João Bosco Leal*
Sempre achei que a mulher paulistana é, no geral, a mais elegante do país, principalmente porque nela, a qualquer momento e em qualquer lugar, podemos observar aquela máxima de que o menos é sempre mais. Passeando pela cidade na semana passada, observava o nítido contraste entre estas e as interioranas.
Enquanto a paulistana é uma mulher que nunca peca pelo excesso, facilmente podemos identificar a mulher do interior do país que, pelo contrário, peca pelo mais. São mulheres que se enchem de adereços como colares, anéis, pulseiras, pinturas exageradas, roupas espalhafatosas, utilizam mais do que o necessário e acabam, com isso, ficando vestidas de mau gosto.
Nota-se claramente a paulistana como uma mulher bem resolvida, autoconfiante, que com uma simples calça jeans, uma camisa masculina branca com as mangas arregaçadas e uma pintura discreta a ponto de parecer não estar pintada, está sempre bem arrumada, enquanto a outra, que pretende se passar por elegante logo demonstra que não é.
Desde a década de 70 quando lá residia para estudar sempre observei que as paulistanas, sem deixar de comprar produtos da melhor qualidade, sempre fazem suas compras em locais mais baratos e não tem sequer interesse em lojas mais badaladas, caras.
A mulher interiorana, por outro lado, por ostentação ou por ignorância, logo que chega à cidade procura se dirigir a lugares mais "na onda", como aquele que até pouco tempo era o maior templo de lojas de grife do país, também conhecido como um local cujos donos sempre estiveram envolvidos em escândalos com a receita federal por sonegação de impostos, o que provocou seu fechamento.
Procuro entender o que leva uma pessoa a esse comportamento, até porque muitas dessas pessoas mal possuem o dinheiro para pagar táxi que a levou até lá, quanto mais para frequentar locais onde todos os valores são exorbitantes.
Conheço muitas pessoas de outros locais do país que realmente possuem dinheiro, muito dinheiro, que não demonstram o menor interesse em fazer compras em um local como esse, que sequer os visitam quando estão na cidade, enquanto outras, com muito menos recursos ou com nenhuma posse, não admitem a idéia de ir a São Paulo sem passar por locais como esses ou como na famosa rua das lojas de grife, a Oscar Freire, mesmo sem nada comprar, mas para contar onde estiveram mostrando fotos em que aparecem sentadas num banco diante de uma de suas lojas e que a moda agora é isso ou aquilo.
Por diversas vezes vi pessoas deslumbradas com a ostentação de uma famosa e das mais antigas apresentadoras da televisão brasileira que usava anéis, pulseiras e colares de milhões de reais, valores inimagináveis para a grande maioria da população brasileira, que se encantavam ao vê-la usando essas jóias verdadeiras e depois buscavam usar bijuterias semelhantes.
Não é a imaturidade que leva pessoas a esse comportamento, até porque conheço pessoas com a idade já bem madura que muito ostentam, apesar de não possuírem nada. São pessoas que não cresceram, continuam crianças, dependentes, principalmente da opinião de terceiros.
Imagino como deve sofrer uma pessoa que para estar bem precisa mostrar que está e com isso torna-se fútil, vazia, enquanto outras que sabem quem são culturalmente, não precisam demonstrar nada, são autoconfiantes e por onde passam são assim reconhecidas.
*Jornalista e empresário
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