Publicado em 15/03/2014
Quinta palestra do I Congresso de Artes Liberais, realizado em 8 e 9 de março de 2014, em Porto Alegre.
Palestrantes: Marcelo Bihre e Felipe Farinon
Nos comentários abaixo, resumo da palestra e bibliografia.
Palestrantes: Marcelo Bihre e Felipe Farinon
Nos comentários abaixo, resumo da palestra e bibliografia.
ARITMÉTICA, GEOMETRIA E CIÊNCIAS DA NATUREZA
- Quadrivium: quatro artes materiais, do mundo, do cosmos, que complementam as técnicas mais próprias do espírito, da alma, da mente. Foi ainda mais pervertido do que o trivium.
- Captar a natureza e depois de um certo modo agir sobre ela.
- É impressionante o nível de presunção que nós adquirimos com relação ao conhecimento e às artes dos antigos.
- Envolve aspectos empíricos. Isso significa que só tratamos de aspectos mensuráveis, etc? Não, pois Aristóteles já dizia que começa a Metafísica dizendo que a empeiria precede a arte, a technê, quando o sujeito já adquire o hábito de repetição e transmissão viva. Após isso, ainda há o estágio de ciência, o conhecimento das causas.
- Zero não é número.
- A beleza é o que faz a ligação, o que dá a unidade entre a sensibilidade e a inteligência.
- Vídeo: Nature by Numbers. De uma certa maneira, a matemática é o discurso que está por trás da realidade.
- Em cada ser, a matéria do mundo assumiu uma forma, uma estrutura.
- Sendo o quadrivium sendo um meio para alcançar o verum, a aletheia, o desvelamento, a possibilidade de poder enxergar, o amarelo (apresentação do Clístenes).
- Hoje chegamos ao ponto de pensar em "máquinas inteligentes", mostrando não saber nem o que significa "inteligência", nem o que significa "máquina."
- Se a matemática serve só pra abstrações, pra esse mecanicismo, ela necessariamente deve ser redutível a uma série de operações lógicas.
- A própria arte da lógica que chega ao séc. XX se tornou uma "ciência" cheia de problemas, porque foi sendo separada da realidade e das outras artes. A função da matemática era fazer contato com o mundo. Sem isso, os problemas filosóficos se multiplicam.
- "Física" para os antigos: o estudo da natureza como um todo. Todas as coisas que tem "peso, número e medida." (Sab 11, 20) Mas a Escritura também diz que "A Sabedoria edificou sua casa, talhou sete colunas" (Provérbios 9, 1).
- Pitágoras também é um personagem importantíssimo para a tradição das artes liberais, o mais mítico deles. O que nós recebemos dos pitagóricos é que na sua educação eles já haviam colocado um projeto de que as artes liberais, especialmente as do quadrivium, deveriam ser intermediárias. O verdadeiro "Ensino Médio".
- Platão adota isso. Segundo alguns, provavelmente o melhor discípulo que Pitágoras não teve. Para entrar na academia, era necessário ser um geômatra, que de certo modo resumia todo esse itinerário preparatório, com o trivium, etc.
- Um físico moderno diz que "o negócio é baixar a cabeça e calcular." Claro que não, é pra isso que serve o computador, não a mente humana. Não é por menos que não se acredita mais em existência de mente. A idéia de ordem espontânea a partir da desordem. Jogamos Deus fora e inventamos o Big Bang. Um problema ainda gramático, na verdade.
- Chaves e as estatísticas. Um exemplo de "lógica" e "matemática" separadas do senso da realidade.
- Hugo de S. Vitor no Didascalicon falando da sua adolescência: desde pequeno procurava se assegurar dos nomes dos objetos, estudava problemas, inventava distinções, tentando separar opiniões de verdades certas, boa oratória e sofística, e também investiu muitas horas calculando com pedrinhas, as diferenças entre figuras geométricas, observando à noite as estrelas, tocando o magdis grego (uma espécie de cítara de 20 cordas).
- Associa-se hoje A Matemática com matemática escolar. Mera repetição de exercícios, macaqueante.
- Nossa busca é pela episteme verdadeira, as causas profundas das coisas.
- A Física é particularmente representante das ciências da natureza. Quando falarmos de "Física" na Confraria não podemos pensar que estamos estudando a astrofísica ou física newtoniana, nem mecânica quântica.
- Todas as coisas naturais e sensíveis, todos os corpos, podem ser divididas em dois tipos: sujeito e predicado. As coisas que são sujeito: gato, árvore, pedra, pessoa, Renan, Bihre, das quais enumeramos diversos predicados. E os predicados: o Renan é baixo, o Bihre é alto, etc. Todos os predicados necessariamente vêm acompanhados de seus sujeitos. Nenhuma cor pode sequer ser imaginada sem uma superfície colorida, uma coisa, um corpo. O máximo que podemos fazer é imaginar tudo verde, como se o plano de fundo fosse uma superfície verde. Aí temos as substâncias e acidentes.
- Dentre os vários tipos de acidentes, dois particularmente importantes: "quanto" e "qual". Um gato tem 4 pernas, que são partes de um tudo, que é o gato. Este é justamente o assunto da aritmética. Uma quantidade é quantidade de uma coisa do mesmo tipo. 300 páginas de um livro são 300 cópias de uma página. Qualidade é o tipo. "Vermelho". Já a qualidade não pode se fazer apenas da soma das qualidades anteriores. Não podemos obter um vermelho vivo apenas a partir da adição de vários vermelhos desbotados.
- A partir do século XVII, a física passou a usar como método de desenvolvimento principalmente a aritmética. E para isso ela teve o máximo possível o aspecto quantitativo das coisas. Mas nós vimos que é impossível traduzir o qualitativo das coisas em quantitativo. Nesse processo eu eventualmente eu posso esquecer as qualidades. E alguns então começam a concluir que não existe qualidade. E daí passamos para coisas ainda piores. Você esquece o gato e passa a lidar só com aquilo que pode medir abstratamente do gato. É o bifurcacionismo.
- Uma posição arbitrária dos físicos, sem muita justificativa racional. Daí para uma concepção mecanicista do universo é um passo. Existem diversas situações na vida da pessoa que não são determinadas por quantidades.
- Se o qualitativo não existe e está na cabeça da pessoa, então é claro que a conclusão será que as coisas são avaliadas conforme o sentimento subjetivo. Se ela "sente" que tem que se dedicar mais ao trabalho, então ela faz isso, etc. Não há mais melhor e pior.
- E o interesse do pessoal da Confraria não é construir foguetes ou aparelhos elétricos, mas saber as coisas da vida, saber o que é um corpo, um animal, uma árvore.
- Edmund Husserl e a "Crise das Ciências Européias." A crise surge da tentativa de separar artificialmente a realidade. A confusão da ontologia com a gnosiologia. A decomposição na mente não é exatamente a mesma estrutura da realidade.
- S. Agostinho na Cidade de Deus faz muitas alusões a um conhecimento construído a partir das artes liberais e da história. "Um homem bom, ainda que seja escravo, é livre; um homem vicioso, mesmo que seja um rei, ainda assim é um escravo." Escravo dos seus vícios e limitações. Um escravo com muitos senhores.
- Quadrivium: quatro artes materiais, do mundo, do cosmos, que complementam as técnicas mais próprias do espírito, da alma, da mente. Foi ainda mais pervertido do que o trivium.
- Captar a natureza e depois de um certo modo agir sobre ela.
- É impressionante o nível de presunção que nós adquirimos com relação ao conhecimento e às artes dos antigos.
- Envolve aspectos empíricos. Isso significa que só tratamos de aspectos mensuráveis, etc? Não, pois Aristóteles já dizia que começa a Metafísica dizendo que a empeiria precede a arte, a technê, quando o sujeito já adquire o hábito de repetição e transmissão viva. Após isso, ainda há o estágio de ciência, o conhecimento das causas.
- Zero não é número.
- A beleza é o que faz a ligação, o que dá a unidade entre a sensibilidade e a inteligência.
- Vídeo: Nature by Numbers. De uma certa maneira, a matemática é o discurso que está por trás da realidade.
- Em cada ser, a matéria do mundo assumiu uma forma, uma estrutura.
- Sendo o quadrivium sendo um meio para alcançar o verum, a aletheia, o desvelamento, a possibilidade de poder enxergar, o amarelo (apresentação do Clístenes).
- Hoje chegamos ao ponto de pensar em "máquinas inteligentes", mostrando não saber nem o que significa "inteligência", nem o que significa "máquina."
- Se a matemática serve só pra abstrações, pra esse mecanicismo, ela necessariamente deve ser redutível a uma série de operações lógicas.
- A própria arte da lógica que chega ao séc. XX se tornou uma "ciência" cheia de problemas, porque foi sendo separada da realidade e das outras artes. A função da matemática era fazer contato com o mundo. Sem isso, os problemas filosóficos se multiplicam.
- "Física" para os antigos: o estudo da natureza como um todo. Todas as coisas que tem "peso, número e medida." (Sab 11, 20) Mas a Escritura também diz que "A Sabedoria edificou sua casa, talhou sete colunas" (Provérbios 9, 1).
- Pitágoras também é um personagem importantíssimo para a tradição das artes liberais, o mais mítico deles. O que nós recebemos dos pitagóricos é que na sua educação eles já haviam colocado um projeto de que as artes liberais, especialmente as do quadrivium, deveriam ser intermediárias. O verdadeiro "Ensino Médio".
- Platão adota isso. Segundo alguns, provavelmente o melhor discípulo que Pitágoras não teve. Para entrar na academia, era necessário ser um geômatra, que de certo modo resumia todo esse itinerário preparatório, com o trivium, etc.
- Um físico moderno diz que "o negócio é baixar a cabeça e calcular." Claro que não, é pra isso que serve o computador, não a mente humana. Não é por menos que não se acredita mais em existência de mente. A idéia de ordem espontânea a partir da desordem. Jogamos Deus fora e inventamos o Big Bang. Um problema ainda gramático, na verdade.
- Chaves e as estatísticas. Um exemplo de "lógica" e "matemática" separadas do senso da realidade.
- Hugo de S. Vitor no Didascalicon falando da sua adolescência: desde pequeno procurava se assegurar dos nomes dos objetos, estudava problemas, inventava distinções, tentando separar opiniões de verdades certas, boa oratória e sofística, e também investiu muitas horas calculando com pedrinhas, as diferenças entre figuras geométricas, observando à noite as estrelas, tocando o magdis grego (uma espécie de cítara de 20 cordas).
- Associa-se hoje A Matemática com matemática escolar. Mera repetição de exercícios, macaqueante.
- Nossa busca é pela episteme verdadeira, as causas profundas das coisas.
- A Física é particularmente representante das ciências da natureza. Quando falarmos de "Física" na Confraria não podemos pensar que estamos estudando a astrofísica ou física newtoniana, nem mecânica quântica.
- Todas as coisas naturais e sensíveis, todos os corpos, podem ser divididas em dois tipos: sujeito e predicado. As coisas que são sujeito: gato, árvore, pedra, pessoa, Renan, Bihre, das quais enumeramos diversos predicados. E os predicados: o Renan é baixo, o Bihre é alto, etc. Todos os predicados necessariamente vêm acompanhados de seus sujeitos. Nenhuma cor pode sequer ser imaginada sem uma superfície colorida, uma coisa, um corpo. O máximo que podemos fazer é imaginar tudo verde, como se o plano de fundo fosse uma superfície verde. Aí temos as substâncias e acidentes.
- Dentre os vários tipos de acidentes, dois particularmente importantes: "quanto" e "qual". Um gato tem 4 pernas, que são partes de um tudo, que é o gato. Este é justamente o assunto da aritmética. Uma quantidade é quantidade de uma coisa do mesmo tipo. 300 páginas de um livro são 300 cópias de uma página. Qualidade é o tipo. "Vermelho". Já a qualidade não pode se fazer apenas da soma das qualidades anteriores. Não podemos obter um vermelho vivo apenas a partir da adição de vários vermelhos desbotados.
- A partir do século XVII, a física passou a usar como método de desenvolvimento principalmente a aritmética. E para isso ela teve o máximo possível o aspecto quantitativo das coisas. Mas nós vimos que é impossível traduzir o qualitativo das coisas em quantitativo. Nesse processo eu eventualmente eu posso esquecer as qualidades. E alguns então começam a concluir que não existe qualidade. E daí passamos para coisas ainda piores. Você esquece o gato e passa a lidar só com aquilo que pode medir abstratamente do gato. É o bifurcacionismo.
- Uma posição arbitrária dos físicos, sem muita justificativa racional. Daí para uma concepção mecanicista do universo é um passo. Existem diversas situações na vida da pessoa que não são determinadas por quantidades.
- Se o qualitativo não existe e está na cabeça da pessoa, então é claro que a conclusão será que as coisas são avaliadas conforme o sentimento subjetivo. Se ela "sente" que tem que se dedicar mais ao trabalho, então ela faz isso, etc. Não há mais melhor e pior.
- E o interesse do pessoal da Confraria não é construir foguetes ou aparelhos elétricos, mas saber as coisas da vida, saber o que é um corpo, um animal, uma árvore.
- Edmund Husserl e a "Crise das Ciências Européias." A crise surge da tentativa de separar artificialmente a realidade. A confusão da ontologia com a gnosiologia. A decomposição na mente não é exatamente a mesma estrutura da realidade.
- S. Agostinho na Cidade de Deus faz muitas alusões a um conhecimento construído a partir das artes liberais e da história. "Um homem bom, ainda que seja escravo, é livre; um homem vicioso, mesmo que seja um rei, ainda assim é um escravo." Escravo dos seus vícios e limitações. Um escravo com muitos senhores.
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