Ó, mais-valia! Onde foste fixar moradia fixa desde que teu criador, Karl Marx, te deu existência!
Por Klauber Cristofen Pires
Eugen
von Böhm-Bawerk foi um dos economistas contemporâneos ao patrono do socialismo
que mais brilhantemente a refutaram. Böhm-Bawerk teve de o mérito de discernir
entre o valor presente e o valor futuro, demonstrando que o valor pago ao
trabalhador consistia no pagamento (garantido) de valor presente, enquanto que
ao empresário o lucro adviria dos juros esperados pelo recebimento incerto e em
momento futuro.
Com
efeito, a argumentação de Böhm-Bawerk tem sentido: Quem não tem dinheiro
suficiente hoje para comprar uma casa, por exemplo, há de financiá-la
remunerando o verdadeiro dono do dinheiro com juros. Não há nada de injusto
nisto, uma vez que o dono do dinheiro poderia, por exemplo, abrir uma loja ou
iniciar uma criação e ganhar dinheiro com o fruto do seu investimento.
Todavia,
eu tenho uma objeção a fazer ao célebre austríaco: ele levou a sério demais as
picaretagens de Karl Marx. Agiu como um autêntico gentleman, reconheço,
mas é que às vezes me parece que ao darmos uma atenção tão cuidadosa a pulhas
corremos o risco de fazer com que sintam possuir uma desmerecida importância ao
passo nós mesmos descemos um degrau de nossa seriedade. Parece-me que pode ter
sido mais ou menos por aí que o socialismo, como um movimento político,
prosperou.
Fato é
que a teoria da mais-valia não merece realmente crédito algum, nem sequer por
suas premissas mais básicas: não passa de uma pegadinha, a pegar tolos incautos
que não percebem a total falta de nexo, e a servir de cavalo de São Jorge aos
espertos que viram nela a oportunidade de ascensão por outra via que não o
trabalho honesto.
Na
verdade, não há nenhuma comparação possível entre o trabalho autônomo e o
trabalho assalariado. Basta percebermos que nas modernas empresas surgiram
inúmeros cargos e profissões especializadas bem remunerados que simplesmente
não existiam antes da revolução industrial.
O
empresário não rouba o trabalho de um autônomo. Este, avaliando seus próprios
interesses, é quem decide abandonar sua incipiente oficina e candidatar-se ao
emprego oferecido por aquele, ou de outro modo seguirá com seu ofício por conta
própria. Não há que se falar em roubo se alguém tem tanto a possibilidade de
escolher quanto de posteriormente arrepender-se e voltar atrás.
Convém
salientar que não foi somente Böhm-Bawerk que refutou a obra do filósofo
alemão. A bem da verdade, suas idéias tresloucadas não tiveram receptividade
quase nenhuma em seu próprio tempo, tendo sido falseadas por inúmeros
pensadores sérios, por várias linhas de raciocínio, de modo que o irascível
Karl Marx teve de recuar e recuar até um ponto onde ele “admitiu”, como uma
forma de não dar mais o braço a torcer, que os empresários roubavam apenas “a
última hora” dos trabalhadores. Patético, considerando o quanto a natureza e a
complexidade das inúmeras profissões, bem como das jornadas dos trabalhadores,
divergiam enormemente.
Aqui
se faz oportuno relembrar o caráter desonesto de Karl Marx, ao publicar os
dados dos livros anuários estatísticos do parlamento inglês de maneira
invertida, isto é, trocando os dados de trinta anos antes com os dados então
atuais, como meio de demonstrar que a exploração do trabalho dos operários
estava levando-os a um caminho de empobrecimento, quando, em verdade,
demonstrava que estavam prosperando.
Ludwig
von Mises asseverou o quanto a propaganda da exploração dos trabalhadores
durante a época da revolução industrial representou uma das maiores mentiras da
história, no que aqui convido, você, leitor, a refletir comigo: Ora, quem eram os operários ingleses,
incluindo as mulheres e crianças, antes de trabalharem nas fábricas? Eram
famintos e doentes, que vinham paupérrimos das propriedades rurais onde
passavam a vida com uma única muda de roupa e cuja alimentação resumia-se a
repolho. Como calçados, essas pessoas usualmente faziam uso de um trapo velho
enchido com palha e amarrado às pernas, ou senão passavam a vida descalças
mesmo. A única perspectiva de sair daquela realidade seria alistar-se no
exército ou na marinha real, para arriscar a vida em prol da esperança de
alguma aventura bem-sucedida, pilhando outros povos de além mar.
Pois,
pela primeira vez na história, estas pessoas passaram a contar com a
possibilidade de terem calçados e melhores alimentos, bem como o acesso a bens
de consumo que até os reis e nobres de outrora não possuíam, tais como remédios
modernos e eletricidade. Seus filhos foram enviados às escolas, e os empregos
foram ganhando postos de complexidade até então inexistentes, com salários de
maior valor.
Sem
ser um segredo para ninguém, a realidade de hoje mostra o quanto as pessoas
trabalhadoras dos empregos mais básicos nos países desenvolvidos recebem uma
remuneração digna o suficiente para morarem bem, cuidarem da saúde, educarem-se
e divertirem-se e até mesmo adquirir bens que nos países do terceiro mundo são
considerados luxuosos. Nos Estados Unidos, por exemplo, um Honda Civic é
considerado um carro de empregada doméstica.
Cá
estamos, todavia, em um momento da história em que só é capaz de renegar as
catástrofes ocorridas nos países onde a experiência socialista se fez mais
intensa quem é igualmente capaz de sufocar a própria consciência.
Vejam
o relato de uma brasileira que testemunhou pessoalmente o sistema comunista
cubano[i]:
Descobri
que em Cuba você não tem empregados, todos os trabalhadores são funcionários
públicos. Você contrata uma empresa (Cubalse), paga dez vezes o valor que é
repassado ao trabalhador (explorado). Logicamente contratei uma babá no mercado
negro. Pagava a ela US$ 100,00, o que era uma verdadeira fortuna em termos
cubanos, uma vez que esta senhora era enfermeira formada e recebia US$ 10,00 de
aposentadoria e o marido, médico, outros US$ 15,00.
A
família estava numa tal situação de penúria que um dia vi que ela recolheu do
lixo umas peles de frango que eu havia jogado fora, com aquilo ela pretendia
fazer uma canja e estava satisfeitíssima.
O que
esta digna senhora vivenciou e nos legou com seu depoimento datado de 2001
vê-se agora incrivelmente atualizado com a vinda dos médicos cubanos ao Brasil,
pois, sem um pingo de exagero, estas pobres almas trabalham em regime típico da
escravidão, com a diferença que os admitiremos aqui, onde até ontem a liberdade
e a dignidade do ser humano era ainda um valor consagrado.
Agora
vejam: Dando de graça a Karl Marx a sua reivindicação de que os empresários no
sistema capitalista “roubam” apenas a última hora do trabalho dos seus
operários, estes então receberiam a 38ª parte de 44 ao total, considerando uma
jornada semanal de 44 horas. Isto significaria que os operários recebiam, no
século XIX, algo como 86% do valor dos produtos ou serviços. Como se pode
perceber, o socialismo inverteu a relação do valor trabalho-produto, com o
agravantíssimo de que um operário de um país comunista não tem como escolher
outro patrão e que seu patrão único o estado, toma-lhe não apenas a maior parte
dos frutos do seu trabalho, quanto também de sua vida privada, tornando-o um
ser completamente despido de dignidade e liberdade.
Toda a
teoria fundamental marxista-socialista-comunista acabou se tornando ela própria
aquilo mesmo que ela acusou haver no sistema capitalista. Por exemplo, jamais
existiu uma “superestrutura capitalista”, isto é, um complexo de estruturas de
pensamento que justificassem o sistema econômico capitalista e proibissem
qualquer outras idéias de prosperar, até porque um sistema capitalista é um
termo impróprio: o que existe é a sociedade livre, na qual cada um é capaz de
defender suas convicções. A maior prova disso foi justamente a emergência da
teoria marxista. No entanto, existe sim uma superestrutura marxista, dado que
em todos os países onde vige o sistema socialista permite-se apenas um único
partido, e que qualquer mínimo rastro de dissidência pode ser punida
severamente.
Portanto,
você, leitor, que acabou de ler este texto, pode se considerar doravante apto a
endossar as teorias marxistas, mas agora aplicadas aos próprios socialistas.
[i] O preço que paguei por
acreditar em Cuba foi alto demais:
http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=20384384#editor/target=post;postID=8963603793311718289;onPublishedMenu=posts;onClosedMenu=posts;postNum=2;src=postname
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