Por Alejandro Peña Esclusa
(extraído do site Mídia sem Máscara)
O Antigo Testamento - à parte de refletir a Palavra - é um livro de história, que constantemente exige uma mudança de atitude dos homens.
Os distintos profetas advertem o povo de Israel - uma e outra vez - de que se não abandonarem seu apego aos falsos deuses, sofrerão severos castigos. Os "falsos deuses" são aquelas atitudes que degradam a condição divina do homem, afastando-o do verdadeiro amor.
E não é Deus quem castiga, senão o homem mesmo, que se causa dano quando opta pelo mal caminho.
As obras clássicas - como por exemplo, o teatro de Schiller, Shakespeare e Cervantes - fazem finca pé no mesmo conceito. Frente a duas atitudes reiterativas do ser humano, há dois possíveis desenlaces: o triunfo épico - como os que Guilherme Tell e Henrique V obtêm -, ou a derrota trágica - como as que sofrem Hamlet e Otelo.
A Venezuela de hoje encontra-se em um ponto crítico de sua história. Creio firmemente que o desenlace será triunfante, porém isso requer uma mudança de atitude, requer que os venezuelanos dêem um passo à frente.
A bonança petroleira trouxe grandes benefícios, entre outros, o desenvolvimento econômico e a conformação de uma ampla classe média profissional, porém também gerou efeitos nocivos, entre eles, a generalização do consumismo e o apego ao material.
Costumo dizer que os hondurenhos puderam derrotar a tempo o Socialismo do Século XXI porque ainda conservam os mesmos valores e princípios que existiam na Venezuela rural de meu pai, que era oriundo de Valera, estado Trujillo.
Embora trate-se de uma cidade moderna, viajar a Tegucigalpa foi como retroceder no tempo até a infância, quando acompanhava meu pai em suas viagens pelo território nacional, e éramos recebidos com um trato simples e hospitaleiro.
No geral, uma ditadura é manejada por um pequeno grupo de "vivos", sem respaldo popular, que se mantém no poder infundindo terror. Perseguem ou encarceram alguns dissidentes, para que o resto dos cidadãos tenha medo de lutar por seus direitos.
O medo surte maior efeito quando, por algum motivo, a sociedade encontra-se debilitada pela deterioração de seus valores. O materialismo e o relativismo impedem que a gente lembre qual é o verdadeiro sentido da vida e a importância de se guiar de acordo com um fim transcendente.
Porém, mesmo assim, é evidente a presença de um emocionante despertar nos venezuelanos. Prova disto são os 20.000 empregados da PDVSA que preferiram perder seus empregos antes que ajoelhar-se. Os donos e empregados da RCTV e da Globovisión, que negaram-se a negociar seus princípios, os milhares de jovens que arriscam sua integridade quando saem para protestar nas ruas, ou os prisioneiros políticos que não negociam, não cedem, não se queixam e não se rendem, entre muitos outros testemunhos que refletem o potencial de resistência que têm os venezuelanos.
Entretanto, para assegurar a democracia e recuperar as liberdades, é necessário que muitos mais compatriotas dêem um passo à frente, seguindo o testemunho dos heróis mencionados. Essa é a forma de romper a estratégia do medo.
Um exemplo recente de desafio à tirania foi dado pelo diário El Nacional, quando publicou a célebre foto que demonstra o avanço da insegurança em nosso país. Ao ser ameaçado pelo regime, outros diários cerraram fileiras publicando a mesma foto em suas manchetes. Foi uma forma de dizer: "Se você se meter com um de nós, vai ter que enfrentar a todos".
Esta atitude valente e solidária se assemelha àquela sustentada pelos estudantes universitários em fevereiro de 1928. Os jovens Rómulo Betancourt, Jóvito Villalba e Pío Tamayo, entre outros, desafiaram a ditadura do general Juan Vicente Gómez, aproveitando a semana do estudante para criticar as características totalitárias do regime. Quando foram feitos presos no Castillo de Puerto Cabello, se apresentaram 200 estudantes mais, em frente ao "quartelzinho" de Caracas, e pediram para ser igualmente encarcerados. Embora, com efeito, tenham sido detidos, Gómez ordenou pouco depois que os soltassem a todos. Não lhe convinha ter tantos presos políticos ao mesmo tempo. Assim estreou a chamada "Geração dos 28".
Frente ao tirano, o pior conselheiro é o medo porque só favorece a permanência do regime no poder. Em troca, os desafios pacíficos e generalizados, como os casos acima mencionados, surtem efeitos devastadores nos governos totalitários.
Pressinto que se aproxima a hora em que a sociedade venezuelana recorrerá ao melhor de si, aos episódios mais inspiradores de sua história, a seus direitos inalienáveis e atuará como um só homem para defender o futuro de seus filhos. E quando isso ocorrer, não haverá poder humano capaz de deter a recuperação da democracia e das liberdades.
Desde meu "irmão cárcere" quero enviar a meus compatriotas uma mensagem de otimismo: O fim da tirania está próximo! Não tenham medo! Ânimo, tenham esperança!
* Preso político do governo da Venezuela
Presidente de Fuerza Solidaria e UnoAmérica
Tradução: Graça Salgueiro
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