domingo, 24 de janeiro de 2016

Ameaças Reais e Virtuais. Ou: se você quer salvar o planeta, deveria preocupar-se menos com mudanças climáticas e mais com os asteroides. Print

Leio na Folha de São Paulo que a “Nasa (agência espacial americana) criou em janeiro a nova divisão que será responsável por lidar com asteroides e cometas que passem astronomicamente “raspando” a Terra.” A notícia é tão truncada e mal redigida quanto falsa, muito embora o assunto seja de extrema relevância.  Na verdade, o que aconteceu recentemente foi apenas a nomeação do novo “chefe” de um programa que já existe desde 1998 – The NASA Near-Earth Object Program Office.
Malgrado talvez não exista um exemplo melhor daquilo que os economistas convencionaram chamar de “bem público”, são pouquíssimos os países que têm programas governamentais visando à detecção e rastreamento de objetos potencialmente perigosos perto da Terra. Como esse serviço é daqueles que beneficiam diretamente cada um dos habitantes do planeta, praticamente todos os cidadãos fora dos EUA somos “free-riders”, já que nos beneficiamos de um serviço prestado pela NASA sem que estejamos contribuindo para o seu custeio (ainda bem que existem americanos no mundo!).
Como já escrevi alhures, estima-se que exista uma chance em 10.000 de que um grande asteroide ou cometa (com diâmetro maior que 2 Km) colida com o nosso planeta ainda neste século, desmantelando a biosfera e matando uma larga fração da humanidade.  Especialistas estimam ainda que a queda de um corpo celeste medindo apenas 140m de diâmetro já seria suficiente para provocar danos terríveis à vida na Terra.  Como esses corpos menores são bastante abundantes no espaço, a chance de um choque é muito maior.
Apesar dos riscos nada desprezíveis, somente em 2013 foi criado um grupo multilateral (ainda muito incipiente, desconhecido pela imensa maioria dos terráqueos e desprovido de maiores recursos) com o intuito de abordar um problema que pode afetar, de verdade, toda a humanidade, pois o poder destrutivo de um grande asteroide é infinitamente maior que a pior hipótese de aquecimento global, por exemplo.
Como é pouco provável que os líderes da “governança global” não estejam cientes de tudo isso, a questão que se coloca é: por que tanta paranoia com o clima, a ponto de estarmos destinando centenas de bilhões de dólares anualmente para esta causa, e tanto descaso com uma ameaça muito maior?
Eu consigo enxergar algumas razões para essa indiferença com o perigo astronômico e a concomitante supervalorização das mudanças climáticas:
Em primeiro lugar, diferentemente do aquecimento global antropogênico (AGA), o risco de colisão de corpos celestes com a Terra não admite qualquer suposição de vilania dos Estados Unidos. Ao contrário, se o AGA pode ser imputado à ganância consumista dos americanos, no caso dos asteroides eles seriam os mocinhos solitários da história (ou quase solitários, já que há esforços notáveis, embora em muito menor escala, de alemães e canadenses no mesmo sentido), os únicos preocupados em defender o planeta. Por que, afinal, os amantes da Mãe Natureza perderiam tempo com uma questão que não pode servir de esteio para a demonização dos gananciosos capitalistas e seus mais destacados representantes, não é mesmo?
Por outro lado, como os recursos globais necessários para o desenvolvimento de programas “anticolisão” são irrisórios (se comparados – é claro! – com a dinheirama que cientistas e políticos pretendem embolsar com as trombetas climáticas), os impostos potenciais que nos poderiam cobrar seriam modestos, ou pelo menos bem abaixo das expectativas sempre megalômanas dessa gente.
Além disso, programas espaciais desse tipo são daqueles que fazem avançar a tecnologia e, portanto o progresso. Porém, como sabemos, progresso é uma palavra que não faz parte do dicionário ambientalista. Ao contrário, se dependesse deles, voltaríamos à Idade da Pedra e viveríamos como os bons selvagens de Rousseau, caçando e coletando frutos.
Finalmente, aquela que, para mim, é a razão mais forte: para salvar o planeta de um asteroide qualquer, não é preciso ensinar-nos como devemos viver as nossas vidas, se devemos andar menos de carro, viajar menos de avião, economizar a água da descarga ou do banho, construir casas ecologicamente corretas, não fumar, não comer carne vermelha, etc. Afinal, a burocracia intervencionista não se contenta apenas em cobrar cada vez mais impostos. Ela possui uma necessidade atávica de planejar o mundo nos mínimos detalhes. Resumindo, não lhes interessa investir em catástrofes cujas soluções não sirvam para limitar ainda mais a nossa liberdade.

SOBRE O AUTOR

João Luiz Mauad

João Luiz Mauad

João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo.

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