Novo adiamento da votação do Plano Nacional de Educação na Câmara dos Deputados. A sessão foi tensa, pesada, difícil, um verdadeiro combate espiritual.
Por Hermes Rodrigues Nery
Ainda na manhã da terça-feira, na Comissão de Constituição e Justiça, enquanto aguardávamos a liberação do plenário para o início da sessão de votação do Plano Nacional de Educação, o deputado petista Molon (relator na Câmara, do Marco Civil da Internet), segurou o braço do deputado Marcos Rogério, dizendo num tom meio ameaçador: "me queira bem, deputado!", não colida comigo, divirja em algum outra questão muito pontual e raramente, mas não colida, me queira bem! Marcos Rogério não se intimidou com isso e continuou firme em sua posição contra a ideologia de gênero no PNE, não apenas com o uso da palavra, mas nos encaminhamentos de requerimentos que se faziam necessários.
O fato é que o ambiente naquele dia estava muito carregado, nunca havia sentido um ar tão pesado a prenunciar uma sessão muito tensa. O plenário estava cheio de deputados e assessores, e o pessoal da UNE foi chegando e tomando os lugares, em vários pontos. Pe. Pedro Stepien chegara cedo também, e fazia a leitura do seu breviário.
Estávamos próximos da fileira permitida pelos seguranças, e o pessoal da UNE encostou-se quase colado a nós. Um brucutu deles ficou praticamente encostado comigo, de costas, enquanto ficamos aguardando acabar a sessão que estava transcorrendo, já passava das treze horas, para que pudesse começar a da votação do PNE.
Vieram nos dizer que o Presidente da Câmara dos Deputados já estava na Casa e aguardando dar quorum para começar a sessão no grande plenário, e se isso ocorresse, cessariam as sessões deliberativas nas Comissões, adiando mais uma vez a votação do PNE.
Outra desinformação lançada foi a de que talvez a sessão não ocorreria mais no plenário 1, aonde estávamos, mas no 2, ao lado; ao que muitos provida foram para lá, abrindo mais campo para o pessoal da UNE ir adensando volume no plenário 1.
Continuamos, no entanto, no mesmo lugar, no aguardo de poder ocupar os assentos, com as nossas faixas, espaço aquele também disputado pelo pessoal da UNE, que queria ficar também bem perto dos deputados, para na hora da votação, exibir suas faixas e poder soltar seus gritos de guerra. E, aos poucos, o brucutu ia falando no seu celular e mais gente da UNE ia entrando, enquanto os provida ficaram lá fora, alguns no plenário 2, aguardando.
Foi quando vieram nos dizer que o segurança avisou que éramos para deixar a sala, pois que assim que acabasse a sessão, ele fecharia as portas, e reabriria somente às 14h30, para o início da votação do PNE, como fizeram na sessão anterior. Intuímos que aquilo era um blefe, mas para não desatender o que o segurança solicitara, deixamos a sala, e ficamos no aguardo logo na entrada. Mas o pessoal da UNE não saiu, pelo contrário, não demorou muito para encher o plenário, ocupar quase todos os lugares, quando outro segurança, meia hora depois, questionado se a sala seria fechada, disse que não precisaria fechar, porque a sessão estava para começar.
Quando questionado que haviam solicitado aos provida saírem, porque fechariam a sala, conforme feito da outra vez, o segurança respondeu que iriam fechar, mas que a sessão já começaria e não haveria necessidade mais daquele procedimento.
Os deputados já estavam na mesa, o Presidente, o relator e os demais, e quando a sessão começou, os provida entraram e se espalharam pelas laterais, uns aqui, outro ali, com o plenário já quase inteiramente tomado pelo pessoal da UNE. Muito rapidamente alguns conseguiram ainda assentos no meio deles, e não foi possível, dessa vez, ficarmos mais agrupados, daí que, ao menos no início da sessão, a UNE estava com mais força para se manifestar. E assim que o Presidente abriu a sessão, eles interromperam com seus gritos de guerra por uma educação libertária e anárquica, livre da moral cristã.
"Por uma educação que promova os verdadeiros valores da família!" |
No meio deles, permanecia o valente Pe. Lodi, sempre de prontidão no campo de batalha. A evangélica Rosângela Justino erguia dois pequenos cartazes: "PNE sem ideologia de gênero e a orientação sexual". E ainda: "Os cristãos vão se lembrar de V. Excia. nas eleições". O líder LGBT Toni Reis parou para discutir com a psicóloga Marisa Lobo. Também do outro lado, duas feministas tentavam jogar suas faixas cobrindo as que a liderança provida de Minas Gerais, Adrian Paz, empunhava, com apenas duas palavras: "Gênero, não!". Alguns jovens pró-vida conseguiram entrar mais para dentro do plenário e foi se juntando, mesmo em meio ao pessoal da UNE, e responderam aos gritos de guerra deles, dizendo também: "Educação, sim! Gênero, não!"
O interessante a ser observado é que ao conversar com alguns jovens da UNE, muitos quase não sabiam explicar bem porque estavam ali. No máximo respondiam com chavões e frases feitas, dizendo que defendiam 10% do PIB para a educação pública. Sobre as questões de gênero não sabiam do que se tratava, mas que eles eram contra o preconceito, o racismo e o fascismo. "Mandaram a gente vir aqui, mas não sabia que eles querem acabar com a família na rede de ensino", respondeu outro, interessado em entender afinal do que se tratava a questão de gênero. Lembrei as palavras de João Paulo II: "Uma liberdade sem responsabilidade constitui-se a antítese do amor". E mais, conforme a Gratissiman Sane: "No contexto da civilização da exploração, a mulher pode tornar-se para o homem um objeto, os filhos um obstáculo para os pais, a família uma instituição embaraçante para a liberdade dos membros que a compõe. Para convencer-se disso, basta examinar certos programas de educação sexual introduzidos nas escolas, não obstante o frequente parecer contrário e até os protestos de muitos pais; ou então, as tendências pró-abortivas que em vão procuram esconder-se atrás do chamado 'direito de escolha' (pro choice) por parte de ambos os cônjuges e particularmente por parte da mulher".
Ao incluir a ideologia de gênero no Plano Nacional de Educação querem dar legalidade a esta "nova antropologia" ou "pseudo antropologia", que quer impor às nossas crianças, nas escolas, a utopia do igualitarismo, cujo hedonismo conduz à inteira desumanização. Era possível então, mesmo aos gritos de guerra e os pronunciamentos dos deputados, conversar com eles e esclarecer algumas dúvidas, ainda também de alguns deputados. Realmente, havia uma mistura e uma confusão conceitual no discurso não apenas dos jovens da UNE, como também dos deputados que fizeram uso da palavra para debater o PNE, especialmente na sessão do dia anterior, quando houve mais de 40 inscritos para falar.
Um deles, o deputado comunista Chico Lopes (PCdoB/CE), disse se orgulhar de aos 74 anos de idade ser marxista convicto e defender as bandeiras libertárias e emancipacionistas. Era preciso, segundo os deputados governistas, combater a discriminação, o preconceito e o fundamentalismo. Com isso, fugiam do cerne da questão, que é exatamente o apelo à não-discriminação como retórica para justificar a promoção de uma ideologia que nega a natureza humana, e quer estimular nas escolas, desde a mais tenra idade, o anarquismo sexual, discriminando, sim, os princípios e valores cristãos.
As falas dos deputados se estendiam, principalmente os da base governista, interrompidos às vezes por gritos de guerra de ambos os lados, bradando: "Vota, vota!" O relator propôs primeiro a votação do PNE por inteiro, depois os destaques. Mesmo assim, havia uma impressão de que interessavam protelar ao máximo o início da votação, certamente porque haveria uma incerteza em relação ao resultado, e o governo não queria se arriscar a perder naquela matéria.
Talvez também pela pressão do pessoal da UNE, em peso lá, com seus agressivos gritos de guerra, fizeram o Presidente evitar colocar em votação o quanto antes, pois que o problema seria a votação dos destaques, quando novamente viria à discussão e à deliberação a questão da ideologia de gênero no PNE. Talvez o relator Vanhoni quisesse mesmo postergar, para dar mais tempo ao governo de rearticular com os deputados e buscar uma forma de garantir a aprovação do seu relatório, mantida a inclusão da ideologia de gênero.
Tudo isso tornava a sessão carregada, tensa, pesada, difícil, um verdadeiro combate espiritual. Parecia haver forças malignas no ar, tal o esgotamento físico que se abateu, estávamos de pé o tempo todo, e indo para o lado da outra lateral da sala. A todo instante havia uma tensão de que algum membro da UNE fosse provocar ou se colidir com os jovens provida, enquanto não se avançava para a votação. E novos gritos de guerra emergiam, ensurdecedores, dos dois lados, com vozes já bastante enrouquecidas. E então, ocorreu o que temíamos. O Presidente já iria colocar em votação o PNE, mas ainda houve mais algumas colocações de questões de ordem e encaminhamentos regimentais. Enfim, e, de modo súbito, ele disse que teria de encerrar a sessão, porque o Presidente da Casa comunicou a todos que iria começar a sessão no grande plenário, pois já havia quorum.
Feito isso, o regimento exigiu que os deputados da Comissão fossem para lá. E novamente, tanto o pessoal da UNE, quanto os provida se movimentaram pelo plenário com gritos de guerra e posicionamentos. Em um dos gritos de guerra da UNE, assumiram que o que querem mesmo é implantar o comunismo em toda a América Latina, enquanto o deputado Jair Bolsonaro fez ecoar um sonoro e longo "Vão pra Cuba, vão pra Cuba!" Ainda assim, naquele momento final da sessão, com os ânimos exaltados, e todos misturados por ali, foi possível ver o furor da UNE, com ativistas dispostos a voltar na próxima sessão, marcada para 22 de abril. Ainda antes de sair, lembrei-me do que o deputado petista Molon disse a Marcos Rogério, ainda antes da sessão: ""me queira bem, deputado!", não colida comigo, divirja em algum outra questão muito pontual e raramente, mas não colida, me queira bem!"
Muita oração e pedido de intervenção dos santos anjos!
ResponderExcluirQue o Espírito Santo conceda a esses seus soldados toda a fortaleza e sabedoria necessária!
ResponderExcluirQue os recompense muito por essa luta!
Ironia: Molon, deputado petista do RJ, se diz cristão e foi eleito pelos católicos cariocas.
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