema capitalista, do mercado opressor, do poderio da classe
burguesa, da mudança das superestruturas, constituem-se em processo demorado e
de longo-prazo; eis que a disseminação, a implantação ideológica, e a percepção
dos resultados é de obtenção postergada, consumindo gerações. Mas traz consigo
a afetividade e, muita vez, a irreversibilidade.
Não é mister a existência da lucidez
ou clarividência políticas ou de uma análise
poderosa da situação. É possível vislumbrar detalhadamente esse processo.
O projeto de poder ou assalto ao
Estado, em curso, é estratégia de prazo longo, ora adormecida, ora posta em
mais franca atividade. Sob Governos anteriores ditos de “centro esquerda” ou “neoliberais”,
o projeto estava um pouco mais latente, dado que comprova isso é a atitude
sóbria, reconheçamos, do ex-presidente Fernando Henrique em comparação com a ridiculamente
ativista (no pior sentido da palavra) de Luís Inácio, que comanda um diretória
à parte dentro do Governo atual. Nada mais anti-republicano e vergonhoso.
A arregimentação de tantos
quantos forem necessários em qualquer instância social e a extinção da oposição
parlamentar já fazem parte de uma realidade nua a crua, observável macroscopicamente,
a olho nu, sem necessidade de muita teoria.
O cardápio de ação é amplo: tentativas,
sempre presentes, de reescrever a História, personalismos messiânicos (há um
corrupto com nível de aprovação elevadíssimo), gasto social elevado, sem
maiores contrapartidas e uma técnica semiótica e discursiva excelentemente
elaborada.
Essa convergência deve ser a mais
ampla possível a fim de que a hegemonia se autocomplete. Veja-se que o M.S.T.
foi um agrupamento que se beneficiou muito da estratégia, e que vez ou outra, pinça
uma divergência tosca, muito da mentirosa, para ludibriar e assim inculcar uma
insatisfação com o Governo que o banca paternalmente, ao mesmo tempo que o
movimento recebe generosas verbas para danificar propriedades privadas.
O palco universitário foi
devidamente tomado, e as escolas particulares já permitem esse tipo de
contaminação ideológica. A oposição congressual foi sufocada em nome de um pragmatismo
esquizofrênico, de “todos pelo Brasil” ou idiotices análogas. Não há sequer um
freio. A não ser poucos intelectuais brasileiros que se dedicam gratuitamente e
o fazem com honestidade.
Os monopólios da comunicação já
se dobraram de há muito, de maneira desavergonhada.
O “Grande Irmão”, no estilo
orwelliano, não pode se mostrar tão grande assim, mostra-se necessário,
eficiente, social, popular, que luta por melhorias sociais e repele qualquer
tentativa do tipo “conservadora” ou “neoliberal” (dica: cada vez que ler esse termo
sem aspas, feche o escrito – é puro charlatanismo intelectual).
Maciça presença de controle
burocrático e sempre a criação de mais órgãos, secretarias e ministérios. É o
Governo popular, que olha para o pobre, que luta por mais direitos.
A divulgação permanente do
Governo do povo tem que ser mais ampla possível; quanto mais ONGs e sociedades
de interesse público (alguns interesses não tão públicos assim) melhor para o establisment.
A mentalidade revolucionária pretende
fazer a tomada e repartida do butim, sem pressa, mas com grande concretude e efetividade. E o meio não é hostil para recepção dessa
mentalidade. Somos um país primário, com uma democracia jovem, subconstitucionalizado,
com abertura política e econômica recente, de baixíssimo nível cultural, com
uma classe política populista e analfabeta. O vento sopra muito a favor, e o
barco revolucionário prossegue em velocidade de cruzeiro, sem maior
intercorrências.
Falácias oportunistas são
comemoradas, movimentos populares são tipos como manifestações de uma
democracia madura que se insurge contra abusos ou ilegitimidades.
Um analfabetismo do tipo econômico
choca os mais leigos, que somente podem por a conta disso nessa estratégia
sutil de feitio gramsciano.
Intra muros, a maior prova empírica do trabalho em busca do
controle estatal perene está descrita na Ação Penal 470, no STF, o chamado “mensalão”.
Em debates jurídicos duradouros e, com boas premissas e discussões profundas, pudemos
ter ideia do pragmatismo e modus operandi
dos agentes governistas. Como se deu, e, em meu entender, ainda se dá, o jogo
do poder. Foi didático e um grande alerta para a sociedade.
Extra muros, a sociedade sendo bestializada e os últimos resquícios
de uma pulsão de cidadania estão sendo
arremetidos para o lóbus do inconsciente, gerando “zumbis políticos”, de espectro
esquerdista, demandistas, pseudo- democrático.
Os conformados e adesistas são
peças de extrema utilidade e, portanto, indispensáveis.
Como vimos, o esquema de poder
não prescinde daquele adesionismo (consciente, evidentemente). Assim não há que
se negar qualquer tipo de apoio, por pior que sejam. Lembram-se daquela foto de
um corrupto paulista, abraçado com um corrupto nacional em um jardim de uma
residência? Foi um case muito
didático.
Não há projeto de Governo, há
projeto de poder - coisas escandalosamente diferentes.
A jurisprudência formada no bojo
de um Estado, o esquecimento do Governo, a estadolatria e a partidolatria, que
são seitismos de caráter fascista
A força desse Estado pode ser vista
em algumas medidas totalitárias recentemente tomadas, e que desvirtuaram forças
produtivas do Brasil e incrementaram a crise interna, promovendo desemprego,
pessimismo e debandada de investimentos. Essas medidas tiveram intensa
propaganda, e por isso, um apoio popular enorme, estando assim,
democraticamente respaldadas e legitimadas.
O desmonte de todos os pilares
que sustentavam nossa estabilidade política, econômica e social estão sendo efetivados
por essa corja burocrática que sentou o rabo em cima do Poder e de lá não
desejam bater a retirada.
Esses pilares sofreram e sofrem
diuturnamente ataques perversos. A liberdade imprensa, a alternância do poder,
a estabilidade econômica, a ética na coisa pública (mensalão e escândalos
governistas diários).
O caso da PEC que submetia
qualquer julgamento do STF ao Congresso foi escandaloso e inolvidável. Uma
tentativa maquiavélica de desmonte da nossa Tripartição de Poderes.
A impunidade dos agentes desse
movimento em curso chegou a ser cogitada, por meio da PEC 37 , que subtraia
poderes investigatórios do Ministério Público.
A neutralidade da comunicação – com
dinheiro maciço saindo do bolso do contribuinte e indo para blogs e sites
propagandearem falsamente grandes feitos do Governo e tripudiar com reputação
de opositores do “Grande Regime”. A situação vai além do absurdo.
É a destituição de um Estado para
a formação de um Governo hegemônico, revolucionário e fruto de um consenso
amplo e de uma democracia farsesca e pseudo-legitimada por contaminados com
ideologias, disseminadas essas por todos os órgãos de difusão de conhecimento,
informação cultura e Saber.
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