quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Um médico cubano é melhor do que nenhum? Sim, mas, e se este “nenhum” tiver sido providencialmente produzido?

  
O colunista Gilberto Dimenstein, da Folha, militante fantasiado de opinante isento, tenta confundir a população sobre o caso dos médicos cubanos, mas são argumentos são ridiculamente insustentáveis.  

Por Klauber Cristofen Pires


Caro leitor, você tem ideia de como um peixeiro desonesto consegue se livrar do pescado podre? É simples: mistura-o entre os peixes bons para consumo. Quem leva um lote, acaba sempre levando pelo menos um imprestável. Assim tem sido como Gilberto Dimenstein, na Folha de São Paulo, tem tratado o caso da vinda dos médicos cubanos: misturando fatos reais com mentiras e dissimulações, mas numa relação bem maior do que dos peixeiros mais inescrupulosos.
Refiro-me especialmente aos seus artigos “Por que apoio os médicos estrangeiros[i]” e “Debate sobre os médicos me dá vergonha[ii]”.  Vamos avaliar o que diz este jornalista:
Sei que o governo federal lançou o projeto Mais Médicos de forma improvisada como uma resposta às manifestações de rua.

Também sei que os problemas da saúde são complexos e apenas colocar médicos em cidades distantes não é a salvação.

Para acrescentar, devemos considerar que Alexandre Padilha, ministro da Saúde, é candidato ao governo de São Paulo --o que costuma trazer ingredientes eleitorais para uma questão técnica.


Esta introdução acima serve como engodo para desarmar o espírito dos leitores; é uma concessão que o jornalista faz em face do incontestável, como forma de transformar um limão em uma limonada. Apenas uma ressalva: os problemas da saúde podem ser complexos, mas a verdade mais plena é que os governos Lula e Dilma tiveram quase onze anos para ao menos melhorar os indicadores, mas que, entretanto, o pioraram sofrivelmente, tanto no sistema educacional – comentarei isto melhor adiante – quanto no sistema de saúde propriamente, haja vista terem reduzido sensivelmente os investimentos e diminuído a oferta de leitos hospitalares em mais de 10%, ou, em números absolutos, mais de 41 mil leitos hospitalares.
Mesmo assim, apoio a vinda de médicos estrangeiros porque é melhor algum médico do que nenhum médico.

Lembremos que a vaga foi oferecida a brasileiros, com uma bolsa de R$ 10 mil mensais mais ajuda de custo - o que é mais do que ganha um professor universitário no topo na carreira.
Se a vinda dos cubanos não estiver arranhando a lei local, ótimo. A formação de médicos em Cuba é respeitada internacionalmente.

Ou seja, não é a melhor solução, mas é alguma solução para os mais pobres sem acesso à saúde.

É melhor um médico falando portunhol do que nenhum médico falando.

Minha suspeita é que a reação de associações médicas - em alguns casos um tanto histéricas - estão mais ligadas aos interesses (ou supostos) da corporação do que do cidadão.

De fato, é melhor “algum médico do que nenhum médico”. No entanto, as condições deploráveis a que o sistema público de saúde foi submetido, isto é, piorado mais do que já era, criaram as condições objetivas para a medida “emergencial” de importação de médicos cubanos. Fazendo uma comparação, seria como se o governo socorresse vítimas de um naufrágio atirando-lhes bóias salva-vidas, sendo que ele mesmo sabotou o navio.
Quanto à oferta de uma “bolsa” (é bolsa ou salário?) de R$ 10.000,00 (dez mil reais), é oportuno salientar que o governo brasileiro está a pagar não dez mil reais, mas R$ 21.291,66 (vinte e hum mil e duzentos e noventa e hum reais e sessenta e seis centavos), de acordo com o blog do ex-prefeito carioca (DEM) César Maia. Será que um salário deste não seria realmente convidativo?
Ah, e a vinda dos médicos cubanos fere a lei, sim. Melhor, fere as leis e principalmente, a Constituição, haja vista que estes seres humanos cubanos continuarão submetidos em solo pátrio a todas as restrições à liberdade que vigoram na ilha-cárcere. Segundo o que tem acontecido nos outros países onde tais convênios foram firmados, a liberdade de ir e vir desses médicos resume-se ao percurso trabalho-alojamento. São confinados incomunicáveis e sem direito a visitas íntimas; no limite, não têm um pingo de privacidade nem sequer para acocorarem-se no cantinho de um banheiro para chorarem por sua condição deplorável, porque entre eles há capatazes vigiando-lhes dia e noite seus passos, suas falas e até seus sonhos.
Agora, é verdade que as entidades médicas, em especial o Conselho Federal de Medicina, estão praticando o corporativismo? Sim, isto é plenamente verdade, e tão verdade quanto o corporativismo sindicalista tem sido incentivado pelas esquerdas até o momento atual, onde ora é tratado como inconveniente: é hora, pois, de promover os necessários expurgos.
Mas vamos agora ao segundo artigo:
O perfil dos médicos cubanos é o seguinte: em geral, eles têm mais de uma década de formados, passaram por missões em outros países, fizeram residência, parte deles (20%) cursaram mestrado e 40% obtiveram mais que uma especialização.

Para quem está preocupado com o cidadão e não apenas com a corporação, a pergunta essencial é: essa formação é suficiente?

Aproveito essa pergunta para apontar o que vejo como uma absurda incoerência - uma incoerência pouca conhecida da população - de dirigentes de associações médicas. Um dos dirigentes, aliás, disse publicamente que um médico brasileiro não deveria prestar socorro (veja só) se um paciente for vítima de um médico estrangeiro. Deixa morrer. Bela ética.

Provas têm demonstrado que uma boa parte dos alunos formados nos cursos de medicina no Brasil não está apta a exercer a profissão. Não vou aqui discutir de quem é a culpa, se da escola ou do aluno. Até porque para a eventual vítima tanto faz.

Mesmo sendo reprovados nos testes, os estudantes ganham autorização para trabalhar.


Como um jornalista de um jornal de grande circulação, o autor poderia citar de onde tirou tais números. No entanto, vou colocar aqui alguns argumentos bastante simples que podem colocar em dúvida a qualidade da formação desses profissionais:
Por primeiro, e respondam-me aqui aqueles com conhecimento de causa: tem sido comum encontrar artigos científicos de médicos cubanos em revistas especializadas? Posso razoavelmente chutar que nenhuma ou quase nenhuma publicação relevante internacional tem sido produzida por médicos cubanos, digamos, nos últimos vinte anos?
Adiante: um sistema de saúde não se compõe somente de médicos, mas de equipamentos, remédios, bem como de outros profissionais auxiliares. Quem pode suprir um sistema de saúde de qualidade, público, privado ou misto em qualquer relação, é um país onde esta infraestrutura possa ser fornecida pela indústria nacional ou estrangeira, daí ser necessário ser dono de uma economia relativamente pujante. Cuba é um país miserável, de modo que é muito duvidoso que os alunos e médicos tenham tido algum contato com coisas desde seringas e luvas descartáveis ou auto-inutilizáveis, remédios de última geração, como, tanto ainda mais incrível, com aparelhos de tomografia ou ressonância magnética.
Para terminar, e à vista grossa: o que falar dos recorrentes casos de vacinas cubanas absolutamente sem efeito, bem como do patético anúncio da cura para o câncer, pelo governo cubano? Como que nações que aplicam bilhões de dólares em pesquisas, muitas delas realizadas com parcerias e trocas de informações, poderiam ser surpreendidas por uma ilhota faminta onde falta até papel higiênico?
Sobre a alegada má-formação dos médicos brasileiros: será que os dados fornecidos pelo articulista são confiáveis? Afinal, os cursos de medicina são os mais concorridos do país, o que nos leva a entender que são os candidatos mais preparados os que logram conseguir as vagas. Ademais, o Brasil tem uma boa reputação internacional quanto à qualidade dos seus médicos, sendo muitos deles famosos e respeitados. Agora, algo pode sim, estar concorrendo para a deterioração desta realidade: a substituição do ingresso na universidade pelo mérito pelo ingresso por motivos ideológicos, como são as cotas para negros, alunos da rede pública e até mesmo os suspeitíssimos cursos como os ministrados em escolas e universidades do MST; enfim: tudo obra do PT.
Mais uma vez, o Sr Dimenstein joga para o alto: Provas têm demonstrado que uma boa parte dos alunos formados nos cursos de medicina no Brasil não está apta a exercer a profissão”... “Mesmo sendo reprovados nos testes, os estudantes ganham autorização para trabalhar”. Que provas foram estas? O que se vê aqui, percebam, é uma tentativa de valorizar a obscura formação dos médicos cubanos com outra, em direção contrária, no sentido de desmerecer a dos brasileiros, com o fito de nivelá-las. Vergonhoso!
Ao final:
Por que essas mesmas associações, tão furiosas em atacar médicos estrangeiros, não fazem barulho para denunciar alunos comprovadamente despreparados?

A resposta encontra-se na moléstia do corporativismo.

Se os brasileiros querem tanto essas vagas por que não se candidataram?

Será que preferem que o pobre se dane apenas para que um outro médico não possa trabalhar?

Sinceramente, sinto vergonha por médicos que agem colocando a vida de um paciente abaixo de seus interesses.

Aqui o argumento do autor se veste de um argumento verdadeiro para esconder um outro, maliciosamente oculto. Corporativismo, existe, tanto é que o CFM nenhuma vez denunciou que o plano de trazer os médicos cubanos provém de uma deliberação do Foro de São Paulo, e que tem sido planejado pelo governo desde há pelo menos um ano e meio.
Entretanto, em um país livre, um médico tem valor de mercado. Para as carreiras para as quais o estado tem interesse, como são, por exemplo, para as carreiras do fisco, um auditor-fiscal recebe salários superiores a vinte mil reais, sem dizer de outras facilidades e garantias. Recentemente, foi aprovado um adicional de fronteira para os fiscais e analistas federais que trabalham em cidades situadas em zonas limítrofes com outros países.
Qualquer médico, como cidadão, tem o direito de escolher se as condições oferecidas por um concurso são viáveis, porque aceitar trabalhar no interior significa ter de assumir dificuldades com a atualização profissional, e porque uma clientela privada potencial e mais bem remunerada lhe faltará nos momentos em que não estiver em serviço.
O que tem sido bastante divulgado ultimamente é que os médicos têm sido enganados de forma contumaz por prefeitos tratantes, que lhes aplicam o calote depois de alguns meses a serviço, depois de terem-nos aliciado com promessas vantajosas antes das eleições.
“Será que preferem que o pobre se dane apenas para que um outro médico não possa trabalhar?” Por acaso, alguma objeção tem sido feita contra os médicos de outros países que se submeteram ao exame Revalida e a todas as condições legais em vigor, especialmente as trabalhistas e previdenciárias?
Como os leitores podem verificar por si mesmos, este Sr. Gilberto Dimenstein joga com a mistificação; atua de forma militante, como porta-voz em favor do governo. Não merece um mínimo de crédito, e desmascará-lo é uma atitude de interesse público.

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