Gustavo
Miquelin Fernandes
Tendo
um contingente populacional de cerca de 17 milhões de pessoas,
situado na costa pacífica, governado por uma República que emprega
o sistema presidencialista e comandada por Sebastian Piñera,
portando um alto nível de desenvolvimento humano e a maior renda per
capita da América sulista, o Chile é um país que pode se arrogar
no direito de dar lições a seus vizinhos, e isso sem ofender a
soberania dessas nações e sem nenhum tipo de constrangimento.
“Não
há socorro a quem dorme” - da sabedoria latina, e este pequeno e
estreito país, não teve sono e tratou logo de fazer o dever de
casa, empreendendo reformas importantes e lançando- se, sem muitas
cerimônias, a país já de desenvolvimento muito adiantado, e ao que
tudo indica, vai continuar progredindo.
E
isso, apesar da coalizão esquerdista de Bachellet, favorita à
próxima eleição, já que toda comunidade chilena se deu conta do
avanço liberal e não pretende pôr tudo a perder.
Fato é
que o Chile não é mais um país de “perfeitos idiotas
latino-americanos” – em homenagem à excelente livro de três
autores bem conhecidos, que esquadrinham a débâcle desse
continente atrasado.
Na
verdade, para o país seria mais conveniente uma coalizão mais
liberal, onde lá nominam “conservadores” ou “centro-direita”,
eis que, nesta específica matéria, quod abundat non nocet –
o que abunda não prejudica.
Estar
inserido no cone latino não é atestado de inviabilidade total de
desenvolvimento, em absoluto.
O
Chile provou isso e - com um corte liberal e sem contaminação da
perfeita idiotia continental que grassa em terras de Simón Bolívar
- subiu em ombros de gigantes e agora acena para os latino-marxistas,
cheios de complexos, frustrações, atrasados e demandistas.
Esse
país está, na média, em sétimo lugar no ranking de liberdade
econômica, precedido apenas por Canadá, Suíça, Nova Zelândia,
Austrália, Singapura e Hong Kong. Surpreendente essa fato!
Tudo
começou na ditadura, que é sempre uma ditadura, inexoravelmente.
Sempre execrável e deve ser repudiada com aguerrido vigor. O Governo
Pinochet- década de 70 - durou de 1973 a 1990. Com medidas duras,
sugeridas por um staff tecnocrata chamado “Chicago boys”
(economistas da linha monetária que provinham da Universidade de
Chicago), que se empenhariam para anular todo o arranjo socialista do
Governo anterior, de Allende.
Aqui
uma observação: há quem prega a necessidade de um regime político
mais duro para enfrentar certos arranjos na estrutura do Estado. Eu
me posiciono contrariamente, acho perigoso isso, e acredito em meios
alternativos, com revestimento mais democrático. Reitero: toda
ditadura é hedionda e não deve haver saudosismo.
E mais
um apontamento: Milton Friedman nunca foi consultor de Pinochet; isso
é a mais pura lenda.
Mas
quê fez o Chile, um exportador de cobre, país desindustrializado,
para dar esse salto notável?
A
resposta tem raízes no período do referido ditador, contudo os
tecnocratas integrantes do Governo acertaram na receita: liberdade
econômica.
A
crítica diz que o Chile, tal qual o México é um penduricalho dos
EUA. Mesmo? Será que a população não desfruta de um melhor nível
de vida que da Venezuela, que está com perigo de sofrer um apagão
elétrico gravíssimo? De Cuba, com seu nível de saúde lamentável,
com idosos morrendo ao chão; com uma frota de veículos jurássica;
com corrupção em níveis alarmantes e 15 dólares ao mês de
salário? Será mesmo?
O
Chile tem promovido uma grande abertura do seu comércio, seguindo a
inevitável onda globalizante, destino de todos os players
internacionais, hora menos horas. Esse país também possui um
sistema previdenciário privado. Também sofreu, na década de 80,
uma onda agressiva de privatizações, patrocinada pelo ministro da
Fazenda, Hernán Buchi. O Chile adota também uma política de
redução tarifária que embala o livre comércio.
Concluímos
que esse país está muito próximo do liberalismo econômico.
Lembrando
também que Pinochet devolveu terras confiscadas pela ditadura do
marxista Salvador Allende, que acreditava numa “via chilena para o
marxismo” e que por três anos tentou coletivizar os meios de
produção, sendo obstado pelo um golpe militar, que se transformou
em uma ditadura, conforme já descrito.
Assim,
o Chile fez e continua fazendo com seriedade sua lição de casa e
seu povo colhe os frutos. Esse é o verdadeiro “Estado do Bem Estar
Social”, queiram ou não.
Esse
pequeno país entendeu que o liberalismo se converte em progresso sem
revoluções ou quebra de ordem; apenas com reformas estruturais no
bojo de um Governo democrático e constitucional.
Compreendeu
também que mercados excessivamente regulados e com Estados
arbitrários e intervencionistas causam crises sistêmicas. Podemos
afirmar, neste sentido: o que causou o crash de 1929 nos EUA
foi o próprio Governo, excessivamente intervencionista.
A
juventude chilena também chama atenção; lá eles não vão às
ruas, protestar para andarem de ônibus gratuitamente ou terem
direito à meia-entrada em eventos e espetáculos públicos, e sim,
por melhorias na educação. Naquele país, a carga tributária ainda
é alta, e o peso do Estado também é, relativamente. Justo
pleitearem por melhoras no serviço público. Isso é muito notável.
O
Brasil tem muito a aprender com esse país, que fez a lição de casa
e é, de longe, o melhor aluno da sala.
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